artigo recomendado

Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections
Mostrando postagens com marcador marxismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador marxismo. Mostrar todas as postagens

27 de janeiro de 2019

resenha de Marxismo como Ciência Social (Luiz Eduardo Motta)

[Marx And Engels Statues Re-Skinned 
& Re-Located: Various & Gould
http://bit.ly/2Wmjqle] 





resenha

Adriano Codato & Renato Perissinotto. Marxismo como ciência social.
por Luiz Eduardo Motta

Critica Marxista (São Paulo), v. 36, p. 189-191, 2013.


O livro de Adriano Codato e Renato Perisinotto Marxismo como ciência social, Curitiba, editora UFPR, 2011, premiado na ANPOCS como melhor Obra Científica de Ciências Sociais em 2012, veio sem dúvida a preencher uma importante lacuna no campo das ciências sociais do Brasil, sobretudo no tocante à ciência política: a ausência de obras teóricas sobre o Estado, e sobre os agentes políticos pela ótica marxista, haja vista a abundância de textos e livros que tratam dessa problemática pelo prisma do neo-institucionalismo. Como bem observa o cientista político e pesquisador do IESP, João Feres Jr. que escreveu a apresentação do livro, a teoria marxista a despeito de toda a sua riqueza conceitual constituída ao longo de 150 anos por meio de ricos debates teóricos, foi implodida com a crise do socialismo do leste europeu a partir da queda do Muro de Berlim em 1989, no qual o pensamento marxista foi intensamente (e injustamente) associado a esse fracasso.

O livro de Codato e Perissinotto soma-se ao livro de Armando Boito Jr. Estado, política e classes sociais como uma das raras análises sobre o Estado capitalista sob influência da teoria marxista de Louis Althusser, no que concerne à descontinuidade das obras científicas de Marx em relação às suas obras filosóficas de juventude, além da contribuição da teoria do Estado capitalista de Nicos Poulantzas. O fato de esse livro ter sido premiado pela ANPOCS demonstra que outros sinais no campo acadêmico têm emergido, haja vista que não é muito comum uma obra de teor marxista (sobretudo de corte althusseriano) receber um importante prêmio acadêmico, pelo menos no Brasil.

[continua...] clique aqui http://bit.ly/2Wll2f2


26 de janeiro de 2019

resenha de Marxismo como Ciência Social (Angelita Matos Souza)

[The Round Reading Room at the 
British Museum in around 1924. 
Photo: Donald Macbeth] 



resenha

Adriano Codato & Renato Perissinotto. Marxismo como ciência social.
por Angelita Matos Souza

BIB, São Paulo, nº 73, 1º semestre de 2012, p. 119-122.

Marxismo como ciência social, de Adriano Codato e Renato Perissinotto, recebeu o prêmio Anpocs de melhor obra científica em 2012 e consiste na reunião de nove artigos já publicados sobre Estado, política institucional e ação de classe em Marx e em alguns marxismos posteriores, como afirmam os autores na Apresentação. De início, defendem o marxismo como “uma ciência social normal”, cujos postulados deveriam ser entendidos como hipóteses passíveis de serem confirmadas ou refutadas. Ponto de vista esse que tornaria possível o diálogo “com as teorias sociais não marxistas ou explicitamente antimarxistas” (p. 227). Não se trata de uma obra fácil de ler e resenhar, tanto devido ao conteúdo teórico denso como ao distanciamento crítico  dificultado pelas lembranças que a leitura provocou: dos estudos de juventude e das conversas em torno ou por efeito das aulas do Prof. Décio Azevedo Marques de Saes, a quem o livro é muito justamente dedicado. Porém, resolvi arriscar abordando os capítulos com foco na temática da articulação entre as instâncias política e econômica. Tema central no livro, discutido, sobretudo, a partir d’O 18 Brumário de Luís Bonaparte e de um marcado interesse pela autonomia do mundo político – ao encontro da proposta dos autores: de diálogo entre marxismo e teoria das elites.

[continua...] clique aqui http://bit.ly/2ReTMek


.

14 de janeiro de 2019

resenha de Marxismo como Ciência Social (Ian Rebouças Batista)

[cabeça de granito de Lênin
retirada de Berlim em seu novo 
local de repouso na cidadela Spandau, 
um canto remoto de Berlim 
fonte: http://bit.ly/2Rr4ymx] 











Pesquisador do ODELA - Observatório do Estado Latino-Americano, da UFRGS, escreveu uma resenha de

Marxismo como ciência social. Curitiba: Editora UFPR, 2011.

Uma vez centro dos estudos sociais, políticos e econômicos brasileiros, principalmente enquanto enfrentamento acadêmico à ditadura militar, o marxismo encontra-se hoje à margem das ciências sociais na academia brasileira. Desde o fim da União Soviética e da queda do Muro de Berlim, a visão marxista de mundo passa a ser relacionada à autoritarismo, a erros de cálculos políticos e à pobreza, uma vez que a ruína do comunismo pós-Guerra Fria surgia “como prova (d)o sensacional naufrágio do socialismo real como sistema de vida e como forma de governo” (CODATO; PERISSINOTTO, 2011, p. xxxiii).

O esforço de Adriano Codato e Renato Perissinotto, no livro Marxismo como ciência social, é de revisitação e interpretação das obras “mais políticas” de Marx, Engels e da literatura marxista que se debruçou sobre “o político”. É reiterando o potencial explicativo marxista do político e dos fenômenos sociais de poder que Codato e Perissinotto fazem defesa de uma abordagem científica utilizando a teoria marxista. O raciocínio é que se existe uma maneira marxista de entender a política e as relações de poder na sociedade, essa maneira deve ser passível de demonstração e averiguação. Logo, tratar o marxismo como ciência social significa pôr a prova seus postulados.

Essa é a grande lição do livro. Para fortalecimento do marxismo dentro da academia, para além de ensaios e divagações meta-filosóficas, seus postulados devem ser entendidos como hipóteses testáveis, e não como pressupostos ou princípios.

[continua...] clique aqui http://bit.ly/2RvJF9R

9 set. 2018


5 de setembro de 2012

verbete "ideologia"

[fotografia: Rafael Bertelli
Curitiba, Brasil
16 jul. 2010]



Adriano Codato


Originalmente, a palavra “ideologia” designava apenas aquilo indicado por sua etimologia: uma ciência das ideias, ou o estudo científico das ideias (ide(o)- + -logia, no grego). O termo foi inventado pelo filósofo Destutt de Tracy (1754-1836), autor de Eleménts d’idéologie (1801). Pouco tempo depois, quatro outros significados, bastante diferentes desse primeiro, surgiram e emprestaram à expressão uma conotação crítica e negativa que a acompanharia até hoje.

Em princípio do século XIX, o imperador Napoleão Bonaparte (1769-1821) reprovou a atividade política dos “ideólogos” (o círculo de colaboradores do Institut Nationale, do qual fazia parte Destutt de Tracy). A ação reformadora desses pretensos estudiosos das ideias, inspirada nos ideais do Iluminismo francês, consistia, na realidade, na manipulação das ideias. Seu propósito seria edificar “um governo de homens sanguinários” (apud Thompson, 1995, p. 47). Como a doutrina dos ideólogos estava, segundo Bonaparte, em desacordo com as lições da História e o sentimento dos homens, tal como interpretados pelo próprio Bonaparte, “ideologia” passou também a nomear toda teoria abstrata, imaginativa, irrealizável na prática.

Na tradição marxista, o termo foi primeiramente utilizado por Friedrich Engels e Karl Marx em 1845-1846 para qualificar os pensamentos tomados enquanto entidades independentes da realidade material, enquanto juízos puramente especulativos, tal como ocorre nos sistemas de filosofia e na religião. Para essas formas de ideologia, é como se o mundo social pudesse ser reduzido a uma batalha imaginária de ideias, de “frases contra frases” (Marx e Engels, 1982, p. 1 054). Engels, mais adiante, já no fim do século XIX, agregou outro significado à noção de ideologia e ela passou a compreender todos os motivos falsos ou aparentes, todas as concepções ilusórias que concorriam para ocultar do próprio agente social suas condições materiais de existência e as contradições sociais nas quais estava obrigatoriamente enredado. Ideologia significaria aqui uma “consciência falsa”, por oposição a uma consciência verdadeira, não mistificada, que possuiria, ao contrário, uma percepção clara e distinta do modo de funcionamento do mundo social.

[continua...]

Referência:

CODATO, A. IDEOLOGIA. Teixeira, Francisco M. P. coord. DICIONÁRIO BÁSICO DE SOCIOLOGIA. São Paulo: Global Editora, 2012 (no prelo).
.

22 de agosto de 2012

verbete "representação"

[fotografia: Rafael Bertelli
Curitiba, Brasil
14 abr. 2009]



Adriano Codato


O termo “representação” possui dois sentidos distintos. O primeiro, mais próximo da tradição sociológica, refere-se a um conjunto de fenômenos sociocognitivos. O segundo, mais próximo da tradição dos estudos de Ciência Política, refere-se ao processo de transferência de autoridade entre agentes sociais: um ator político (um partido, um sindicato, um político de carreira) pode representar a vontade ou os interesses de outrem – isto é, falar ou agir em nome dele – mediante certos dispositivos formais ou institucionais.

Nesta acepção, o representante é um mandatário, um delegado, um procurador do representado. Quando se fala em “regime representativo”, é justamente essa propriedade que se ressalta. É o caso das modernas democracias: ao menos em tese, o mecanismo da representação política funciona como um dispositivo de controle dos representantes (os legisladores) pelos representados (os eleitores). Os primeiros falam e agem em nome dos segundos por um período de tempo determinado (um “mandato”) e podem ser substituídos através das regras pré-estabelecidas legalmente (eleições).

Do ponto de vista sociocognitivo, o termo “representação” indica um conjunto de fenômenos psíquicos, como sensações, imagens ou ideias. Uma representação consiste em uma reconstrução mental de objetos concretos, como, por exemplo, a imagem mental que fazemos de uma pedra e as sensações atribuídas à noção de pedra, como “dureza” ou “rispidez”. Além de indicar coisas observáveis, as representações também podem ser puramente ideais, sem um referencial concreto.

[continua...]

Referência:

CODATO, A. REPRESENTAÇÃO. Teixeira, Francisco M. P. coord. DICIONÁRIO BÁSICO DE SOCIOLOGIA. São Paulo: Global Editora, 2012 (no prelo).
.

23 de julho de 2012

Marx and the invention of post-capitalist politics

[A man walks inside of the crumbling oval skeleton 
of the House of the Bulgarian Communist Party, 2012. 
Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images] 


BOOK REVIEW
(Pogrebinschi, Thamy. 2009. O enigma do político. Marx contra a política moderna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira)

Adriano Codato[1]
A book that, with remarkable erudition, addresses politics and State in the immense theoretical work of Marx does not need many justifications nowadays.
If in the 1980s and 1990s Marxism was to philosophy, ideology and the official social science a definitely lost continent, the extraordinary volume of scholarly meetings, specialized publications, critiques and renewed translations of Marx’s works over the last ten years only confirm the rising interest in this theory, at least in Brazil (Boito Jr. and Motta 2010). Thamy Pogrebinschi’s book is part of this new wave and is eloquent testimony that the old social division of scientific labor, which split and hierarchically categorized the academic community in “producers of theory” (the French, British, Germans, Americans) and “consumers of theory” (the Latin-Americans), makes increasingly less sense.[2] Only that now this consistent and resolute university Marxism does not reign alone in the national intellectual scene as was the case during the glorious period between the late 1950s and the late 1970s (Ridenti  2010). Instead, it has to face strong competitors, in Brazil and abroad, as for example, an increasingly more methodologically sophisticated Political Science, an academically institutionalized Sociology and, especially, a Political Philosophy relentlessly posing ever more difficult questions that cannot be ignored, theoretically and empirically. These questions range from multiculturalism to feminism; from egalitarianism to libertarianism; from the politics of recognition to communicative action; from a theory of justice to the new democratic forms of participation and deliberation. That is why it is not only impossible but useless to counter all these subjects merely with some ideological manias that excited generations of Marxists throughout the 20th century: the triumphalism of the October revolution, the apocalyptical pessimism of the Critical Theory, the optimism in face of the counter-hegemonic strategies, confidence in Eurocommunism, and the renewal of the western communist parties.
Thamy Pogrebinschi’s essay on the “enigma of the political” in Marx’s thought seems to build precisely on the current stage of contemporary Political Theory and, in particular, on the Democratic Theory, to propose a much more ambitious question: once the social revolution is accomplished and the modern State and its representative and governance institutions have been superseded, how should, according to Marx himself, politics be in the communist society? (p. 18-19). The answer that will arise thereof, Thamy believes, “may allow a change of perspective in the way political theory is conceived of and done today” (p. 22). After all, Marx would have known, since his first writings, how to foresee problems and anticipate the solutions for the contemporary crisis of political representation (p. 259).
To think like Marx thought of politics after the end of politics is to reflect upon what the political should be. In the philosophical language that the author borrows from the young Marx, to discover the Marxian formula for the organization of men in the society of the future is to try to say which would ultimately be the essence of the political – that is, the essence of that world where the State is no longer separated from society and where society does not know alienation, contradiction, and domination. The whole discussion is hinged on a host of hypothesized norms, strewn across the entire theoretical work produced by Marx, the essay patiently attempts to rebuild.
This project imposes two tasks upon the commentary on Marx that must be conducted concomitantly, something which is also a source of great complications: in order to reveal which would be the post-capitalist political structures and how they would function it is necessary, at the same time, to discover the categories that, drawing on Marx himself, would make it possible to think of such structures. Or, for another: if the notions of modern State, civil society, class, “real, active men” (the expression employed by Marx and Engels in The German ideology), and domination work adequately in the Marxian theoretical discourse on pre-communist societies, in order to understand the communist society it is necessary to think in radically new terms. It is necessary to think in terms of community, association, individual, human essence, and emancipation. In such a world, modern politics would be replaced by “true democracy”. Thus, in place of State authority, there would be self-determination; in place of political representation by professional politicians, self-government; and in place of bureaucratic despotism, autogestion. Read like that, the book’s goal is, at first sight, to discuss the institutional genesis and concrete functioning of the political structures of a social world redeemed by the Revolution. But it is not exactly like that. The author warns the reader that at the core of her analysis is the concept of democracy. Not the really existing (capitalist) democracy, nor the potentially attainable (communist) democracy. Engels himself emphasized that, in discussing such matters, “We are not talking about the things which belong to the nineteenth century, and which are bad and ephemeral, but about categories which are eternal and which existed before ‘the mountains were brought forth’ [...]” (p. 209). This is, in short, the essence of democracy. And theorizing about it is theorizing about what the political proper should be in the post-capitalist society.
The awkwardness of any reader of Marx in face of this singular passage is not unjustified. Eternal categories? Essences? Yet, doesn’t this insistence on reading Marx on the basis of concepts rather than of the “things” of the real social world betray the very spirit of the theory? A theory, after all, that has always insisted on denouncing the illusion of the natural, the eternal, and the universal? The operation of converting Marx into a “political philosopher” has its setbacks eventually. As Thamy makes Marx talk about what should be (and not about what is), she seems to subvert the foundational principle that is at the root of the Marxian judgment itself: the social conditions of the possibility of the possible world.
The book is organized into four considerably long chapters, each one addressing the theme of the organization of ideal power– and not the traditional theme of the taking over of real power – on one hand. The first chapter discusses the end of the State; the second, the society resulting thereof (the “real community”); the third, its peculiar mode of political organization; and the fourth chapter, the scope of the political for Marx: human emancipation. Within the limits of this review I intend to comment only on the question of the new form of political coordination of the human community or that which Marx, Engels, and Lenin later on will designate as “true democracy”, by opposition to the really existing democracy in the West in the 19th century.
The enigma of the political builds on three controversial assumptions established by the author: i) that Marx’s work is a coherent system of ideas (that is, assumptions, theses, concepts) and the division that was established between a “young Marx” and a “mature Marx” (Althusser 1965) is extravagant and arbitrary (as indeed was held, among others, by Cerroni (1973)); ii) that it is necessary to get rid of the Marxist tradition (its epigones, its aficionados, and its interpreters) in order to be able to have access to the true sense of the Marxian text (along with Althusser (1965); Rubel (1974); Preve (1984), etc.); and iii) that the guiding thread in Marx’s work is not the fundamental contradiction between Capital and Labor (that is, his Political Economy), or between productive forces and relations of production (his Philosophy of History), but the opposition between State and Civil Society, such as approached in his critique of Hegel. It is this opposition that provides the cornerstones for his Political Philosophy and allows us, by connecting the two ends of his work, to decipher him. Marx’s entire theoretical, political and ideological forty-year-long journey only led him to the starting point: the radical democrat (Saes 1994) would be hiding in the revolutionary socialist, just like the boy in the man. Hence the strategic interest of the first writings for an accurate understanding (along the same line adopted by Colletti (1969a; 1969b), for example). And, it is assumed, to evaluate the dimension of his actual contribution.
These three points call for a brief commentary. It is not the case of recuperating herein the problems implicated in the history of the theoretical formation of Marx’s thought and its canonical periodization. Several critics have already drawn attention to the misguided understanding that postulates, as Althusser (1999, 9) postulated, the existence of a “radical” difference between the texts written before The German ideology, still captive of philosophy and, especially, of Hegel’s German idealism and Feuerbach’s idealist materialism, and the machinery of scientific concepts, like mode of production, relations of production, productive forces, and so on, employed in The capital. The existence or not of an “epistemological rupture” (Althusser 1965, 25) between the two Marxs is a dispute that would take us too far. Still, if Thamy would rather not reintroduce this discussion and division, it would at least be necessary to demonstrate more than the existence of a “strong relation” between the earlier and the later texts written by Marx, lest we forcefully identify, behind the same words, the same ideas.[3] Even though Marx resorted, in a book like The Eighteenth Brumaire, to the same terms employed in the pamphlets of the New Rhine Gazette (“State”, “civil society”), both their sense and function in this theoretical discourse are at the moment of the drafting of the essay on the coup against Bonaparte, fundamentally different.[4] We might say, as indeed the author himself did in his Preface to the Critique of political economy, that the more adjusted terms from now on to explain the social world should be “superstructure” and “infrastructure”; and that between these two elements there is no opposition, as argued in his critical review of Hegel’s philosophy of right, but a concrete interconnection; and, finally, that it is the interconnecting principles of this social totality (determination, discrepancy, correspondence, conditioning) that allow us both to distinguish the distinct historical modes of production and to explain their forms of reproduction and transformation.[5]
The other proposition calling for a commentary is that advocated by Thamy concerning the “incompatibility of all political and ideological Marxism with the teachings of Marx”, to speak as Maximilien Rubel. This stance has the advantage and the disadvantage of sparing Thamy from debating a key theme – what politics would be like in the communist world – with the vast literature that Marxists and Marxologists have produced in that regard. Yet, that is not exactly what we read in this enticing book. Not only does Thamy correct formulations based on misguided translations of fundamental terms for Marx and advances new interpretations of read and reread passages from which she extracts a political moral which is quite different from conventional communist orthodoxy, but also she actually chooses two interlocutors to dialogue with: Abensour (1998) and Avineri (1968). It is in relation to their formulations (at times against them, others, in favor) that she will explain how Marx actually thought of the political organization of a classless society, its virtues and foundations. According to Thamy Pogrebinschi, and this is her main thesis, this is the angle that should be favored if one wishes to unravel the enigma of the political in the Marxian work.
A long time ago Norberto Bobbio drew the Marxists’ attention to the exaggerated importance they assigned to the “famous, at times, too famous, indications that Marx extracted from the Commune [of Paris] and which had the fortune of being exalted (but never attenuated) by Lenin” (Bobbio 1979, 31). The indelible effect thereof was to rid them of the obligation of predicting and thinking, effectively, the shape and functioning of political institutions under socialism (“dictatorship of the proletariat”) and under the society without State (communism) (Bobbio 1983). Actually, continues Bobbio (1979, 31), “Marx had no intention of providing prescriptions with those few formulas [about the experience of the Paris Commune] for the future and only the abuse of the principle of authority [...] transformed five or six theses into a Public Law treatise”.[6]
The enigma of the political does not fall into that trap. This is not about evoking the famous five or six theses, nor is it about evoking what Engels, Kautsky, Rosa, Lenin, and others said. Thamy Pogrebinschi reconstructs, with all the confidence that a sound knowledge of Marx’s various writings on the subject enables, his set of political principles regarding the political form that would succeed the dictatorship of the proletariat. But what are the characteristics of this true democracy? Thamy lists a dozen distinctive features of this peculiar form of life which has (or intends to have) the capacity to solve the paradoxes of “modern” (i.e., capitalist) politics.[7]
True democracy, the paradigm of all forms of government, would abolish the separation (“alienation”) between man and political structure. It would not be the outcome of juridical fiction (the “social contract” as a product of “individual wills”), but a real expression of “the people’s lives”, based on the activity of real human beings and not on abstract subjects of rights. Hence the difficulty in capturing its final form in a fixed set of political institutions – and, therefore, the difficulty of the Marxists in coming up with the ideal prescription for the ideal political regime. Rather, true democracy would presuppose a set of social precepts: those who manage the community politically would be the same ones working in it productively, the social division of labor would have disappeared, work itself would not be commanded by necessity, human action would have to be the very expression of freedom, each one’s development would lead to the other’s development and the development of all, to the development of the community.
That accomplished, “popular sovereignty” (that is, the constituent power formalized in a Constitutional Charter, another legal fiction) would give place to community self-determination, “active citizenship” of sorts, where all is political or, for another, where there are no individual, personal, private activities but, rather, public roles, functions, insofar as all the social practices of the individuals ultimately concern the collective management of the community, the administration of things ordinary. As in classical democracy, the political participation of men would be associated with their social existence.
In this new world, self-government would replace political representation, mandate, and mediation, since there would exist a kind of “synchronicity and completeness of the relation between the parts and the whole” (p. 230). The best image to represent this fantasy would be that of the orchestra without the conductor. Each musician would tune her/his instrument in harmony with the other instruments and the correct pitch and tempo would be defined by the whole as a whole. Thus, the adequate category to envisage the functioning of this peculiar democracy should not be decision or deliberation, but interaction. Government itself is no longer a political question (entailing thus power, prestige, hierarchy and domination), but rather a mere administrative question, depending on the workers’ cooperative’s management model.
Even without explicitly formulating a theory of the future form of government, Marx provides some indications of the political institutions of this true democracy. Or of what should not exist as political institution. As political and social power cannot be separated from the community, transferred to a representative, and is much less monopolized by some, the very legislative function would have to be carried out by all (a different problem, as can be seen, from the imperative mandate, valid for the transition period, not for communism). Therefore, there would be no need for suffrage, nor would there exist professional politicians, political parties, and a Legislative Branch, an institution specializing in the task of filtering interests and drafting bills. Indeed, there would not even be the traditional separation between legislative and executive work, since those who legislate must also test in practice the efficacy of the legislation.
In sum, true democracy for Marx, according to Thamy Pogrebinschi, is neither a form of State, nor a form of government, much less a system of government. True democracy is the rejection of all the forms, principles and institutions of liberal democracy and, specifically, the rejection, and not merely the correction, of its deadlocks – a lack of representativeness of the elected, lack of enthusiasm of the voters, irrelevance of the parliaments, the arrogance of the Executive Branch and its bureaucracy, decadence of the role of the political parties as spheres for political socialization. Instead of all that, Marx bets on a radical, direct, active and profoundly humane democracy, since it is tied to the practices and experiences that constitute true human beings, as redeemed from exploitation, alienation, and domination.
What should we make of all this? When one bears in mind the historical memory of totalitarianisms, fanaticisms grounded in purported general wills or even less solemn, though equally troubling, problems as, for example, the inevitable tendency toward an oligarchy of partisan organizations (Michels), the dilemmas of collective participation and of mobilization (Olson) or even the inevitable transformation of traditional forms of political socialization (Manin), Marx’s political imagination seems to have solved all that still needs solving.[8]
It is rather far-fetched to hold that Marx’s fantasies about politics in the communist society enable us to solve the problems and deadlocks of the Democratic Theory, especially the dilemma of representation (the question regarding the control over elected representatives, the problem of the development of merely corporatist concerns by the caste of professional representatives, the contradiction between the aspiration of professional politicians to be representatives of the general interest and their reality as advocates of private interests, and so forth.). Nonetheless, one of the great merits of Thamy Pogrebinschi’s book is to establish a new boundary for mainstream Political Theory, or rather, a new set of themes and a huge constraint with which it is necessary at least to dialogue. After all, if we accept (at least as an intellectual exercise) the Marxian critique of the fiction of the very principle of representation in the liberal society, about the inefficacy of suffrage and the impossibility of capitalist democracy to promote “true democracy”, then the whole contemporary debate about guaranteeing political rights to minorities, about the need to promote ever more “participation” of stakeholders in public decisionmaking or about the value of free, rational, and critical communication between men loses great part of its sense. As summarized by Thamy, the Marxian lesson is: there is no improving liberal democracy without questioning the normative assumptions and institutional mechanisms on which this political form is founded. Thus, more (liberal) democracy is more of the same: a medicine that runs the risk of worsening the patient’s situation. Moral: to disregard Marx is absolutely not advantageous to any political scientist.


Bibliographical References
Abensour, Miguel. 1998. A democracia contra o Estado: Marx e o momento maquiaveliano. Belo Horizonte: Editora UFMG.
Althusser, Louis. 1965. Pour Marx. Paris: F. Maspero.
___. 1999. A querela do humanismo. Crítica Marxista (São Paulo), 9.
Avineri, Shlomo. 1968. The social and political thought of Karl Marx. Cambridge: Cambridge University Press.
Benoit, Alcides Hector, and Jader Antunes. 2009. Crise: o movimento dialético do conceito de crise em O capital de Marx. São Paulo: Tykhe.
Bobbio, Norberto. 1979. “Existe uma doutrina marxista do Estado?”. In O marxismo e o Estado, N. Bobbio et al.. Rio de Janeiro: Graal.
___. 1983. Qual socialismo? Debate sobre uma alternativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Boito Jr., Armando, and Luiz Eduardo Motta. 2010. Marx in Brazil. Socialism and Democracy, 24 (3): 155-160.
Boito Jr., Armando et al. eds. 2000. A obra teórica de Marx – atualidade, problemas e interpretações. São Paulo: Xamã.
Borón, Atilio A. 2007. “Teoria política marxista ou teoria marxista da política”. In A teoria marxista hoje. Problemas e perspectivas, ed.  Javier Amadeo and  Sabrina Gonzalez. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO).
Cerroni, Umberto. 1973. Teoria politica e socialismo. Roma: Riuniti.
Chasin Jose. 2009. Marx: estatuto ontológico e resolução metodológica. São Paulo: Boitempo.
Codato, Adriano, and Renato Perissinotto. 2011. Marxismo como ciência social. Curitiba: Editora UFPR.
Colletti, Lucio. 1969a. Ideologia e società. Bari: Laterza.
Colletti, Lucio. 1969b. Il marxismo e Hegel: materialismo dialettico e irrazionalismo. Bari: Laterza.
Colliot-Thélène, Catherine. 1984. Le materialisme historique a aussi une histoire. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 55: 15-21.
Fausto, Ruy. 2002. Marx: lógica & política. Tomo III: Investigação para uma reconstituição do sentido da dialética. São Paulo: Editora 34.
Frederico, Celso. 2009. O jovem Marx: 1843-1844 – as origens da ontologia do ser social. São Paulo: Expressão Popular.
Giannotti, José Arthur. 2002. Certa herança marxista. São Paulo: Cia. das Letras.
Luporini, Cesare. 1979. “Le Politique et l’Étatique: une ou deux critiques?”. In Marx et sa critique de la politique, Étienne Balibar, Cesare Luporini and André Tosel,.. Paris: Maspero.
Magalhães, Fernando. 2009. 10 lições sobre Marx. Rio de Janeiro: Vozes.
Naves, Marcio Bilharinho. 2000. Marx: ciência e revolução. São Paulo/Campinas: Moderna/Editora da Unicamp.
Netto, José Paulo. 2011. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo: Expressão Popular.
Paulo, João Antonio de. 2010. O ensaio geral: Marx e a crítica da economia política (1857-1858). Belo Horizonte: Autêntica.
Preve, Costanzo. 1984. La filosofia imperfecta. Una proposta di ricostruzioni del marxismo contemporaneo. Milano: Franco Angeli.
Ranieri, Jesus. 2011. Trabalho e dialética. Hegel, Marx e a teoria social do devir. São Paulo: Boitempo.
Ranieri, Jesus. 2001. A câmara escura. Alienação e estranhamento em Marx. São Paulo: Boitempo.
Ridenti, Marcelo. 2010. Brasilidade revolucionária: um século de cultura e política. São Paulo: Unesp.
Romero, Daniel. 2005. Marx e a técnica: um estudo dos manuscritos de 1861-1863. São Paulo: Expressão Popular.
Rubel, Maximilien. 1974. Marx critique du marxisme. Paris: Payot.
Saad Filho, Alfredo. 2011. O valor de Marx. Campinas: Editora da Unicamp.
Saes, Décio. 1994. Do Marx de 1843-1844 ao Marx das obras históricas: duas concepções distintas de Estado. In Estado e democracia: ensaios teóricos,  Campinas: IFCH/UNICAMP.
Sampaio, Benedicto Arthur, and Celso Frederico. 2006. Dialética e materialismo: Marx entre Hegel e Feurbach. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.
Teixeira, Francisco, and Celso Frederico. 2010. Marx, Weber e o marxismo weberiano. São Paulo: Cortez.
Trindade, José Damião de Lima. 2011. Os direitos humanos na perspectiva de Marx/Engels. São Paulo: Alfaomega.




[1] Adriano Codato (adriano@ufpr.br) is professor of Political Science at the Federal University of Paraná (UFPR). Professor Codato is also editor of the Sociology and Politics Review (www.scielo.br/rsocp) and coordinator of the Observatory of Brazilian political and social elites (http://observatory-elites.org/).
[2] Boito Jr. and Motta (2010) list over ten books that have been published since 2000 only on Marx’s theoretical work: Boito et al. (2000); Naves (2000); Ranieri (2001); Fausto (2002); Benoit and Antunes (2009); Giannotti (2002); Romero (2005); Sampaio and Frederico (2006); Chasin (2009); Frederico (2009); Magalhães (2009); Paulo (2010). The list could be more extensive if we included, building on a random sample, the works of Teixeira and Frederico (2010); Netto (2011); Ranieri (2011); Saad Filho (2011); Trindade (2011) and Codato and Perissinotto (2011).
[3] When we consider the problem of politics and the State, says Thamy, “even though some concepts were formulated as enigmas in texts written in 1843 and 1844” (namely, the Critique of Hegel’s philosophy of right, On the Jewish question and the Economic and philosophic manuscripts of 1844), “the solution they contain can only be fully understood by examining texts dating to 1871 [The civil war in France] and 1875 [Critique of the Gotha Programme]” (p. 25).
[4] Actually we may say that the use of these words has a purely descriptive sense (Luporini 1979, 91-102) and, to a large extent, anachronistic (Colliot-Thélène 1984).
[5] One of the main theses defended by Marx in The eighteenth brumaire is that there is a necessary relation of correspondence between the political and the social, more precisely, between the capitalist State and the capitalist economy. This correspondence is historical and is instrumental to the reproduction of the mode of social domination.
[6] The answer by Atílio Borón to Bobbio’s censorship is yet further evidence of the Marxists’ “incorrigible defect” (Bobbio 1979): to invoke the principle of authority instead of argumentation and demonstration: “To assume that authors of the stature of Engels, Kautsky, Rosa Luxemburg, Lenin, Trotsky, Bukharin, Gramsci, Mao, among so many others, were incapable of enriching [...] the theoretical legacy of the founder of Marxism in the domain of politics – or to provide some new ideas in case Marx had not produced anything at all on this terrain – is no more than a symptom of how deeply rooted certain anti-Marxist prejudices are in political philosophy and in social sciences as a whole, and against which not even a superior talent like that of Bobbio was adequately immune” (Borón 2007).
[7] A peculiarity of Thamy Pogrebinschi’s theorizing that should not be overlooked is the revealing replacement of the word ‘capitalism’ (with all it describes in Marx) by the word ‘modernity’ and its variations: in place of the ‘capitalist State’ or ‘bourgeois State’, the ‘modern State’(Weberian) formula; instead of ‘capitalist ideology’, ‘modern political imaginary’; and so forth. At a certain point Thamy Pogrebinschi herself judges it necessary to recall that “I had always taken it for granted the assumption that the [Marxian] critique of the modern State is identified with the critique of capital” (p. 262). That said, the author seeks to interconnect certain notions. For example, State and political representation would be capitalism-derived political forms (p. 263). However, at least in my reading, the necessary interplay between political and economic forces is not demonstrated, as well as how the latter are indispensable for understanding the former – at least for a materialistic interpretation of social history.
[8] In this regard, it is at least curious that Thamy Pogrebinschi, always so perceptive of the latent sense and of the potentiality both critical and revealing of Marx’s sentences, has not discussed the “solutions” that he presents to the practical problems of exercising “true democracy”. In his analyses of Bakunin’s book Statism and anarchy, Marx anticipates, in an imaginary dialogue between both, which would be Bakunin’s main objections to the democracy defended by the communists. It is worth citing a passage of this hypothetical discussion. Readers should take their own conclusions. Speaking about the political desires of the supporters of the socialist movement, Bakunin would have said, still according to Marx, (Bakunin) “So the [practical; included by Adriano Codato] result is: conduction of the great majority of the people by a privileged minority. But this minority, the Marxists say... (Marx) Where? (Bakunin) ...will be made up of workers. Certainly, with the permission of the old workers, who, nonetheless, no sooner have they become representatives or rulers of the people, are no longer workers. ... (Marx) Just like a factory owner today is no longer a capitalist once he becomes a municipal councilor... (Bakunin) and despise, from the height of the State, the whole ordinary world of the workers. They will no longer represent the people, but rather themselves and their bids for the people’s government. Anyone who may doubt this knows nothing about human nature”. (p. 236)
 .

25 de dezembro de 2011

marxismo como ciência social

[capa: Joana Corona] 

Adriano Codato, Renato Perissinotto.
Marxismo como ciência social. Curitiba: Editora UFPR, 2011.

A compilação dos textos que compõem esta coletânea está bem longe da busca do marxismo puro e duro ou do “verdadeiro Marx”.

Essa miragem filosofante, responsável por parir no século XX tantos marxismos quantos analistas disponíveis, implicou em uma glorificação desmedida do autor e praticamente só isso. As ideologias teóricas que surgiram daí, cujo efeito foi encerrar a discussão e não permiti-la, criaram uma série de campos de força que dividiram artificialmente as ciências sociais em “Sociologia burguesa”, de um lado, e Teoria Marxista, de outro. A primeira, supostamente derivada de uma epistemologia positivista e de uma metodologia empirista, foi condenada e banida por sua inexplicável ignorância da dialética materialista.

Não é só um pouco desconcertante quando uma descobre a outra. O prejuízo contabilizado por essa separação bizantina, que parece ter mais a ver com as vantagens simbólicas que cada partido teórico retira dessa luta ideológica, implicou no isolamento provinciano de ambas as partes – e ele foi muito mais prejudicial ao marxismo acadêmico.

Este livro parte dessa presunção. Deixando de lado a política revolucionária e os pouquíssimos escritos que se incumbiram de falar do mundo pós-capitalista e da estratégia dessa reengenharia social, os ensaios reunidos aqui pretendem tomar o pensamento de Marx como uma ciência social normal. Essa postura implica numa compreensão diferente dos textos canônicos, mais interessada nas suas operações analíticas do que na monumental parafernália teórica sobre a qual se apoiam. Além disso, assume, para todos os efeitos, que os postulados do marxismo devem ser entendidos como hipóteses, não como princípios; e hipóteses são por definição verificáveis, ou seja, passíveis de serem confirmadas – ou refutadas. Só assim os estudos marxistas conseguirão deixar de ser o que frequentemente tem sido: ilustração de teoria.

para ler a Apresentação,
clique aqui
para comprar o livro
acesse www.­editora.­ufpr.­br
.

14 de fevereiro de 2011

marxismo acadêmico e marxismo político

[Agave, 1985
Arizona, EUA
Luiz Carlos Felizardo.
Pirelli/MASP] 



ex-diretores da revista crítica marxista propuseram a um grupo de colaboradores a seguinte questão:

- quais deveriam ser as características centrais e o perfil de uma revista teórica marxista que esteja à altura dos desafios intelectuais e políticos postos pelo século XXI? 
Adriano Codato: "A pergunta proposta sugere ao menos três dificuldades a serem enfrentadas por um periódico autonomeado “marxista”: 1) o lugar e a função do conhecimento teórico nessa tradição; 2) o papel político e cultural dos intelectuais marxistas na conjuntura presente; e 3) a serventia de uma revista universitária que pretende difundir o marxismo (também, ou principalmente, em função de sua audiência) como teoria social.

Como um meio para refletir sobre e fazer avançar o marxismo teórico, a publicação não pode deixar de buscar, selecionar e editar artigos que pretendam reinterpretar os textos clássicos dos clássicos do marxismo.

Mas esse trabalho exegético só terá sentido se mais adiante os achados aí presentes resultarem em conceitos de médio alcance, noções operatórias, estratégias analíticas para serem utilizados numa ciência social empírica. Esse é, a meu ver, a principal contribuição política e cultural que os intelectuais marxistas podem dar na conjuntura presente.

Nesse sentido, estamos bem longe da busca do marxismo puro e duro ou do “verdadeiro Marx”.

Essa miragem filosofante foi responsável por parir, no século XX, tantos marxismos quantos analistas disponíveis. As ideologias teóricas que surgiram daí, cujo efeito foi encerrar a discussão e não permiti-la, criaram uma série de campos de força que dividiram artificialmente as ciências sociais em “Sociologia burguesa” e Teoria Marxista.

O prejuízo contabilizado por essa separação bizantina, que parece ter mais a ver com as vantagens simbólicas que cada partido teórico retirou (e retira) dessa luta ideológica, implicou o isolamento provinciano de ambas as partes – e ele foi, penso eu, muito mais prejudicial ao marxismo acadêmico. A redescoberta do pensamento de Marx nos últimos anos em alguns círculos intelectuais e sua nova popularidade (novos periódicos, novas traduções, vários encontros científicos, reedições de textos, etc.) parece, todavia, refletir e repetir os mesmos defeitos. Seja como convicção partidária, seja como ideologia universitária, supõe-se, em geral, que os textos clássicos dos clássicos do marxismo (Marx, Engels, Lênin, Gramsci) já fornecem uma teoria auto-suficiente da sociedade.

Ora, uma revista como Crítica Marxista será tanto mais relevante --- em termos políticos e culturais – se ela conseguir apresentar justificações críveis para tomar o pensamento de Marx como uma “ciência social”. E isso em dois sentidos: (i) como um tipo de conhecimento sociológico, e não apenas como uma teoria normativa e/ou uma visão social de mundo; e (ii) como um gênero interpretativo, que consiste em conectar as ações e instituições políticas à sua dimensão social (combatendo, nesse sentido, o politicismo das análises da corrente dominante).

Essa postura implica assim uma compreensão diferente dos textos de Marx, mais interessada nas suas operações analíticas do que na monumental parafernália teórica sobre a qual elas se apóiam. São essas operações analíticas que podem ajudar a formular estratégias intelectuais para conectar microevidências à macroteoria e propor conceitos de médio alcance para colaborar na pesquisa social".
.

31 de janeiro de 2011

o espaço político segundo Marx

[São Paulo, 1990
Cristiano Mascaro.
Pirelli/MASP] 




publicado em Crítica Marxista (São Paulo), n. 32, 2011.


Sustenta-se neste artigo que a análise das obras históricas de Marx permite afirmar que o espaço político não é um “campo” (de lutas sociais por posições estratégicas), nem um “sistema” (de instituições funcionalmente integradas), nem, no sentido mais convencional, uma “estrutura jurídico-política” (apreensível através dos seus efeitos de classe no mundo social). O espaço político pode ser concebido, pelo marxismo clássico, como uma “forma” cujas propriedades são análogas às da forma-mercadoria. A consequência fundamental disso é que a política prática não pode ser apreendida nem analisada como uma aparência social. Daí a inadequação da expressão “cena política” para descrever a visão de Marx sobre o modo de funcionamento do mundo político.

para ler o artigo completo,
clique aqui 

.

17 de dezembro de 2010

Marx e seu legado para a teoria contemporânea do Estado capitalista

[The Eleventh
V. Stenberg,
A. Stenberg, 1928] 

Renato Perissinotto
Adriano Codato




Resumo:
O objetivo do ensaio é identificar no 18 Brumário de Luís Bonaparte (1852) algumas ideias intuídas ou esboçadas por Marx e que se tornaram fundamentais para o estabelecimento e o desenvolvimento da teoria marxista do Estado nos anos 1960/1980. A questão aqui é saber como os avanços realizados por Marx no domínio da sua concepção geral sobre o Estado foram na realidade comprometidos pelos exageros funcionalistas cometidos pelas teorias do Estado capitalista contemporâneo. O fato é que – e esse é o argumento principal – os neomarxistas tenderam a confundir definição funcional do Estado com explicação funcional dos papéis do Estado para a reprodução do sistema social. Na conclusão, retomamos esse problema à luz da discussão sobre a tradicional oposição na teoria social entre estrutura e ação.

clique aqui para baixar [pdf]
.

30 de novembro de 2010

o modo teórico de produção teórica

[Rothko] 

Nesta comunicação, formulo um argumento sobre as razões explícitas e sobre as razões implícitas da proverbial complicação dos escritos de Poulantzas, insistindo, e esse é o problema central que desejo destacar, sobre a influência que os procedimentos e os pressupostos da filosofia impõem à prática teórica dos marxistas no âmbito das ciências sociais.

O ponto aqui é antes sugerir que demonstrar que a forma de redação dos textos de Poulantzas é menos uma questão do “estilo” do autor (o vocabulário incomum, a fraseologia arrevesada, a falta de clareza de certos conceitos e a desorganização dos argumentos); ou mesmo uma questão do “nível” do discurso (um discurso necessariamente abstrato para tratar de problemas abstratos); e sim uma questão do “tipo” de “ciência social” defendida e praticada pelo estrutural-funcionalismo francês como um todo (Althusser, Balibar, Badiou, etc.).

A hipótese é que a prosa filosofante característica desse gênero de marxismo encurrala e encerra o discurso e a prática sociológica em três mundos, que os dirigem e passam a defini-los: i) a política, ii) a teoria e iii) as lutas políticas no domínio exclusivo da teoria. Invertendo a formulação de Althusser (“a filosofia é luta de classes na teoria”), creio que se deveria dizer que essa teoria é, antes de qualquer coisa, um produto da luta teórica no domínio da filosofia (marxista).

Meu argumento central é o seguinte: esse gênero de “ciência social” que Poulantzas exemplifica tira proveito da fusão do discurso político com o discurso científico sob a proteção e a garantia do discurso filosófico. Essa é a razão do alegado teoricismo de Nicos Poulantzas, cujo efeito (e não a causa) é um dialeto abstrato. A causa fundamental dessa forma de conceber o trabalho teórico e a prática científica está, antes de qualquer coisa, na recusa dos procedimentos convencionais da ciência convencional. 

para ler a versão
completa, clique aqui [pdf]
.

14 de setembro de 2010

Marx político I

[alexandre mancini.
dois triângulos] 

[sobre a publicação de
O 18 Brumário de Luís Bonaparte]



Adriano Codato

Como a maior parte dos textos não econômicos de Marx, O 18 Brumário tem uma história acidentada e uma reputação tardia.
Ele foi escrito, na forma de sete artigos, entre dezembro de 1851 e março de 1852, a partir da solicitação de Joseph Weydemeyer para um semanário político norte-americano, Die Revolution. Após alguns contratempos, Marx cogitou oferecê-lo ao New York Daily Tribune e o volume só saiu meses depois, na primavera de 1852, graças à colaboração de vários amigos, dentre eles um alfaiate emigrado de Frankfurt a Nova Iorque que investiu suas economias na recém-criada revista mensal de Weydemeyer.
O periódico teve sua edição suspensa já no número dois por razões orçamentárias. A tiragem desse primeiro número – em que o título do livro figurava erroneamente como “Der 18te Brumaire des Louis Napoléon” [sic] – ficou entre 500 e 1 000 exemplares, não se sabe bem. Em julho de 1852 Marx recebeu apenas três exemplares como autor e em outubro outros 130, que, em função da censura política, teriam uma divulgação bastante precária e clandestina na Alemanha (cf. Rubel, 1994b, p. 1359-1360; e 18 Br., p. 433).
De fato, a obra só pôde ser mais bem conhecida a partir da sua segunda edição.
Publicada em Hamburgo em julho de 1869 por Otto Meissner, o mesmo editor de O Capital, o escrito saiu com o título corrigido e algumas supressões em relação ao conteúdo original. A edição francesa do livro, estabelecida por Maximilien Rubel, anota entre colchetes as passagens modificadas por Marx, que se incumbiu de informar o leitor que as havia realizado porque certas alusões a fatos e feitos da época “não seriam mais inteligíveis hoje em dia” (18 Br., p. 434).
Rubel conta que Marx havia tentado republicar o texto, sem sucesso, já em 1852, depois em 1856 e novamente em 1865. Também haviam fracassados os projetos de traduzir o trabalho para o francês e o inglês. O 18 Brumário só sairia em Lille em 1891. Não pude estabelecer ao certo a data da primeira edição em inglês. Nos EUA há uma tradução de 1907 (Chicago: Charles H. Kerr).

.

Marx político II

[alexandre mancini.
marquise]

[sobre a publicação de
O 18 Brumário de Luís Bonaparte]

Adriano Codato

Em 1865, Wilhelm Liebknecht, motivado pelo aparecimento do livro de Napoleão III, Histoire de Jules César, havia conseguido da condessa Sophie von Hatzfeldt o patrocínio para a nova edição da brochura de Marx, o qual se opôs firmemente, uma vez que não queria ter seu nome ligado a uma admiradora de Lassalle.
Tendo mudado de ideia alguns meses mais tarde, Marx pediu à condessa que enviasse a Liebknecht a cópia anotada e corrigida pelo autor que ela possuía a fim de encontrar um editor na Suíça. Sem êxito mais uma vez na empreitada, Liebknecht decidiu bancar os custos do projeto, apostando que pudesse recuperar o investimento graças às vendas que ele próprio faria do livro na Alemanha.
Expulso de Berlim em 1867, Liebknecht decidiu abandonar definitivamente o plano. A oportunidade da nova edição d’O 18 Brumário só surgiu no fim dos anos 1860 quando o regime bonapartista entrou em crise e a oposição liberal reapareceu (L’Union Libérale).
Atento à conjuntura internacional, Marx, em Londres, apertou o editor de O capital que em janeiro de 1869 aceitou reimprimir o conjunto de artigos que formavam o livro sobre o golpe de Estado do Bonaparte de mentira.
.

18 de outubro de 2009

Marx no tempo da dispersão

[A statue of Karl Marx.
Moscow, 1961. James
Whitmore. Life]

O Estado de S. Paulo
Aliás
11 out. 2009

José Arthur Giannotti

Professor emérito de filosofia da USP e pesquisador do Cebrap. É autor, entre outros, de Trabalho e Reflexão e Origens da Dialética do Trabalho. Este texto é o prefácio à segunda edição do livro Marx - Vida e Obra, agora renomeado Marx - Além do Marxismo (L&PM Pocket)




Minha obsessão em estudar Marx como clássico sempre esteve ligada ao projeto de examinar suas teses em vista das aberturas teóricas e práticas que propiciam. Nunca as vi como um sistema fechado, até mesmo O Capital, sua obra máxima, atira em várias direções, e tenho fortes suspeitas de que não foi por falta de tempo que restou inacabada.

O próprio Marx se recusava a ser identificado como marxista. Suas teses valem antes de tudo para serem prosseguidas. É sintomático que, analisando os Grundrisse, Antonio Negri tenha escrito Marx Oltre Marx. Meu novo título, Marx - Além do Marxismo, obviamente inspirado neste último, tenta sublinhar que a base a ser negada é o marxismo cristalizado numa profissão de fé ou numa corrente de pensamento que não se deixa correr. Se a obra de Marx procura desvendar os meandros das estruturas capitalistas de produção, é seu próprio equipamento intelectual que precisa ser renovado, na medida em que o objeto de estudo explode em várias direções.

Meus críticos irão dizer que tento confinar o marxismo aos muros das universidades, que apenas sublinho o lado filosófico da obra de Marx, quando a tarefa, antes de compreender, é transformar o mundo combatendo o capital. O conhecimento não se integra numa práxis? Mas tanto o capital como o mundo explodiram em várias direções, de sorte que nem mesmo podemos falar deles se não levarmos em conta essa dispersão. Além do mais, como detectar o empuxo transformador quando, hoje em dia, o que se tomou como motor da história, o proletariado, não encontra a unidade do capital social total para se contrapor como classe unificada? Não é por isso que as lutas de classe de hoje se fazem por direitos, por conseguinte, repondo o Estado em vez de contestá-lo?

"Marxismo" e "socialismo" se tornaram palavras equívocas. Enquanto havia Estados e partidos que se diziam marxistas, a adesão a ambos tinha, ao menos, um sentido político razoavelmente determinado. Na medida, porém, em que a revolução desaparece do horizonte efetivo da política, que sentido pode ter se assumir como marxista ou socialista? Não somos todos social-democratas nos seus mais variados sentidos? Diante da obra de Marx, sobra apenas tentar pensá-la pela raiz, vale dizer, a partir dela, como somos obrigados a fazer quando procuramos entender Aristóteles ou Kant, ou até mesmo Wittgenstein. Quando alguém ainda se identifica como marxista ou socialista, sem explicar o sentido dessa invocação, logo desconfio que está querendo fazer política sem sujar as mãos no seu jogo efetivo, muitas vezes contentando-se em votar num candidato cuja irrelevância parece ser compensada pela vácua sonoridade de seu discurso.

A crise econômica atual recoloca o problema do automatismo do capital e das contradições do sistema capitalista de produção. Depois de uma longa hegemonia do pensamento liberal, volta-se a falar em Keynes, e Marx passa a ser olhado sob novas perspectivas. Não é significativo que este opúsculo venha a ser reeditado neste momento? Essa crise atualiza certos conceitos marxistas, em particular aquele de um modo de produção cuja reposição passa por crises específicas. Não sei como as ciências sociais contemporâneas lidarão com esse tópico. Mas não vejo como escapar desse conceito de modo de produção, a não ser deixando de lado a específica historicidade de nosso modo de se repor em sociedade. Não é o próprio conceito de história que precisa ser considerado, nos seus dois vetores, história categorial, de um lado, a história do vir a ser, de outro. Esta me parece a primeira grande contribuição de Marx para o pensamento social.

O sistema capitalista se mostrou muito mais lábil do que se imaginava. Por certo essa maleabilidade não apagou suas contradições, continua sendo um extraordinário processo de criação de riqueza e de miséria, mas desapareceu de cena aquele vetor da história, o proletariado, que poderia contestá-lo pela raiz. Além do mais, as experiências do socialismo real mostraram a impossibilidade de uma produção da riqueza social sem as informações produzidas pelo mercado. Para Marx, dado o mercado, ele naturalmente se desdobraria no sistema do capital. Nosso desafio é impedir essa continuidade, por conseguinte, dar liberdade suficiente para que os agentes marquem os preços de seus produtos, sem que sejam levados pelo automatismo de um sistema produtivo, que se transforma num robô visando produzir e acumular riquezas em vista da simples acumulação.

Diante da tarefa de conciliar dois processos contraditórios, uma economia de mercado e uma política que se legitime na medida em que impeça a alienação desses mesmos mercados, pouco vale lamentar-se diante da miséria criada pela exploração capitalista. Mas qual seria a prática adequada para lidar com esses processos contraditórios? Creio que, nessa explosão dos mercados e na necessidade de repô-los num patamar mais humano e racional, no fundo se percebe a urgência de uma política capaz de se controlar a si mesma, em resumo, uma política democrática.

Se a questão é política, então façamos política. Mas eficaz, que tome como ponto de partida as condições dos sistemas políticos atuais, e examinemos teórica e praticamente suas possibilidades de mudança. Foram desmoralizados os arautos do novo homem, ou políticos que imaginavam suprimir o Estado à medida que o reforçavam. Marx desconfiava da democracia formal e, depois da Comuna de Paris, acreditou que uma ditadura do proletariado seria mais democrática do que ela. Mas esse conceito de ditadura serviu para justificar o lema "Todo poder aos sovietes", e hoje sabemos o golpe que ele significou na democracia russa.

Não me parece mais adequado pensar numa política que desemboque numa negação política, a partir da qual uma nova história teria início. Desconfio dos profetas do "novo homem" ou dos Zaratustras da vida. Aceito a política como ela é, mas sempre procurando seu dever ser. Por conseguinte, política democrática, sempre inacabada, precisando começar de novo.

Sob esse ângulo privilegio os textos de Marx que mostram como ações humanas terminam tendo consequências imprevistas e até mesmo indesejadas por elas enquanto atos individualizados. Sob esse aspecto, interessa-me particularmente o conceito hegeliano de alienação, mas torcido de tal forma que escape dos perigos do idealismo absoluto. Daí a necessidade de ler esses textos com lupa fina, cuidando de detectar as torções por que passam os conceitos quando tratam de configurar uma nova forma de práxis dialética. Por isso, depois de minha introdução, achamos conveniente apresentar alguns textos do próprio Marx, mas traduzidos de tal forma que pelo menos deixam transparecer essas torções conceituais. É o que procura fazer a tradução de Luciano Codato. Tarefa difícil, a ser retomada pelos leitores, porque o próprio Marx, numa carta ao tradutor d"O Capital para o francês, aconselha que deixe de lado essas nuances, pois os franceses não são dados a elas. Espero que os leitores de língua portuguesa compreendam a importância filosófica dessas torções.
.