por Ana Maria F. Almeida
ALMEIDA, Ana Maria F.. Entrevista com Christian Baudelot e Roger Establet. Tempo soc. , São Paulo, v. 20, n. 1, 2008 .
Christian Baudelot - [...] O que me dava enorme prazer também em Bourdieu e Passeron era a maneira como eles concebiam seus seminários. Eles os alimentavam com as pesquisas que estavam fazendo, era um verdadeiro canteiro de obras em que nada estava finalizado. Havia intuições, excessos e também bobagens e, ao mesmo tempo, isso era feito progressivamente com o público e com todas as questões que podiam ser colocadas. Isso significou para nós uma descoberta da maneira de fazer sociologia e também de ensiná-la, porque nós éramos, sobretudo, professores. Isso era completamente novo. [...]
[...] nós não entramos na sociologia juntos, mas por vias separadas. Eu fui sobretudo seduzido pelo seminário que Bourdieu dava na École Normale Supérieure. Um dia fui encontrá-lo ao final do seminário e lhe disse, "escute, a sociologia me interessa muito, isso que você faz é muito interessante". Eu já tinha obtido uma agrégation em Letras Clássicas. "O que é preciso fazer para se tornar sociólogo? É preciso ter uma agrégation de Filosofia, um certificado de Moral etc.?" Ele me disse, "Não, não. Não vale de jeito nenhum a pena tudo isso. O que você vai fazer hoje à tarde?" Era uma sexta-feira, e eu lhe respondi, "nada de particular", e ele disse "então passe às 14 horas pelo meu Centro". Era o Centre de Sociologie Européenne, na rua Monsieur le Prince, na casa que foi de Auguste Comte. "Lá tem um trabalho para você. Nós estamos analisando uns dados, você pode dar uma mão". E foi assim. Ele me colocou para construir estatísticas da pesquisa que eles tinham feito em Lille e em Paris. Era preciso construir as porcentagens em linhas e colunas.
Roger Establet – Louis Althusser... claro... como éramos normaliens, nós dois, todo mundo o conhecia. Em primeiro lugar, ele era um homem modesto, tinha tarefas burocráticas. Era secretário da École, ocupava-se do internato, da maneira como cumpríamos nossas obrigações na escola; tomava conta de uma maneira muito modesta. Depois, tornou-se professor, ficou responsável por certo número de aulas, sobretudo dos cursos de preparação para a agrégation. Eram cursos de filosofia muito bem feitos, alguns sobre Maquiavel... alguns foram publicados. Eram aulas durante as quais Althusser mostrava que estava prestando muita atenção em preparar seus alunos para a agrégation, a lhes ensinar o que era uma dissertação, a lhes fazer sentir seus pontos fortes e fracos. Ele corrigiu muitas das minhas dissertações, ensinou-me mesmo a redigir a dissertação. Foi um verdadeiro professor. Ele também se ausentava muito porque estava gravemente doente. Retrospectivamente, fico um pouco envergonhado por tê-lo incomodado com questões sobre Maquiavel, Montesquieu ou Condorcet. O tempo em que esteve lá, ele esteve realmente lá, era um verdadeiro professor. Desse ponto de vista, ele era bastante modesto, não ficava tentando mostrar sua originalidade como outros professores, como Foucault, Gilles Gaston Granger, que ensinavam seus próprios trabalhos. Era um professor clássico. Mas a revelação foi seu texto sobre o jovem Marx. Ficamos realmente impressionados, com falta de ar, porque ele transformava Marx de uma maneira, inclusive para os filósofos, paradoxal. Porque, no fundo, a maneira como ele abordava Marx era um pouco o que costumávamos ver com Courrier ou Guéroult quando eles abordavam a História da Filosofia. [...]
trechos; para ler a entrevista completa, clique no link.
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