Adriano Codato (org.)
Ed. Sesc - PR
Introdução: certos clássicos do século XX
adriano nervo codato
O que é, afinal, um autor ou um livro clássico? Numa das quatorze explicações oferecidas por Italo Calvino num volume que, entre todas as suas vantagens, tem o pouco esotérico título Por que ler os clássicos (1981) pode-se ler, sem grandes rodeios, a seguinte definição: “É clássico aquilo que tende a relegar as atualidades à posição de barulho de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse barulho de fundo”. A essa se soma uma outra acepção, que nega a primeira, mas que paradoxalmente a completa e amplia: “É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível”.
O barulho de fundo que se ouve ainda hoje por toda parte é o hino de uma nota só em louvor ao “Pensamento Único”. Sua partitura rebaixa a política aos imperativos da economia, reduz a economia à especulação financeira e seu mais gratificante subproduto é o consumo de luxo. A configuração desse capitalismo, e o conjunto de idéias que o acompanha e justifica, produz e impõe uma visão particularmente severa do mundo social cujo fundamento é a superioridade natural do mercado e a inviabilidade primordial do Estado de bem-estar. Essa filosofia da inevitabilidade histórica tem, portanto, não somente uma dimensão material, mas ideológica já que, como Pierre Bourdieu lembrou, assume “uma roupagem científica” e, por essa via, “a capacidade de agir como teoria”.
Essa revolução regressiva deu origem a expressões tais como “aldeia global”, “mundialização” e “neoliberalismo” que, de tão repetidas, já não significam quase nada, e os circunlóquios através dos quais se pretende “explicar” o presente (flexibilização, (des)regulação, reformas, crescimento sustentado, estabilidade monetária, produtividade etc.), tudo resumido no eufemismo sociológico maior, pós-modernidade, formam um dicionário de palavras incontornáveis cujo sentido e função só se explicitam graças à nova vulgata econômica que se incumbiu de pô-los em circulação.
Os sete ensaios reunidos neste livro não são sobre esse barulho de fundo que é o Pensamento Único. O livro é, ao contrário, uma tentativa de afirmar o interesse das idéias de oito pensadores “clássicos” – Émile Durkheim, Max Weber, Marcel Mauss, Thomas Mann, Hannah Arendt, Jean-Paul Sartre, Michel Foucault e Norbert Elias – sobre a sociedade, a história e a política, apesar desse barulho de fundo. É um investimento na capacidade que esses rumores do passado, às vezes na moda, às vezes não, têm de recuperar o sentido crítico da reflexão.
Mesmo que a lista acima seja incompleta, acredito que importam menos os nomes próprios ou os critérios que dirigiam suas escolhas para compor este volume e mais o programa de leitura que sugerimos: pode-se lê-los em qualquer ordem, com simpatia ou antipatia, com curiosidade de especialista ou interesse de iniciante, desde que se faça um esforço para lê-los todos. De certa forma, é do cruzamento desses pensamentos que se tece o presente histórico.
[trecho]
Sumário
Prefácio
renato monseff perissinotto
Introdução: certos clássicos do século XX
adriano nervo codato
1. Thomas Mann: ironia burguesa e romantismo anticapitalista
paulo soethe
2. Hannah Arendt: a crise da política na modernidade
andré duarte
3. Émile Durkheim: para uma sociologia do mundo contemporâneo
pedro bodê de moraes
4. Max Weber, leitor do idealismo
vinicius de figueiredo
5. Norbert Elias: configuração social e a sociologia processual do Eu e do Nós
luiz geraldo santos silva
6. Marcel Mauss: Comunismo e Estado
marcos lanna
7. Sartre e Foucault: teoria da história, engajamento e ética
luiz damon moutinho
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