[Metrô, 1998
Egberto Nogueira.
Egberto Nogueira.
Pirelli/MASP]
Adriano Codato
Indagações sobre nossa pesquisa com a elites dirigentes dos comunistas no estado solicitam em geral que se diga o que há de curioso, o que há de interessante, de típico, de diferente, etc. no livro. Por outro lado, as entrevistas biográficas que compõem o nosso livro Velhos vermelhos (2008) pretendem ser uma fonte particularmente útil para a sociografia das lideranças dos comunistas no Brasil no pós-Guerra. Visto que o livro não é um livro de homenagem nem de celebração, o que uma documentação como essa pode dizer de sociologicamente relevante? Essa é a questão que os cientistas sociais devem se fazer.
Através da história social pessoal e do itinerário político e profissional dos dirigentes partidários (ou desses dirigentes partidários, mais especificamente) é possível, por exemplo, acessar
- os determinantes sociais da carreira de militante político numa organização de esquerda;
- as condições de entrada no profissionalismo político num partido semiclandestino;
- as regras de manutenção da direção de uma organização política importante (e politicamente improvável nesse contexto histórico);
- a lógica de ocupação dos postos políticos;
- os mecanismos de ajustamento das disposições sociais e individuais às regras do universo comunista;
- os processos de investimento subjetivo na instituição e de investimento objetivo da instituição nos agentes;
- o trabalho de manipulação simbólica da identidade social desses políticos da revolução social;
- a construção da imagem de representante como um espelho fiel dos representados (1).
Elas, aliás, podem fornecer uma base importante para o estudo de atitudes, valores e crenças políticas do grupo e da própria época.
nota:
(1) Ver Bernard Pudal, Les dirigeants comunistes: du “fils du peuple” a “l’instituteur des masses”. Actes de la recherche em sciences sociales, Paris, n. 71-72, p. 46-70, mars 1988.
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Um comentário:
Adriano Codato,
Permita-me indicar-lhe uma entrevista. Trata-se da conduzida por João Quartim de Moraes e Luiz Orlandi com Sócrates Gonçalves da Silva, sim, o capitão Sócrates, do movimento militar de 1935. A meu convite, lá esteve ele na UNICAMP. Ainda terei a oportunidade de contar-lhe a conversa a que assisti entre eles num restaurante da Campinas. O ponto alto, para mim, foi a avaliação de cada um deles sobre La condition humaine, de Malraux. Diante de mim, duas gerações de comunistas cultos. Não houve, claro, afetação, mas disputa geracional, no melhor sentido da palavra. Às vezes, sou tomado por nostalgia: a carona que o Dr. Castilho nos dava, almoçar com o Dr. Quartim, rir das tiradas do Dr. Maurício Tragtemberg, tentar desfazer a fofoca que o Dr. Benjamin disseminara de que eu fosse um jesuíta (jesuíta mesmo, não no sentido volteriano, hehehe)... Não sei se a nossa geração, que já está perto de sair de cena, está à altura da que nos antecedeu. A entrevista está gravada em película. Não será tempo perdido. Dê uma olhada. Sorria por mim.
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