[fotografia: Rafael Bertelli
Curitiba, Brasil
16 jul. 2010]
Adriano Codato
Originalmente, a palavra “ideologia” designava apenas aquilo indicado por sua etimologia: uma ciência das ideias, ou o estudo científico das ideias (ide(o)- + -logia, no grego). O termo foi inventado pelo filósofo Destutt de Tracy (1754-1836), autor de Eleménts d’idéologie (1801). Pouco tempo depois, quatro outros significados, bastante diferentes desse primeiro, surgiram e emprestaram à expressão uma conotação crítica e negativa que a acompanharia até hoje.
Em princípio do século XIX, o imperador Napoleão Bonaparte (1769-1821) reprovou a atividade política dos “ideólogos” (o círculo de colaboradores do Institut Nationale, do qual fazia parte Destutt de Tracy). A ação reformadora desses pretensos estudiosos das ideias, inspirada nos ideais do Iluminismo francês, consistia, na realidade, na manipulação das ideias. Seu propósito seria edificar “um governo de homens sanguinários” (apud Thompson, 1995, p. 47). Como a doutrina dos ideólogos estava, segundo Bonaparte, em desacordo com as lições da História e o sentimento dos homens, tal como interpretados pelo próprio Bonaparte, “ideologia” passou também a nomear toda teoria abstrata, imaginativa, irrealizável na prática.
Na tradição marxista, o termo foi primeiramente utilizado por Friedrich Engels e Karl Marx em 1845-1846 para qualificar os pensamentos tomados enquanto entidades independentes da realidade material, enquanto juízos puramente especulativos, tal como ocorre nos sistemas de filosofia e na religião. Para essas formas de ideologia, é como se o mundo social pudesse ser reduzido a uma batalha imaginária de ideias, de “frases contra frases” (Marx e Engels, 1982, p. 1 054). Engels, mais adiante, já no fim do século XIX, agregou outro significado à noção de ideologia e ela passou a compreender todos os motivos falsos ou aparentes, todas as concepções ilusórias que concorriam para ocultar do próprio agente social suas condições materiais de existência e as contradições sociais nas quais estava obrigatoriamente enredado. Ideologia significaria aqui uma “consciência falsa”, por oposição a uma consciência verdadeira, não mistificada, que possuiria, ao contrário, uma percepção clara e distinta do modo de funcionamento do mundo social.
[continua...]
Referência:
CODATO, A. IDEOLOGIA. Teixeira, Francisco M. P. coord. DICIONÁRIO BÁSICO DE SOCIOLOGIA. São Paulo: Global Editora, 2012 (no prelo).
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