[fotografia: Rafael Bertelli
Curitiba, Brasil
21 nov. 2008]
Adriano Codato
Há duas formas distintas de entender esse fenômeno político. Deixando de lado o fato de o populismo ser atualmente apenas uma acusação política (como nas expressões “político populista”, “medidas populistas”, etc.), o populismo é, em primeiro plano, um tipo específico de ligação entre o líder e as massas. Trata-se de um estilo político que se apoia em elementos não racionais, tais como a demagogia, a autoridade do chefe político, a sua capacidade quase ilimitada de apelo emocional às bases, a manipulação das vontades e aspirações dos eleitores.
Esse estilo – cujo traço mais saliente é o carisma do líder, isto é, seu poder de encantar, de seduzir, de fascinar seus seguidores – conjuga polos contraditórios. Pode ser tanto moralista (assumindo o discurso contra a corrupção política), quanto amoral (celebrando aquele que “rouba, mas faz”). Progressista em economia (“desenvolvimentista”), conservador nos hábitos (guardião dos “bons costumes”). Mobilizador e, ao mesmo tempo, controlador das organizações e das movimentações das bases. Esse estilo promove uma relação mais afetiva (ou “paternalista”) da massa com o líder do que racional do eleitor com seu representante. Nesse sentido, o populismo seria o exato oposto de (e um obstáculo para a constituição de) uma política ideológica, uma política baseada em ideias claras e em programas de governo verdadeiros e factíveis (Jaguaribe, 1950; Jaguaribe, 1954; Guerreiro Ramos, 1961). Por isso, em algumas variantes mais exageradas dessa explicação, ele se opõe à democracia liberal e aos seus fundamentos.
Mas o populismo, por outro lado, é bem mais que um estilo. É uma ideologia e uma política típicas de uma sociedade em processo de modernização. Essa ideologia e essa política – que conjugam a “ordem” (social) e o “progresso” (econômico) – são o resultado objetivo dos processos de transição de uma economia agroexportadora para uma economia urbano-industrial. É sob esse pano de fundo, que enfatiza as mudanças estruturais da sociedade brasileira no pós-1930, que ele precisa ser explicado.
Essa abordagem, em oposição à anterior, assume então que aquelas características que definiriam o populismo – carisma, demagogia – são aspectos verdadeiros, mas superficiais do fenômeno. Servem para caracterizar o comportamento dos políticos numa sociedade pós-oligárquica, mas não esclarecem nem sua gênese, nem suas propriedades políticas. Essas propriedades só se revelam quando se percebe que o populismo é uma ideologia “de Estado” e uma política “de Estado” (Saes, 1984).
[continua...]
Referência:
CODATO, A. POPULISMO. Teixeira, Francisco M. P. coord. DICIONÁRIO BÁSICO DE SOCIOLOGIA. São Paulo: Global Editora, 2012 (no prelo).
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