artigo recomendado
27 de janeiro de 2019
resenha de Marxismo como Ciência Social (Luiz Eduardo Motta)
& Re-Located: Various & Gould
http://bit.ly/2Wmjqle]
resenha
Adriano Codato & Renato Perissinotto. Marxismo como ciência social.
por Luiz Eduardo Motta
Critica Marxista (São Paulo), v. 36, p. 189-191, 2013.
O livro de Adriano Codato e Renato Perisinotto Marxismo como ciência social, Curitiba, editora UFPR, 2011, premiado na ANPOCS como melhor Obra Científica de Ciências Sociais em 2012, veio sem dúvida a preencher uma importante lacuna no campo das ciências sociais do Brasil, sobretudo no tocante à ciência política: a ausência de obras teóricas sobre o Estado, e sobre os agentes políticos pela ótica marxista, haja vista a abundância de textos e livros que tratam dessa problemática pelo prisma do neo-institucionalismo. Como bem observa o cientista político e pesquisador do IESP, João Feres Jr. que escreveu a apresentação do livro, a teoria marxista a despeito de toda a sua riqueza conceitual constituída ao longo de 150 anos por meio de ricos debates teóricos, foi implodida com a crise do socialismo do leste europeu a partir da queda do Muro de Berlim em 1989, no qual o pensamento marxista foi intensamente (e injustamente) associado a esse fracasso.
O livro de Codato e Perissinotto soma-se ao livro de Armando Boito Jr. Estado, política e classes sociais como uma das raras análises sobre o Estado capitalista sob influência da teoria marxista de Louis Althusser, no que concerne à descontinuidade das obras científicas de Marx em relação às suas obras filosóficas de juventude, além da contribuição da teoria do Estado capitalista de Nicos Poulantzas. O fato de esse livro ter sido premiado pela ANPOCS demonstra que outros sinais no campo acadêmico têm emergido, haja vista que não é muito comum uma obra de teor marxista (sobretudo de corte althusseriano) receber um importante prêmio acadêmico, pelo menos no Brasil.
[continua...] clique aqui http://bit.ly/2Wll2f2
26 de janeiro de 2019
resenha de Marxismo como Ciência Social (Angelita Matos Souza)
British Museum in around 1924.
Photo: Donald Macbeth]
resenha
Adriano Codato & Renato Perissinotto. Marxismo como ciência social.
por Angelita Matos Souza
BIB, São Paulo, nº 73, 1º semestre de 2012, p. 119-122.
Marxismo como ciência social, de Adriano Codato e Renato Perissinotto, recebeu o prêmio Anpocs de melhor obra científica em 2012 e consiste na reunião de nove artigos já publicados sobre Estado, política institucional e ação de classe em Marx e em alguns marxismos posteriores, como afirmam os autores na Apresentação. De início, defendem o marxismo como “uma ciência social normal”, cujos postulados deveriam ser entendidos como hipóteses passíveis de serem confirmadas ou refutadas. Ponto de vista esse que tornaria possível o diálogo “com as teorias sociais não marxistas ou explicitamente antimarxistas” (p. 227). Não se trata de uma obra fácil de ler e resenhar, tanto devido ao conteúdo teórico denso como ao distanciamento crítico dificultado pelas lembranças que a leitura provocou: dos estudos de juventude e das conversas em torno ou por efeito das aulas do Prof. Décio Azevedo Marques de Saes, a quem o livro é muito justamente dedicado. Porém, resolvi arriscar abordando os capítulos com foco na temática da articulação entre as instâncias política e econômica. Tema central no livro, discutido, sobretudo, a partir d’O 18 Brumário de Luís Bonaparte e de um marcado interesse pela autonomia do mundo político – ao encontro da proposta dos autores: de diálogo entre marxismo e teoria das elites.
[continua...] clique aqui http://bit.ly/2ReTMek
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14 de janeiro de 2019
resenha de Marxismo como Ciência Social (Ian Rebouças Batista)
retirada de Berlim em seu novo
local de repouso na cidadela Spandau,
um canto remoto de Berlim
fonte: http://bit.ly/2Rr4ymx]
Pesquisador do ODELA - Observatório do Estado Latino-Americano, da UFRGS, escreveu uma resenha de
Marxismo como ciência social. Curitiba: Editora UFPR, 2011.
Uma vez centro dos estudos sociais, políticos e econômicos brasileiros, principalmente enquanto enfrentamento acadêmico à ditadura militar, o marxismo encontra-se hoje à margem das ciências sociais na academia brasileira. Desde o fim da União Soviética e da queda do Muro de Berlim, a visão marxista de mundo passa a ser relacionada à autoritarismo, a erros de cálculos políticos e à pobreza, uma vez que a ruína do comunismo pós-Guerra Fria surgia “como prova (d)o sensacional naufrágio do socialismo real como sistema de vida e como forma de governo” (CODATO; PERISSINOTTO, 2011, p. xxxiii).
O esforço de Adriano Codato e Renato Perissinotto, no livro Marxismo como ciência social, é de revisitação e interpretação das obras “mais políticas” de Marx, Engels e da literatura marxista que se debruçou sobre “o político”. É reiterando o potencial explicativo marxista do político e dos fenômenos sociais de poder que Codato e Perissinotto fazem defesa de uma abordagem científica utilizando a teoria marxista. O raciocínio é que se existe uma maneira marxista de entender a política e as relações de poder na sociedade, essa maneira deve ser passível de demonstração e averiguação. Logo, tratar o marxismo como ciência social significa pôr a prova seus postulados.
Essa é a grande lição do livro. Para fortalecimento do marxismo dentro da academia, para além de ensaios e divagações meta-filosóficas, seus postulados devem ser entendidos como hipóteses testáveis, e não como pressupostos ou princípios.
[continua...] clique aqui http://bit.ly/2RvJF9R
9 set. 2018
5 de fevereiro de 2012
teoria política I (mestrado em ciência política - ufpr)
Alfred Eisenstaedt.
Life]
quintas-feiras, 14:30-18:00hs.
EMENTA
clique aqui para acessar e baixar o programa do curso
OBS.: A (imensa) bibliografia complementar será referida em aula, a cada sessão.
14 de fevereiro de 2011
marxismo acadêmico e marxismo político
Arizona, EUA
Luiz Carlos Felizardo.
ex-diretores da revista crítica marxista propuseram a um grupo de colaboradores a seguinte questão:
- quais deveriam ser as características centrais e o perfil de uma revista teórica marxista que esteja à altura dos desafios intelectuais e políticos postos pelo século XXI?Adriano Codato: "A pergunta proposta sugere ao menos três dificuldades a serem enfrentadas por um periódico autonomeado “marxista”: 1) o lugar e a função do conhecimento teórico nessa tradição; 2) o papel político e cultural dos intelectuais marxistas na conjuntura presente; e 3) a serventia de uma revista universitária que pretende difundir o marxismo (também, ou principalmente, em função de sua audiência) como teoria social.
Como um meio para refletir sobre e fazer avançar o marxismo teórico, a publicação não pode deixar de buscar, selecionar e editar artigos que pretendam reinterpretar os textos clássicos dos clássicos do marxismo.
Mas esse trabalho exegético só terá sentido se mais adiante os achados aí presentes resultarem em conceitos de médio alcance, noções operatórias, estratégias analíticas para serem utilizados numa ciência social empírica. Esse é, a meu ver, a principal contribuição política e cultural que os intelectuais marxistas podem dar na conjuntura presente.
Nesse sentido, estamos bem longe da busca do marxismo puro e duro ou do “verdadeiro Marx”.
Essa miragem filosofante foi responsável por parir, no século XX, tantos marxismos quantos analistas disponíveis. As ideologias teóricas que surgiram daí, cujo efeito foi encerrar a discussão e não permiti-la, criaram uma série de campos de força que dividiram artificialmente as ciências sociais em “Sociologia burguesa” e Teoria Marxista.
O prejuízo contabilizado por essa separação bizantina, que parece ter mais a ver com as vantagens simbólicas que cada partido teórico retirou (e retira) dessa luta ideológica, implicou o isolamento provinciano de ambas as partes – e ele foi, penso eu, muito mais prejudicial ao marxismo acadêmico. A redescoberta do pensamento de Marx nos últimos anos em alguns círculos intelectuais e sua nova popularidade (novos periódicos, novas traduções, vários encontros científicos, reedições de textos, etc.) parece, todavia, refletir e repetir os mesmos defeitos. Seja como convicção partidária, seja como ideologia universitária, supõe-se, em geral, que os textos clássicos dos clássicos do marxismo (Marx, Engels, Lênin, Gramsci) já fornecem uma teoria auto-suficiente da sociedade.
Ora, uma revista como Crítica Marxista será tanto mais relevante --- em termos políticos e culturais – se ela conseguir apresentar justificações críveis para tomar o pensamento de Marx como uma “ciência social”. E isso em dois sentidos: (i) como um tipo de conhecimento sociológico, e não apenas como uma teoria normativa e/ou uma visão social de mundo; e (ii) como um gênero interpretativo, que consiste em conectar as ações e instituições políticas à sua dimensão social (combatendo, nesse sentido, o politicismo das análises da corrente dominante).
Essa postura implica assim uma compreensão diferente dos textos de Marx, mais interessada nas suas operações analíticas do que na monumental parafernália teórica sobre a qual elas se apóiam. São essas operações analíticas que podem ajudar a formular estratégias intelectuais para conectar microevidências à macroteoria e propor conceitos de médio alcance para colaborar na pesquisa social".
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31 de janeiro de 2011
o espaço político segundo Marx
Cristiano Mascaro.
para ler o artigo completo,
3 de dezembro de 2010
ciência política e história
Uma inspeção rápida do que se vem produzindo na Ciência Política brasileira constatará que os estudos tem se caracterizado cada vez mais pelo “presentismo”. Isso não se deve apenas ao fato de os objetos de pesquisa serem cada vez mais contemporâneos dos pesquisadores, mas à perda da dimensão histórica das problemáticas e das análises.
Mesmo sem assumir o desafio proposto por Tilly (1985) há mais de duas décadas, voltar a estudar “grandes estruturas” e “processos de larga escala” a fim de produzir “enormes comparações”, a abordagem histórica permite um ganho considerável para o cientista político. Através dela consegue-se sugerir interações entre sequências causais que convergem num determinado momento e que podem explicar eventos específicos. É o caso do estudo de “conjunturas críticas” (como colapsos de regimes políticos, por exemplo) ou de investigações interessadas na reconstrução da sócio-gênese de um fenômeno ou instituição política. Modelos muito formalizados, postulados teóricos universais e tipologias abstratas tendem a perder relações causais mais complexas, ignorar hipóteses válidas, desconsiderar importantes processos políticos e o modo pelo qual afetam o mundo social. Daí a importância do cientista político olhar não para o passado, mas, como advertiram Pierson e Skocpol (2002), para “processos ao longo do tempo”.
Essa volta aqui sugerida tem a ver então com a necessidade de recuperar a dimensão histórica para os estudos políticos. Nesse movimento, deve-se, todavia, evitar ao máximo três estilos discutíveis de retorno à história: o estudo do passado por si mesmo, esforço que em geral termina em descrições de fenômenos únicos e de interesse limitado no tempo e no espaço; o estudo do passado a fim de encontrar indícios, evidências ou exemplos para ilustrar e confirmar uma teoria ou um modelo explicativo construído a priori; e o estudo do passado como um depósito onde se buscam casos para comparação com problemas do presente, esses sim objetos de interesse efetivo.
Nos últimos anos, na cena acadêmica internacional, vem-se observando uma revitalização de estilos de teorização política informados pelo conhecimento histórico. Mesmo num contexto em que há um predomínio na Ciência Política de disposições naturalizantes e de reflexões descontextualizadas, as abordagens historicistas da Teoria Política vêm-se apresentando como alternativas à polarização entre as modalidades de teorização de natureza estritamente instrumental (em que a teoria desempenha o papel subordinado de simples meio para o balizamento de pesquisas empíricas), e as modalidades estritamente filosófico-normativas (em que a teoria destina-se à afirmação de modelos ideais de sociedade ou de ordens jurídico-políticas).
Exemplo desta confluência entre Ciência Política e História no domínio da teoria pode ser acompanhado no novo fôlego dos estudos sobre teoria política republicana. Nas décadas recentes eles assumiram um contorno em que a teoria política normativa nutre-se de estudos sobre as idéias do passado, ao passo que a história (especificamente a história do pensamento político) utiliza-se do ferramental teórico elaborado pelos politólogos para manusear seus próprios objetos de estudo. Além disso, a história do pensamento político produz, ao ser escrita, teoria política, fornecendo ao analista contemporâneo um manancial de consulta que auxilia na resposta aos problemas atuais, já que promove a desnaturalização das noções políticas que esposamos atualmente, permitindo novos cursos de ação e de ideias (Skinner, 1996; Pettit, 1997).
Do lado das análises empíricas em Ciência Política, há um movimento na mesma direção, seja por parte dos estudos apoiados no neo-institucionalismo histórico, seja nas análises que enfatizam a dependência da trajetória histórica para a compreensão de determinados fenômenos políticos (path dependence). Todavia, não se trata apenas de reconhecer que “a história importa”, isto é, que escolhas feitas no passado produzem efeitos mais adiante, preceito que vale tanto para firmas privadas quanto para Estados nacionais. A virada histórica que desde o início da década vem influenciando cientistas políticos empiricamente orientados pretende significar uma mudança teórica mais profunda e mais radical que a do neo-institucionalismo histórico. Como resumiu Paul Pierson (2004), o entendimento de processos e práticas políticas implica em comutar o foco centrado em grandes leis causais para estudos de mecanismos sociais específicos. As explanações daí derivadas estão baseadas em hipóteses formuladas explicitamente sob certas condições limitantes, que são “tempo” e “lugar”. A vantagem mais evidente desse enfoque é que ele permite contrapor-se a explicações deduzidas de grandes teorias, onde o fato histórico comparece apenas como um exemplo ilustrativo, ou contrapor-se a explicações baseadas em tipologias, em que o caso é classificado (e supostamente explicado) conforme a distância maior ou menor em relação a modelos construídos por abstração a partir de exemplos selecionados como base em critérios eles mesmos discutíveis. Ainda que não seja uma revelação, os preceitos dessa estratégia de análise indicam que pensar em termos de “tempo” e “lugar” é pensar em termos de contextos históricos.
Análises desse tipo – cujo fundamento são teorias de médio alcance, hipóteses verificáveis, e não postulados teóricos universais – têm encontrado um reforço bastante positivo nas mudanças recentes da História (a disciplina), seja porque voltou à tona a narrativa explicativa, isto é, a procura de respostas nos estudos históricos a uma questão de tipo “por quê?”, seja porque os próprios historiadores, ao que parece, estão novamente atentos, apesar de tudo, para causas, origens e consequências no estudo de acontecimentos discretos (Weinstein, 2003). Resulta portanto que o mais prudente é evitar, para usar a frase publicitária de Yves Déloye (1999), o confronto e o desquite entre “o arquivo e o conceito”.
Referências
DÉLOYE, Yves. Sociologia histórica do político. Bauru: EDUSC, 1999.
KOSELLECK, R. Futuro Passado. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.
PETTIT, P. Republicanism: A Theory of Freedom and Government. Oxford: Oxford University Press, 1997.
ROSANVALLON, P. Por uma história conceitual do político (nota de trabalho). Revista Brasileira de História, vol. 15, n. 30, 1995.
SKINNER, Q. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
TUCK, R. História do pensamento político. In: BURKE, Peter. (org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1992.
PIERSON, Paul e SKOCPOL, Theda. Historical Institutionalism in Contemporary Political Science. In: Katznelson, Ira & Milner, Helen V. (eds). Political Science: State of the Discipline. New York: W.W. Norton, 2002, p. 693-721.
PIERSON, Paul. Politics in Time: History, Institutions, and Social Analysis. Princeton e Oxford: Princeton University Press, 2004.
TILLY, Charles. Big structures, large processes, huge comparisons. New York: Russell Sage Foundation, 1985.
WEINSTEIN, Barbara. História sem causa? A nova história cultural, a grande narrativa e o dilema pós-colonial. História, vol. 22, n. 2, p. 185-210, 2003.
30 de novembro de 2010
o modo teórico de produção teórica
Nesta comunicação, formulo um argumento sobre as razões explícitas e sobre as razões implícitas da proverbial complicação dos escritos de Poulantzas, insistindo, e esse é o problema central que desejo destacar, sobre a influência que os procedimentos e os pressupostos da filosofia impõem à prática teórica dos marxistas no âmbito das ciências sociais.
O ponto aqui é antes sugerir que demonstrar que a forma de redação dos textos de Poulantzas é menos uma questão do “estilo” do autor (o vocabulário incomum, a fraseologia arrevesada, a falta de clareza de certos conceitos e a desorganização dos argumentos); ou mesmo uma questão do “nível” do discurso (um discurso necessariamente abstrato para tratar de problemas abstratos); e sim uma questão do “tipo” de “ciência social” defendida e praticada pelo estrutural-funcionalismo francês como um todo (Althusser, Balibar, Badiou, etc.).
A hipótese é que a prosa filosofante característica desse gênero de marxismo encurrala e encerra o discurso e a prática sociológica em três mundos, que os dirigem e passam a defini-los: i) a política, ii) a teoria e iii) as lutas políticas no domínio exclusivo da teoria. Invertendo a formulação de Althusser (“a filosofia é luta de classes na teoria”), creio que se deveria dizer que essa teoria é, antes de qualquer coisa, um produto da luta teórica no domínio da filosofia (marxista).
Meu argumento central é o seguinte: esse gênero de “ciência social” que Poulantzas exemplifica tira proveito da fusão do discurso político com o discurso científico sob a proteção e a garantia do discurso filosófico. Essa é a razão do alegado teoricismo de Nicos Poulantzas, cujo efeito (e não a causa) é um dialeto abstrato. A causa fundamental dessa forma de conceber o trabalho teórico e a prática científica está, antes de qualquer coisa, na recusa dos procedimentos convencionais da ciência convencional.
14 de setembro de 2010
Marx político I
[sobre a publicação de
O 18 Brumário de Luís Bonaparte]
Como a maior parte dos textos não econômicos de Marx, O 18 Brumário tem uma história acidentada e uma reputação tardia.
Ele foi escrito, na forma de sete artigos, entre dezembro de 1851 e março de 1852, a partir da solicitação de Joseph Weydemeyer para um semanário político norte-americano, Die Revolution. Após alguns contratempos, Marx cogitou oferecê-lo ao New York Daily Tribune e o volume só saiu meses depois, na primavera de 1852, graças à colaboração de vários amigos, dentre eles um alfaiate emigrado de Frankfurt a Nova Iorque que investiu suas economias na recém-criada revista mensal de Weydemeyer.
O periódico teve sua edição suspensa já no número dois por razões orçamentárias. A tiragem desse primeiro número – em que o título do livro figurava erroneamente como “Der 18te Brumaire des Louis Napoléon” [sic] – ficou entre 500 e 1 000 exemplares, não se sabe bem. Em julho de 1852 Marx recebeu apenas três exemplares como autor e em outubro outros 130, que, em função da censura política, teriam uma divulgação bastante precária e clandestina na Alemanha (cf. Rubel, 1994b, p. 1359-1360; e 18 Br., p. 433).
De fato, a obra só pôde ser mais bem conhecida a partir da sua segunda edição.
Publicada em Hamburgo em julho de 1869 por Otto Meissner, o mesmo editor de O Capital, o escrito saiu com o título corrigido e algumas supressões em relação ao conteúdo original. A edição francesa do livro, estabelecida por Maximilien Rubel, anota entre colchetes as passagens modificadas por Marx, que se incumbiu de informar o leitor que as havia realizado porque certas alusões a fatos e feitos da época “não seriam mais inteligíveis hoje em dia” (18 Br., p. 434).
Rubel conta que Marx havia tentado republicar o texto, sem sucesso, já em 1852, depois em 1856 e novamente em 1865. Também haviam fracassados os projetos de traduzir o trabalho para o francês e o inglês. O 18 Brumário só sairia em Lille em 1891. Não pude estabelecer ao certo a data da primeira edição em inglês. Nos EUA há uma tradução de 1907 (Chicago: Charles H. Kerr).
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Marx político II
[sobre a publicação de
O 18 Brumário de Luís Bonaparte]
Em 1865, Wilhelm Liebknecht, motivado pelo aparecimento do livro de Napoleão III, Histoire de Jules César, havia conseguido da condessa Sophie von Hatzfeldt o patrocínio para a nova edição da brochura de Marx, o qual se opôs firmemente, uma vez que não queria ter seu nome ligado a uma admiradora de Lassalle.
Tendo mudado de ideia alguns meses mais tarde, Marx pediu à condessa que enviasse a Liebknecht a cópia anotada e corrigida pelo autor que ela possuía a fim de encontrar um editor na Suíça. Sem êxito mais uma vez na empreitada, Liebknecht decidiu bancar os custos do projeto, apostando que pudesse recuperar o investimento graças às vendas que ele próprio faria do livro na Alemanha.
Expulso de Berlim em 1867, Liebknecht decidiu abandonar definitivamente o plano. A oportunidade da nova edição d’O 18 Brumário só surgiu no fim dos anos 1860 quando o regime bonapartista entrou em crise e a oposição liberal reapareceu (L’Union Libérale).
Atento à conjuntura internacional, Marx, em Londres, apertou o editor de O capital que em janeiro de 1869 aceitou reimprimir o conjunto de artigos que formavam o livro sobre o golpe de Estado do Bonaparte de mentira.
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16 de março de 2010
marx "jornalista"
trabalho a ser apresentado no 7o. encontro da ABCP (2010)
A análise prática da política prática: uma introdução ao estudo dos "textos jornalísticos" de Marx
Adriano Codato (UFPR)
Durante as décadas de 1840-50, Marx publicou uma série de escritos analisando a política institucional. Este paper destaca, da vasta produção do autor editada no New York Daily Tribune, as crônicas sobre a política inglesa entre 1852-1854. O objetivo geral do estudo é examinar o modo pelo qual o escritor pensou a atividade política quotidiana. Enfatizo nessa exegese dois assuntos usuais da tradição marxista: i) o problema da “autonomia da política”; e ii) o papel ativo (ou não) dos agentes sociais. Essa discussão serve de pano de fundo para o problema central tratado na investigação: como Marx lidou com a questão dos profissionais da política? Utilizamos como fonte desses comentários de texto duas compilações da edição crítica das Obras Políticas estabelecida por M. Rubel para as Éditions Gallimard: Chroniques Anglaises (1852-1854) e Lord Palmerston (1853).
[clique aqui para o texto integral]
10 de janeiro de 2010
as elites políticas: questões de teoria e método
Este livro pretende apresentar ao leitor as principais características daquilo que ficou conhecido na teoria social e política como “teoria das elites”. Não é nossa intenção esgotar o assunto e nem mesmo tangenciar todas as questões que esta teoria suscitou nos últimos cem anos. Como se trata de uma obra introdutória, o autor procurou identificar os fundamentos da teoria das elites, suas principais proposições e, por fim, os seus desenvolvimentos posteriores.
Para tanto, o livro está organizado da seguinte forma. Na primeira parte, o leitor encontrará a exposição das idéias principais dos pais fundadores da teoria das elites. O primeiro capítulo é dedicado à obra de Gaetano Mosca, o segundo, à de Vilfredo Pareto, e o terceiro capítulo discute a sociologia de Robert Michels. A segunda parte do livro dedica-se a analisar os desenvolvimentos posteriores realizados pelos cientistas políticos do século XX. Apesar do número de autores que lidaram com as questões típicas da teoria das elites ao longo do século passado ser muito grande, resolvemos, por razões didáticas e por problema de espaço, reduzir essa segunda parte aos estudiosos que protagonizaram um dos mais importantes e profícuos debates metodológicos da ciência política contemporânea, a saber, o debate entre elitistas, pluralistas e teóricos da não-decisão. Ainda nesta segunda parte, apresentamos a crítica dos sociólogos e cientistas políticos de inspiração marxista aos pressupostos da teoria das elites. Por fim, à guisa de conclusão, apresentamos alguns argumentos segundo os quais, apesar das críticas e dos problemas encontrados na teoria das elites, justifica-se, do ponto de vista científico, estudar as minorias que comandam as sociedades humanas.
O espírito que orientou a elaboração deste livro foi o de revelar ao leitor os pressupostos normativos e ideológicos por detrás das proposições teóricas dos diversos autores aqui analisados. Ao mesmo tempo, porém, esforçamo-nos para colocar em destaque o valor científico de suas contribuições. Afinal, apesar de o sociólogo estar inescapavelmente mergulhado no mar de preconceitos e ideologias que inunda as sociedades humanas, só faz sentido se referir à Sociologia como uma ciência se o conhecimento que ela produz trás consigo ao menos algum grau de objetividade. Cada um a sua maneira, os autores aqui analisados sempre se guiaram por essa preocupação.
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9 de janeiro de 2010
ainda a teoria das classes sociais

Carlos Fadon Vicente.
O CONCEITO DE CLASSES SOCIAIS E A LÓGICA DA AÇÃO COLETIVA
Bruno P. W. Reis
Dados – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, 34 (3): 415-41. 1991.
O artigo sustenta que a formulação olsoniana da lógica da ação coletiva, ao demonstrar a indeterminação da conduta política dos membros de uma mesma classe social, lança um grave desafio sobre a teoria marxista das classes sociais, pois impede qualquer afirmação conclusiva sobre a inevitabilidade da revolução proletária. Em seguida examinam-se as contribuições ao assunto feitas por autores como G. A. Cohen, John Roemer, Jon Elster e Adam Przeworski, buscando captar em que medida cada um se inclina por uma concepção “objetivista” (ênfase na classe “em si”) ou “subjetivista” (ênfase na classe “para si”) do conceito de classe social. Ao final, o artigo conclui reconhecendo o caráter incontornável da indeterminação da conduta política dos membros de uma classe e rechaçando as tentativas – especialmente a de Przeworski – de se contornar o problema através de redefinições do conceito de classe social que redundam na redução do nexo causal entre classe e conflito a uma circularidade tautológica. Preserva-se, não obstante, a relevância do conceito de classes sociais na análise sociológica – em termos muito próximos, senão idênticos, às formulações de Max Weber sobre o tema – como base freqüente, embora não necessária, da ação comunal.
para ler o artigo
completo, clique aqui
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5 de janeiro de 2010
Jon Elster e a democracia
Pirelli/MASP]
ENTREVISTA
JON ELSTER
A
CLAUDIA ANTUNES
Folha de S. Paulo,
17 jun. 2007
Essa entrevista de Elster à Folha, embora antiga, toca em dois pontos importantes, a meu ver: a necessidade de pensar a democracia deliberativa a partir de seus "mecanismos", e não apenas de valores; e a dificuldade do socialismo em manter as pessoas mobilizadas e interessadas em política todo o tempo.
FOLHA - Como vai a democracia no mundo, em sua opinião?
JON ELSTER - Eu considero que hoje só há uma escolha, entre democracia e ditadura; a possibilidade de um governo da elite ou da oligarquia está morta para sempre. Ninguém pode reivindicar superioridade em termos de riqueza, nascimento ou educação. Agora, o que vemos em alguns países como a Rússia é uma forma especial de democracia, que é autoritária. Embora baseada em eleições, é difícil dizer o quanto isso importa. Para uma democracia verdadeira, é preciso ter partidos políticos que se alternem no poder. É o teste para sabermos se estamos diante de um arremedo de democracia ou de uma democracia verdadeira. A Quinta República Francesa só provou ser uma democracia em 1981, quando os socialistas chegaram à Presidência.
FOLHA - Há o argumento de que partidos diferentes governam igual por causa da influência de oligarquias econômicas não eleitas.
ELSTER - Em primeiro lugar, eu não acho que isso se aplique à política externa. Um governo democrata nos EUA possivelmente não estaria numa guerra no Iraque. De maneira geral, há alguma correção no raciocínio de que, numa economia de mercado globalizada, há restrição às ações dos governos. Mas ela é muito ou pouco importante? Depende do país, das políticas. Não dá para generalizar.
FOLHA - O senhor defenderia o voto obrigatório em países onde a abstenção é alta, como os EUA?
ELSTER - Acho que dependeria de quais seriam as sanções para quem não votasse, ou a recompensa para quem votasse. É verdade que existe nos EUA um problema de participação democrática - o último presidente foi eleito por 29% dos eleitores, uma base popular muito pequena. Isso é perigoso.
FOLHA - O senhor diz que chegar a governos estáveis deve ser uma meta dos sistemas eleitorais. Como combinar representação justa e estabilidade?
ELSTER - Com compromissos. Para ter justiça, você pode ter representação proporcional; para ter alguma estabilidade, precisa ter uma cláusula de barreira de 3% ou até 5% dos votos, de modo que os pequenos partidos não possam chegar ao Parlamento. O voto proporcional pode gerar menos estabilidade do que o majoritário, mas pode levar a mais justiça.
FOLHA - O Congresso brasileiro debate a introdução de listas partidárias fechadas. É democrático?
ELSTER - Um sistema em que só os partidos podem designar a ordem dos eleitos é antidemocrático. O sistema ideal tem que combinar algum papel dos partidos na criação das listas mas também a possibilidade de os eleitores modificarem-na.
FOLHA - Que importância o senhor dá ao equilíbrio de poder entre as instituições do Estado?
ELSTER - Tanto a separação dos Poderes quanto a existência de pesos e contrapesos são importantes. Mas nos EUA, por exemplo, há contrapesos demais. O Senado americano é, acredito, uma instituição ridícula por causa do modo como é eleita, dando a todos os Estados o mesmo peso. Hoje, a Alemanha apresenta um bom equilíbrio. Embora tenha um modelo federativo, não dá poder igual a todos os Estados no Senado; há certa proporcionalidade.
FOLHA - O senhor é próximo de proponentes da chamada "democracia deliberativa", que enfatiza o consenso por meio do debate público mais do que a disputa político-eleitoral entre grupos de interesse. Qual a influência do alemão Jürgen Habermas em sua obra?
ELSTER - O meu trabalho sobre a democracia foi de certa maneira inspirado por Habermas. Mas há uma diferença fundamental: Habermas está mais preocupado com princípios normativos da deliberação e eu com os mecanismos de causa e efeito na deliberação e como características institucionais podem melhorar a qualidade da deliberação. Acho que as idéias de Habermas até certo ponto tolhem o debate de fato; quer dizer, as pessoas têm que falar e agir como se fossem "habermasianas".
FOLHA - Como se fossem neutras?
ELSTER - É, imparciais. Isso é o que chamo no meu trabalho de "a força civilizadora da hipocrisia". Então tento usar as idéias de Habermas para explicar o comportamento de pessoas de verdade que são constrangidas pelo meio público. Mesmo se as pessoas estão motivadas apenas pelos seus interesses individuais, as regras e mecanismos do debate público vão forçá-las a justificar suas posições em termos de interesse público. Isso limita o interesse particular, em alguma medida.
FOLHA - O que o senhor acha da idéia da democracia participativa, muito popular na América Latina?
ELSTER - Oscar Wilde disse que o problema do socialismo é que a semana só tem sete noites. Do mesmo modo, a democracia participativa às vezes parece exigir mais compromisso e mais recursos do que é razoável esperar das pessoas.
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3 de dezembro de 2009
o conceito de elite (I)

Life]
Adriano Codato
As posições de comando no espaço social – ao menos as posições políticas – estão repartidas entre as classes economicamente dominantes e as classes politicamente dirigentes.
A elite política, ou a “classe política” (tomadas aqui como sinônimos, portanto), são, conforme a distinção tradicional proposta por Gaetano Mosca em Sulla teorica dei governi e sul governo parlamentare, apenas uma parte daquele conjunto designado comumente pelo nome “classe dirigente”.
Apesar do emprego ambíguo dos dois termos por Mosca, como James Burnham notou (1) , a expressão ‘classe dirigente’ englobaria também, além da elite política, todos aqueles agentes que estão fora do Estado e fora do governo, mas que poderiam influenciar as decisões políticas, sem exercer diretamente, como a primeira, o poder.
Esse grupo incluiria várias “minorias” (politicamente desiguais entre si, note-se), como as econômicas, as religiosas, as intelectuais, as sociais. A classe política, ou a elite política, seria, por sua vez, uma subespécie da classe dirigente: é a parte da classe dirigente que estaria incumbida da tarefa de governar (2) .
Tal como eu penso que deva ser utilizada, a noção de elite (política) não substitui o conceito de classe (dominante), já que não são termos intercambiáveis (3) ; nem o emprego da expressão “classe política” deve significar, necessariamente, uma adesão do analista a todos os pressupostos teóricos da “teoria das elites” (ou do autor aos princípios normativos dos elitistas).
Notas:
1. Ver James Burnham. Los maquiavelistas: defensores de la libertad. 2ª. ed. Buenos Aires: Emecé, 1953, p. 99.
2. Ver James H. Meisel, The Mith of the Ruling Class: Gaetano Mosca and the “Elite”. Michigan: Ann Arbor Paperbacks; The University of Michigan Press, 1962, p. 37 e p. 160-161. Ver também Ettore A. Albertoni. Doutrina da classe política e teoria das elites. Rio de Janeiro: Imago, 1990, p. 68.
3. Ver Tom B. Bottomore, As elites e a sociedade. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1974, p. 14 e segs. Para a mesma ideia, conferir Anthony Giddens, A estrutura de classes das sociedades avançadas. Rio de Janeiro: Zahar, 1975, p. 145 e segs.
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o conceito de elite (II)

Life]
Adriano Codato
Esses dois termos – ‘classe’ e ‘elite’ – apenas assinalam, com nomes diferentes, coisas diferentes. Eles também não precisam ser opostos ou incompatíveis (4) .
Uma forma produtiva de evitar o ecletismo teórico e acatar a coabitação das duas ideias num mesmo discurso científico (ou mais propriamente, das duas dimensões da realidade social que os dois vocábulos delimitam e descrevem: estratificação social, no primeiro caso, e hierarquia política, no segundo), é ter presente, na análise dos processos de recrutamento para posições de elite e na análise dos processos de tomada de decisões por parte dessa elite, aquilo que Anthony Giddens designou por “mediação institucional do poder”, isto é, a forma geral do Estado (o “jurídico-político”, na terminologia dos marxistas) e o estado geral da economia (o “econômico”, idem) e suas influências sobre o exercício do poder (5) .
Essa exigência implica em considerar na análise tanto do alistamento quanto do comportamento da classe política, uma série de assuntos incontornáveis já devidamente enfatizados, entre outros autores, por Offe e Wiesenthal.
As condições sociais de acesso a postos de elite, o controle desigual de recursos de poder e o grau variável de influência de um grupo político específico estão condicionados (ainda que não exclusivamente) por sua posição na estrutura social (6) .
Em termos “geográficos”: esses grupos podem estar em posições mais altas ou mais baixas na estrutura social; mais próximos ou mais distantes dos centros de poder político, dentro ou fora dos sistemas de propriedade econômica etc. Isso determina de antemão a estrutura de oportunidades políticas (7) e qualifica desde logo quem pode e quem não pode ascender a posições de elite.
Por outro lado, nem todos aqueles que fazem parte da “classe dominante” integram a “classe política”. Essas diferenciações podem ser ora pressupostos da análise, ora objeto de uma demonstração lógica ou empírica.
Notas:
4. Para uma análise da relação entre o conceito de elite e o conceito de classe dominante, tanto no marxismo “elitista” (T. Bottomore, R. Miliband), quanto no elitismo renovado (Wright Mills, G. W. Domhoff) ver Danilo Enrico Martuscelli, Para uma crítica ao marxismo elitista. Paper apresentado no 31º Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu (MG), 2007, p. 14-19.
5. Ver Anthony Giddens, Preface. In: Stanworth, Philip e Giddens, Anthony (eds.), Elites and Power in British Society, op. cit., p. xi-xii.
6. Ver Claus Offe e Helmut Wiesenthal, Duas lógicas da ação coletiva: anotações teóricas sobre classe social e forma organizacional. In: Offe, Claus. Problemas estruturais do Estado capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984, p. 56-118.
7. Para a expressão, ver Sidney Tarrow, Power in Movement: Collective Action, Social Movements, and Politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1994.
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o conceito de elite (III)

Life]
Adriano Codato
O uso recorrente no discurso científico da palavra “elite” – e da expressão “elite política”, ou mais raramente, “classe política” – pode ter um sentido apenas descritivo.
Com elas, o cientista social refere-se a uma unidade empírica sujeita a observação e medição (8) .
Através desse termo, cujo sentido traz (e trai) consigo três ideias: a de minoria, a de hierarquia e a de distinção (no sentido sociológico, não social), eu penso que se deva designar o grupo especializado de políticos profissionais (se se quiser, os políticos de carreira) que controlam recursos políticos (posições institucionais no Estado, por exemplo), comandam organizações políticas (partidos, por exemplo) e exercem as funções de governo (no Executivo e no Legislativo).
Eles têm na atividade política seu meio de vida e o poder político como seu objetivo exclusivo, como Max Weber já definiu (9) .
Ainda que esteja de acordo com o mais singelo senso comum, não custa lembrar que “alguém que participe ativamente da política luta pelo poder e pode fazê-lo de duas maneiras: como um meio para atingir outros fins (que podem ser altruístas ou egoístas), ou como um meio de alcançar o ‘poder pelo poder’, isto é, para desfrutar da sensação de prestígio que decorre da sua posse” (10) .
O poder pode ser um meio, como na relação de representação, ou um fim, como na situação, mais frequente do que se imagina, de auto-representação.
Em ambos os casos, os profissionais da política são uma unidade de análise (um grupo funcional) ligados às classes, camadas ou categorias sociais (por suas “origens”), mas separados delas por suas funções e papéis no sistema de dominação.
Michel Offerlé possivelmente exagera um pouco, mas não contradiz o aspecto que quero ressaltar aqui, ao afirmar que as posições políticas “não são mais analisáveis a partir das propriedades [sociais] de seus ocupantes, mas pelas propriedades posicionais e situacionais que permitem defini-las” (11) .
Notas:
8. Ver Ricardo Cinta, Estructura de clases, élite del poder y pluralismo político. Revista Mexicana de Sociologia, vol. 39, n. 2, abr.-jun. 1977, p. 443.
9. Anthony King propõe uma definição mais melodramática: “políticos de carreira par excellence” são “homens e mulheres que comem, dormem e até sonham com política”. Ver The Rise of the Career Politician in Britain and its Consequences. British Journal of Political Science, vol. 11, n. 3, jul. 1981, p. 269.
10. Max Weber, The Profession and Vocation of Politics. In: Lassman, Peter & Speirs, Ronald (eds.), Weber: Political Writings. Cambridge: Cambridge University Press, 1994, p. 311.
11. Michel Offerlé (dir.), La profession politique, XIXe-XXe siècles. Paris: Belin, 1999, p. 10.
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25 de novembro de 2009
a ciência política e o Nobel de economia

Exposição Industrial, 1960.
Hans Günther Flieg.
Pirelli/MASP]
Fábio Wanderley Reis
Valor Econômico,
19 out. 2009
O prêmio Nobel de economia tem sido outorgado a especialistas de perfil diverso quanto às perspectivas adotadas sobre o instrumental analítico da disciplina e suas consequências para as relações com disciplinas afins. Um perfil se ilustra com Gary Becker (1992), talvez o melhor exemplo de economista a tratar simplesmente de estender os postulados e instrumentos da análise neoclássica tradicional a novas áreas temáticas e a buscar a teoria econômica do crime, da família ou do comportamento humano em geral. Ele contrasta fortemente, por exemplo, com George Akerlof (2001), empenhado em trazer à análise tradicional intuições sociológicas (e psicológicas, antropológicas: fazer uma "psycho-socio-anthropo-economics", como formula ele próprio em texto de 1984), ou com Daniel Kahneman (2002), um dos principais responsáveis pela introdução do que se tornou conhecido como a "economia comportamental", atenta às dificuldades envolvidas na adesão ao postulado de racionalidade dos agentes.
Este ano, a balança pendeu claramente para o lado inclinado a revisões e reorientações. Além de Oliver Williamson, economista que, contra os neoclássicos, salienta os "custos de transação", contrapõe hierarquias a mercados e se dedica a problemas de "governança", temos Elinor Ostrom, que, além de mulher (a primeira a ganhar o prêmio), não é sequer economista, e sim cientista política. Seu trabalho se insere numa linha que, incluindo profissionais de várias áreas e pretendendo mesmo eventualmente unificar as "ciências do comportamento", tem permitido, internamente à ciência política, a oposição criativa à intensa penetração do campo pelos supostos e instrumentos da economia neoclássica ocorrida no último meio século, com a difusão da chamada abordagem da "escolha racional". Um artigo recente ("Policies That Crowd out Reciprocity and Collective Action", 2005) dá acesso, em forma sintética, a aspectos salientes da empreitada.
O ponto crucial pode ser posto em termos de questionar o que se tornou conhecido, desde um trabalho de Mancur Olson que se inscreve entre os pioneiros na afirmação do "imperialismo" da economia ("A Lógica da Ação Coletiva"), como o "dilema da ação coletiva": indivíduos descritos às vezes como "egoístas racionais", aptos ao cálculo orientado pelo interesse próprio, especialmente interesses materiais, tenderão a não agir de maneira condizente com o interesse coletivo, e a realização deste exigiria que eles fossem expostos a "incentivos seletivos" (ou remunerados ou coagidos, em particular pelo Estado) para se obter a conduta apropriada. Em contraste, a perspectiva de Ostrom e outros sustenta que a melhor suposição para explicar o comportamento humano não seria a referida à mera disposição à maximização de ganhos ou utilidades, mas sim a de que existem múltiplos tipos de indivíduos ou agentes. Teríamos especialmente, ao lado dos egoístas racionais, gente guiada pela "lógica da reciprocidade", que manifestaria o que os autores chamam de "reciprocidade forte", ou seja, a disposição, por um lado, de cooperar, mesmo a algum custo pessoal, com outros que mostrem disposição análoga, mas também, por outro lado, a disposição de punir os que violam a norma de cooperação, igualmente mesmo se a punição envolver custos pessoais. Essa lógica é encontrada em operação em variados estudos de campo e investigações experimentais, particularmente em ambientes distintos dos de mercados altamente competitivos. Ela é afim às comunidades caracterizadas por relações face a face, em que os indivíduos podem cada qual observar o comportamento dos outros e em que se têm condições propícias ao surgimento de regras e instituições autônomas, criadas pelos próprios agentes envolvidos. E destaca-se que a intervenção do Estado, que a lógica do dilema da ação coletiva torna fatal, surge aqui como incerta em seus efeitos: ela pode ocasionalmente estimular o ânimo de colaboração, se percebida como complementar e convergente com os mecanismos comunitários, mas pode também opor-se a ele e eventualmente extingui-lo, concorrendo, por exemplo, para colocar em dúvida a disposição cooperativa dos demais.
A perspectiva geral, especialmente em sua articulação com disciplinas como a biologia evolucionária e em suas ambições multidisciplinares ou transdisciplinares, é com certeza promissora. Mas mesmo esta brevíssima apresentação de algumas de suas sugestões já permite visualizar também as dificuldades. Em particular, o problema de escala e certos desdobramentos dele. O dilema da ação coletiva de Olson é formulado com referência explícita a grupos de grandes dimensões, denominados grupos "latentes", onde a impossibilidade da informação e do controle sobre o comportamento dos demais coloca um insolúvel problema de coordenação em que, no limite, se torna também impossível para cada um agir de maneira que viesse a ser coletivamente racional. Se os problemas se dão em escala que ultrapasse a da comunidade de relações face a face, como resolver a dificuldade de chegar a apreender cognitivamente se os outros estão fazendo a sua parte para aplicar a solidariedade condicional da lógica da reciprocidade? Se a disposição confiante que a colaboração exigiria depende de expectativas, com seu componente informacional ou cognitivo, como condicionar expectativas para começar a implantar a confiança em circunstâncias em que a própria lógica da reciprocidade não justificaria presumi-la?
Talvez infelizmente, não há como evitar que o desafio seja justamente o de assegurar que o mercado definido por relações entre estranhos seja também uma comunidade, como quis Max Weber. E se o Estado é o instrumento indispensável disso, tampouco há como escapar, fechando o círculo complicado, do condicionamento do próprio Estado por um substrato de relações mercantis e de enfrentamento de interesses.
Fábio Wanderley Reis é cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais.
cit. a partir de http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=3594
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31 de agosto de 2009
notas sobre el 18 brumario de Marx y la investigación política de orientación materialista

[Alexander Rodchenko]
Adriano Codato[1]
Norberto Bobbio censuró la obsesión de los marxistas por los textos clásicos del marxismo y por el frecuente “abuso del principio de autoridad”, un mal hábito que los conducía a leer y releer “siempre los mismos libros” para señalar las verdades ya sabidas por la teoría política no-marxista (el problema, viejo como el mundo, del control del poder y de los poderosos por la sociedad, por ejemplo), o para buscar soluciones antiguas e inadecuadas para una controversia importante, mas no superada: la vinculación entre el socialismo y la democracia. A ese respeto, las “famosas, por demás famosas” indicaciones que Marx extrajo de la experiencia política de la Comuna de París fueron ampliamente insuficientes para resolver el problema práctico de las relaciones entre la organización del Estado obrero y la democracia postcapitalista. Para el caso, la invocación de las lecciones de La guerra civil en Francia solamente sirvió como homenaje póstumo o como retórica vacía, que contribuyó, en verdad, para aplazar la discusión de los problemas reales[2].
Aunque no muy distante de la verdad tal vez sea preciso, sin conceder a la escolástica marxista, reafirmar el interés – teórico y político – por un libro clásico, El 18 Brumario de Luis Bonaparte, e indagar lo que tiene que decir para la Ciencia Política contemporánea, sobre el análisis político, y a propósito del propio marxismo como una teoría de la política y de la sociedad.
No sería arriesgado afirmar que El 18 Brumario puede ser tomado, al lado del Capital y del Manifiesto Comunista, como uno de los trabajos más afamados de Marx – sobre todo cuando el segundo ha cesado, al menos por ahora, de influir en la reflexión contemporánea sobre “la economía”, y el tercero sobre la práctica del movimiento de los trabajadores. El 18 Brumario, al contrario, continúa siendo objeto de admiración, incluso en círculos no marxistas.
Hay sobre ese libro, publicado por la primera vez en alemán en Nueva York, en mayo de 1852 (en el número 1 de un periódico – Die Revolution – que estampaba el curioso aviso: “revista publicada sin periodicidad”), una extensa reputación francamente favorable.
No es difícil recoger, delante del “trabajo genial”[3] de Marx, evaluaciones altamente positivas, y probablemente mucho menos parciales que la de Engels. Para Isaiah Berlin se trata de “un brillante análisis del papel del Estado francés” basado en un “estilo [...] luminoso”[4]. El propio C. Lévi-Strauss confesó una vez que era “raro [intentar] resolver cualquier problema de sociología o de etnología sin, antes, estimular [la] reflexión con algunas páginas de El 18 Brumario de Luis Bonaparte o de la Crítica de la Economía Política”[5].
El libro, como la mayor parte de los textos políticos de Marx, tiene una historia accidentada y una reputación tardía. Fue escrito, en la forma de siete artículos, entre diciembre de 1851 y marzo de 1852, a partir de la solicitud de Joseph Weydemeyer para un semanario político norteamericano cuya edición fue suspendida en el número 2 por razones económicas.
Después de ese primer fracaso, El 18 Brumario, cuyo texto Marx pensó ofrecer al New York Daily Tribune, fue publicado por primera vez gracias a la colaboración de varios amigos entre ellos un sastre, emigrado de Frankfurt a Nueva York, que invirtió su economía en el proyecto, en la recién creada revista de Weydemeyer Die Revolution. El tiraje de ese primer número – cuyo título figura erróneamente como “Der 18te Brumaire des Louis Napoléon” – quedó entre 500 y 1000 ejemplares. En julio de 1852 Marx recibió sólo tres ejemplares y en octubre otros 130, que en función de la censura política tendrían una divulgación bastante precaria y clandestina en Alemania[6].
Reiterando una pregunta aparentemente indiscutible: ¿se puede aún leer Marx? Y, en la línea de la pregunta propuesta por Claude Lefort a propósito de un texto mucho menos celebrado hoy en día – el Manifiesto Comunista[7]: ¿se puede aún leer El 18 Brumario de Luis Bonaparte?
Si el impacto del libro sobre la comunidad académica ha disminuido progresivamente desde 1980 (como, del resto, del marxismo en general), son innumerables los estudios hechos sobre ese texto de Marx y, tal vez más significativo, innumerables las interpretaciones que él suscita.
Una enumeración nada exhaustiva de esos análisis, a partir de abordajes e intereses muy diversificados, incluiría temáticas bastante singulares tales como: la aproximación, propuesta por Petrey, entre El 18 Brumario de Luis Bonaparte y El Coronel Chabert, de Balzac, para pensar el lugar y la función de los mitos colectivos y de las ficciones ideológicas[8]; la crítica de Bovenkerk a la preconcebida insistencia de Marx (y de Engels) en relación al papel contra-revolucionario del lumpen-proletariado[9]; el descubrimiento de Rose de que la preocupación ostensible de Marx con Napoleón III encubriría, en la verdad, una crítica tácita a la política de Federico Guillermo IV de Prusia[10]; o aún la clasificación de Riquelme del estilo del libro – “comedia-drama”– como un artificio formal para volver a crear simbólicamente la Historia[11].
En la actualidad, la importancia y el provecho de la lectura de este texto residen, a mi criterio, en tres aspectos complementarios y que implican tres áreas diferentes:
En primer lugar, para la ciencia política contemporánea.
Cuando se inventaría la lista de temas presentes o sólo sugeridos en El 18 Brumario – desde el más general: el de la relación entre la política y la sociedad, hasta los más específicos: la representación política (sean sus aspectos simbólicos, sean sus aspectos efectivos): el ascenso de la burocracia, el pretorianismo político; las motivaciones no-económicas de la acción; la evolución/transformación de un régimen político, etcétera[12] – resalta que la “agenda de investigación” dominante de la disciplina, o simplemente ignora las reflexiones complejas sobre esos problemas y las soluciones propias de esos problemas, o dialoga con una versión del “marxismo” del todo extraña a la sofisticación y sutileza (pero también a las ambigüedades y a las complejidades) de las ideas de Marx y Engels sobre la política.
La dificultad más sintomática de ese olvido sistemático se refleja en los estudios de las “instituciones” y, más exactamente, en su entronización como una variable explicativa por excelencia, lo que ha conducido a una indiferencia creciente por la dimensión social de la vida social, por más paradojal que eso pueda ser. En vista de eso, algunos homenajes al libro y al autor (cuando los hay) permanecen puramente rituales y protocolares; y la frase “Es bajo el segundo Bonaparte cuando el Estado parece haber adquirido una completa autonomía de la sociedad [...]. Y sin embargo, el poder del Estado no flota en el aire. Bonaparte representa a una clase [...]”[13], es sólo una frase que evoca el estilo exuberante del libro – y no un principio explicativo que recuerda la utilidad del análisis social de la política y el análisis político de la sociedad.
Se trata finalmente, según la versión corriente, de un “clásico” listo para ser olvidado. Esa actitud es simétrica a aquella “relación tradicionalista con la tradición”[14], como la designa Pierre Bourdieu y reprobada arriba por Bobbio, justamente porque asume inconscientemente un axioma – el papel de las “instituciones” – para convertirlo en presupuesto cuya verdad es demasiado obvia para ser olvidada, y demasiado exacta para ser demostrada.
En segundo lugar, el libro mantiene aún su interés para el análisis de la política contemporánea.
La persistencia, en la actualidad, de ciertos problemas que una lectura menos académica de El 18 Brumario permite ver – sobre todo cuando se considera (para hablar en el lenguaje ideológico corriente) la “espectacularización” de la política (y su traducción “mediática”), la crisis de las formas tradicionales de representación de los intereses políticos (la forma “partido”) o la anteposición de la dimensión nacional de la decisión política (la “crisis” del Estado nacional) – no autoriza, es cierto, a tomarlo por un vademécum del comentarista político. Pero tampoco descarta el interés y la introducción del análisis materialista de la vida política, punto que constituye precisamente, de acuerdo con Engels, el leitmotiv del texto[15]. La comparación que el propio Marx hace de su explicación del golpe del 2 de diciembre con las dos interpretaciones rivales (de Víctor Hugo, Napoleón, le petit y de P.-J. Proudhon, Coup d´Etat) es una buena medida de lo que se quiere decir.
La pretensión de descartar el golpe de Estado del dominio subjetivo y voluntarista de un individuo, pretendidamente dotado de “un poder personal de iniciativa sin paralelo en la historia universal”[16], y explicar ese evento (el golpe) a la luz de un proceso (una lucha de clases), no es una operación trivial. Exige al menos la separación de lo coyuntural de aquello que es estructural; exige poner atención entre lo que es evidente y lo que es disimulado; exige también percibir la diferencia entre lo que es sólo discurso y aquello que es práctica efectiva. Así, la consideración de algunos problemas contemporáneos – el poder (o la ausencia de poder) del Estado; los intereses “egoístas” de la burocracia; las “voluntades” de los electores; la “lógica propia” de los partidos, de los políticos y, en fin, del universo político – podría ser hecha de modo menos simplificado si se atuviese a las causas reales y no a sus efectos aparentes.
Sin embargo, el método empleado en El 18 Brumario obliga igualmente al analista contemporáneo a reconocer la influencia de lo circunstancial sobre aquello que es permanente, de las justificaciones (ideológicas) sobre los intereses (económicos), de las representaciones imaginarias sobre el “mundo profano”[17]. ¿No es precisamente con esa idea – la eficacia simbólica de lo político – que comienza el libro?
Cuando los hombres “se disponen precisamente a revolucionarse y a revolucionar las cosas, a crear algo nunca visto, en estas épocas de crisis revolucionaria es precisamente cuando conjuran temerosos en su auxilio los espíritus del pasado, toman prestados sus nombres, sus consignas de guerra, su ropaje, para, con este disfraz de vejez venerable y este lenguaje prestado, representar la nueva escena de la historia universal”[18]. Y en ese aspecto no necesitamos ir tan lejos: el “18 Brumario” del título señala, irónicamente, esa proyección de lo nuevo en lo viejo. La fecha alusiva escogida por Marx, a partir de la sugerencia de Engels, se refiere al 9 de noviembre de 1799 en el calendario revolucionario francés y marca el día en que Napoleón Bonaparte (el tío) se convirtió en emperador gracias también a un golpe de Estado[19].
Un comentario adicional: frecuentemente en los famosos “análisis de coyuntura”, se apela más al carácter alegórico del lenguaje empleado por Marx (la serie infinita de metáforas, metonimias, sinécdoques) que al sentido preciso de ciertas nociones o ideas, forjadas para comprender un proceso político concreto, que posee el discurso marxiano. Una variante de ese procedimiento formalista es tomar las analogías entre situaciones (el régimen “bonapartista” y el régimen “militar”, por ejemplo) por explicaciones completas.
Por último, el libro mantiene su interés en la teoría política marxista, clásica y contemporánea.
El 18 Brumario Luis Bonaparte es el retrato de una situación histórica única –los conflictos de la II República en Francia entre 1848 y 1851- por medio de la exposición sistemática de un “conjunto innumerable de fuerzas que se entrecruzan”[20] para producir un resultado concreto: el golpe del 2 de diciembre. Sin embargo, la exposición de esa dinámica política peculiar no es solamente descripción; quiere expresar relaciones significativas entre los acontecimientos políticos, ideológicos, sociales y las condiciones económicas en general. Del mismo modo, al determinar la génesis de la “dictadura de Bonaparte”[21] (18 Br., p. 524), Marx termina por indicar no sólo cuáles son las instituciones que constituyen ese régimen político en particular (las “idées napoléniennes”), sino también el modo de funcionamiento del propio Estado capitalista: una “máquina […] consolidada” y aparentemente opuesta a la “sociedad civil” [22] (18 Br., (18 Br., p. 535 p. 532).
Todavía, las múltiples dimensiones teóricas de la obra sugieren que sería superfluo simplemente ejercitar un comentario erudito sobre la política europea del siglo XIX para encontrar factualmente, frente al “caso francés”, dónde Marx acertó, y dónde erró.
Un camino más productivo, ya recorrido por varios autores, enfatizó que la lectura del libro permitiría al marxismo avanzar en muchas direcciones nuevas: en el desarrollo de una teoría del Estado capitalista (contraria al “instrumentalismo”); en la reformulación de una teoría de la ideología y de las superestructuras culturales en general (contraria al “mecanicismo”); en la comprensión del problema de las clases sociales (contraria al “economicismo”), etcétera.
La interpretación de J. Maguire, por ejemplo, estableció que sería un error afirmar que, para Marx, todas las motivaciones de la acción política son exclusivamente “económicas”; la de N. Poulantzas indicó que habría ciertas nociones políticas (“conceptos en estado práctico”) presentes en El 18 Brumário de Luis Bonaparte indispensables para formular (y no simplemente extraer) una teoría marxista del Estado capitalista; la lectura de R. Miliband a propósito del fenómeno del “bonapartismo” profundizó la comprensión de los regímenes dictatoriales[23]. Y así sucesivamente.
Hay aún una otra posibilidad de explorar el libro.
¿Por qué no llevar el texto hacia su propia tradición? Es posible que un programa de investigación útil pueda, además de comprender la obra en sí misma (que implica tomar El 18 Brumario de Marx en cuanto texto), o extraer del libro un tipo especifico de análisis político, referente a la coyuntura histórica francesa de la primera mitad del siglo XIX, con miras a la centralidad de la “lucha de clases” como categoría fundante del análisis (que implica tomar El 18 Brumario en su contexto), acompañar, en el libro, la reflexión marxiana sobre la totalidad social, tratando concretamente de la relación entre los niveles constitutivos del modo de producción capitalista, i.e., la relación base-superestructura, para, a partir de ahí, comprender la “teoría” de Marx (que implica tomar El 18 Brumario, finalmente, en cuanto pretexto).
Ese procedimiento permite que se aprehenda el proceso de elaboración conceptual marxiano de los acontecimientos históricos, pero también y principalmente ciertos principios que, desde un punto de vista materialista, tornaron inteligibles los procesos políticos bajo el modo de producción capitalista.