[Banco no Parque da Redenção, 1983
Porto Alegre, RS
Luiz Carlos Felizardo.
Porto Alegre, RS
Luiz Carlos Felizardo.
Pirelli/MASP]
Gazeta do Povo,
2 jan. 2011Adriano Codato
Depois de anunciado o resultado do segundo turno das eleições presidenciais, alguns reconhecidos videntes profetizaram, pela imprensa, aquilo que eles gostariam que acontecesse a partir de 1º. de janeiro de 2011. A maior contribuição de Dilma Rousseff à política nacional deve ser a substituição, tão rápido quanto possível, do abominável estilo Lula de governar.
No lugar do carisma do presidente, a competência dos técnicos. No lugar da sedução das massas, o convencimento da opinião pública. No lugar das negociações fisiológicas com os partidos fisiológicos, as adesões programáticas em nome do plano de governo. Enfim, no lugar da política institucional, a gestão racional.
Que por “gestão” se entenda a obrigação de impor um ajuste fiscal rigoroso (via corte de gastos sociais), o controle severo da inflação (via aumento de juros), a autonomia das autoridades monetárias (via independência do Banco Central), fica por conta da tentativa desses sábios de rádio e jornal impingirem à coalizão vitoriosa o programa da coalizão derrotada. Que o estilo Dilma, pragmático, mandão, que sua personalidade, autoritária, inflexível, tenha se convertido agora num capital político inestimável, fica por conta da aposta desses mesmos comentaristas de que o padrão ótimo de comando depende só da força da presidente para “controlar o PMDB”, “disciplinar as correntes internas do PT”, e outras quimeras do tipo.
Esse autoengano, que confia que com capacidade administrativa, apartidarismo e fé na boa doutrina econômica tudo andará melhor, tem a desvantagem de esconder um dos maiores desafios do governo Dilma. A necessidade de executar uma agenda ampla de reformas, que vai da transformação dos aeroportos ao redesenho do sistema político, passará necessariamente pela habilidade da nova chefe de Estado em lidar politicamente (e não administrativamente) com conflitos derivados de apetites de todo tipo: dos políticos, dos rentistas, dos funcionários públicos, dos empresários, dos novos consumidores, dos financiadores, dos governadores, dos meios de comunicação, etc.
Isso exigirá capacidade de agregar, de negociar, de transigir, de tolerar. Exatamente o oposto do que acreditam aqueles que apostam nas virtudes de uma gestão mais tecnocrática (ou menos “populista”). Assim, Dilma Rousseff terá de gerir, sem o capital popular de Lula, os interesses políticos da coalizão que a apoia e, se não quiser ficar refém dos compromissos conservadores com os conservadores, incentivar ao mesmo tempo a criação de mecanismos para melhorar a qualidade da democracia brasileira --- possivelmente a maior deficiência do governo Lula da Silva.
Adriano Codato (adriano@ufpr.br) é professor de Ciência Política na UFPR.
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3 comentários:
É a "mini-saia" da Dilma.
Codato,parabéns pelo blog.Quem dera o ano começasse sempre assim dissecando todas as possibilidades do ponto vista científico. É isso:menos populismo,mais análises,e a partir destas projetar as respectivas elaborações e necessárias a práticas racionais que a ciência política requer para pleno desenvolvimento da democracia como um todo,imparcial.
MENINO,VC NÃO DORME EM SERVIÇO,AQUI É POLÍTICA E NÃO SANTA CASA DE MISERICÓRDIA(ESSAS COISAS....).
Ô,Dr.Codato, por que será que a Dilma quer que a chamem por presidenta e não presidente?
Aqui nas comunidades pobres nordestinas todos já se referem a esta assim:presidenta. Isso é idiossincrasia dela ou populismo?
MENINO,TOMARA QUE ELA FAÇA UM BOM GOVERNO.VOU CUIDAR MEU FILHO IDOSO.
e,REPITO(o comentário anônimo é meu):MENINO,VC NÃO DORME EM SERVIÇO. CIENTISTA É ISSO. AQUI EM EM PE FAZ FALTA "ESSAS COISAS".
LENDO SEU BLOG ATÉ UMA BABÁ APRENDE ALGUMA COISA. OBRIGADA.
Seus alunos são privilegiados.Espero que a Dilma lembre de aumentar o salário de vcs professores intelectuais.Tenho medo que esta categoria entre em extinção.
Cláudia de sá Pereira
Obrigado, Cláudia. É preciso que a gente faça nossa parte e tente superar o PRECONCEITO e o senso comum reinante na imprensa. Grande abraço. Bom ano pra vc.
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