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Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections

5 de novembro de 2015

o conservantismo do Congresso Nacional brasileiro

[Deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) 
Foto brasil.elpais.com 
22 agosto 2015] 


Entrevista Congresso em Foco

Revista Congresso em Foco, Ano 4, n. 19, outubro 2015

http://revista.congressoemfoco.uol.com.br/


A revista publicou uma matéria intitulada “Os ovos da serpente” sobre algumas propostas regressivas no Congresso Nacional brasileiro. Incluiu uma pequena parte da entrevista que Adriano Codato e Bruno Bolognesi deram sob o título “A direita sai do armário”. Por razões editoriais só foram publicados alguns trechos. Abaixo, a entrevista completa.

Adriano Codato & Bruno Bolognesi

1. Congresso em Foco: É possível dizer que este é o Congresso mais conservador desde a redemocratização do país?

Bruno Bolognesi & Adriano Codato: Não há como ser categórico sobre isso. Ainda. São nove meses de legislatura. Afirmações desse tipo têm de ser comparativas, levar em conta a legislatura inteira e contar com uma série histórica mínima e a análise de muitas votações. Por outro lado, é possível dizer, nesse momento, duas coisas. A primeira é que cresceu muito a bancada dos pequenos partidos da nova direita. É o fenômeno que está por baixo da "fragmentação do sistema partidário". A segunda coisa que podemos dizer, baseados nas observações desse ano, é que o Congresso Nacional ficou menos "programático". Ou seja: os grandes partidos passaram a contar menos na definição da agenda política, das linhas de força, das grandes divisões dentro de cada Casa. Isso permitiu que emergisse uma agenda de tipo "personalista", por um lado, e fortemente ancorada em grupos de interesse supra a interpartidários. Nesse contexto, programas universalistas de políticas públicas (educação, saúde, previdência, etc.) passam a contar menos nos cálculos eleitorais dos políticos. Conta mais a sua agenda eleitoral pessoal, conectada a alguma clientela muito específica (igrejas, empresas, etc.).


2. Congresso em Foco: O senhor disse certa vez que o brasileiro perdeu a vergonha de ser conservador e de se assumir como de direita. Por quê? O que isso significa para o país?

Codato: No século XX o Brasil teve governos conservadores, todos, duas ditaduras que, curiosamente, se recusavam a ser chamadas como tais, movimentos sociais de direita (integralismo, conservantismo católico, etc.), mas a palavra "direita" nunca foi comum no nosso léxico político. Nem popular. Mas, pela primeira vez, depois de três governos de centro-esquerda, a conjuntura possibilitou que todos os que se opusessem a ele se situassem do centro para a extrema-direita. Então, a palavra perdeu o sentido negativo (que talvez tivesse entre nós) e passou a designar genericamente todo aquele "é contra o PT". Mas essa não é apenas uma transformação no universo político. Há uma base social que sustenta essa direita. Ela é forjada pela convergência pragmática entre a classe média urbana, que sempre foi porta-voz do movimento contra corrupção (a mesma classe média que votou no PT em 2002), e um movimento em defesa da moral conservadora, que sempre esteve presente no imaginário nacional. A diferença é que a soma das duas forças permite que se organize uma oposição ao pequeno progresso social alcançado por algumas medidas distributivistas; e uma oposição ao pequeno progresso no campo moral, como o acolhimento mínimo de direitos mínimos das minorias. Voilà, a direita brasileira.

3. Congresso em Foco: Sob o comando de Eduardo Cunha, a Câmara discute propostas que, na avaliação de parlamentares ligados à defesa dos direitos humanos, representam retrocesso para o país, como a revogação do Estatuto do Desarmamento, o não reconhecimento das uniões homoafetivas (no Estatuto da Família) e a proibição de métodos abortivos mesmo em caso de estupro. Já os apoiadores dessas medidas alegam que a sociedade defende esse tipo de iniciativa. Para confirmar seus argumentos, utilizam muitas vezes pesquisas de opinião. O Congresso espelha hoje o conservadorismo da sociedade?

Bolognesi: O uso da opinião pública pelo deputado Cunha é absolutamente seletivo. Quando lhe interessa, mobiliza o argumento; quando não, esquece de ouvir a “vontade popular”.  Ocorre que o sistema representativo democrático tem também como função a proteção de direitos de minorias e o atendimento a agendas de segmentos sociais específicos. Utilizar a opinião pública como referência para pautar a atividade legislativa é correr o enorme risco de se cair no autoritarismo.


4. Congresso em Foco: Os senhores veem risco de retrocesso na garantia de direitos e liberdades individuais e coletivos no país por causa da atual composição do Congresso?

Bruno Bolognesi & Adriano Codato: Sim. Principalmente em relação às liberdades individuais. O princípio liberal clássico que deve reagir a atuação democrática, isto é, o reconhecimento dos direitos de grupos minoritários existirem, serem respeitados, ouvidos e representamos politicamente, pode estar em risco. A conquista da Câmara por bancadas cada vez mais homogêneas socialmente e ideologicamente, cada vez menos plurais, e cada vez mais à direita coloca sim esse princípio em risco.

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