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Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections

3 de novembro de 2008

Liderança e politização na USP

ELCIO ABDALLA e SILVIO SALINAS

[Comentário: Não conheço os autores, não sei da política interna da USP, disputas sindicais e de associações docentes, partidos acadêmicos e outras quizumbas; nem sei se há uma agenda oculta aí. Mas subscrevo o texto em suas linhas essenciais. Aliás, em algumas universidades deveria ser impresso em bronze e colado na porta principal.]

Folha de S. Paulo
Tendências e Debates
3 nov. 2008


A USP pode se orgulhar de setores de excelência, com padrões elevados de ensino e pesquisa, que a colocam em posição de liderança no país, no mesmo patamar das grandes universidades internacionais. Isso não nos exime, no entanto, de apontar e corrigir falhas e prestar contas ao público que tão magnificamente nos tem apoiado.
Nos últimos anos, a USP vem sofrendo forte crise de liderança, a qual se manifesta em politização excessiva, de fôlego curto, distante das considerações de mérito acadêmico. Foram esquecidas as grandes questões nacionais, praticamente não se pensa o país, mas há muito interesse em cargos e favores, na perpetuação em postos da administração universitária.

A eleição do reitor é um bom exemplo. Nas universidades de "classe mundial", costuma-se criar uma comissão de busca para selecionar candidatos acadêmica e administrativamente significativos. Esse mecanismo também tem sido utilizado aqui no Brasil para a escolha dos diretores de institutos do Ministério de Ciência e Tecnologia. Na USP, no entanto, há uma eleição em duas etapas.

A primeira fase é ampla, envolve mais de mil membros de todas as congregações, tem razoável conteúdo acadêmico. No entanto, funciona apenas para definir uma lista de oito nomes que vão ser submetidos a uma segunda fase, muito mais restrita. Essa segunda fase, restrita a cerca de 300 membros dos "conselhos centrais", constitui e ordena a lista tríplice enviada ao governador, invertendo inclusive a votação anterior.

É justamente esse modelo de duas fases que acaba se prestando a todo tipo de barganha.

Com honrosas exceções, favores e barganhas se repetem na escolha de posições na administração central e nas comissões mais importantes.

Forma-se uma espécie de "círculo da corte", com a participação permanente, anos a fio, das mesmas pessoas.

Colega é diretor; quatro anos depois, vira pró-reitor; mais quatro anos, torna-se reitor. Se não consegue virar pró-reitor, aceita a prefeitura de um dos campi e, assim, vai tocando a administração, cada vez mais distante da vida acadêmica.
Nas circunstâncias atuais, os dirigentes são fracos, não têm quase nada para oferecer além da própria existência nos grotões da corte. Às vezes se unem às corporações, no seu horror a qualquer tipo de avaliação. O programa incipiente de avaliação departamental, que poderia ter sido aperfeiçoado e seria benéfico para certos setores, foi interrompido.

Os docentes da USP, trabalhando em tempo integral, continuam com a carreira engessada e jamais passarão por nenhuma avaliação institucional.
Em um caso recente de suspeita de plágio, envolvendo justamente uma questão que esbarra no coração da academia, depois de 15 meses e muita pressão, a reitoria acabou emitindo uma nota tímida de censura.

Há vários exemplos desse tipo. No centro nobre da Cidade Universitária, instalaram-se pelo menos sete agências bancárias, mas não há um museu de ciências, uma bela livraria, um bom teatro ou cinema. Nem mesmo se instalou a biblioteca Mindlin, cuja doação foi anunciada há cerca de dez anos.

No ano passado, foi constituída uma comissão de busca, do mais alto nível acadêmico, que indicou lista tríplice para a diretoria do Instituto de Estudos Avançados, organismo particularmente adequado para "pensar o país". Essa indicação, porém, foi simplesmente descartada.

O que se pode fazer diante de tanta mediocridade? Haveria espaço para novos mecanismos, como as comissões de busca, ou para propostas de profissionalização da administração universitária? Pelo menos essa absurda segunda fase na eleição para reitor teria que ser suprimida. Medidas simples, vedando as reeleições em qualquer nível, em qualquer época, para funções de direção ou de representação, também poderiam contribuir com ar fresco ao sistema.


ELCIO ABDALLA e SILVIO ROBERTO DE AZEVEDO SALINAS são professores titulares do Instituto de Física da USP e membros titulares da Academia Paulista de Ciências e da Academia Brasileira de Ciências.

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