artigo recomendado

Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections
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25 de julho de 2011

novas agendas da ciência política brasileira


[Entreposto de Carne, 1975
São Paulo, SP
Ameris Paolini.

Pirelli/MASP]

Adriano Codato 
(em colaboração com 
Fernando Leite)

Evento: II Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
Mesa-redonda com Eduardo Noronha (UFSCar), Adriano Codato (UFPR) e Bruno Reis (UFMG) para falar sobre as "Novas Agendas na Ciência Política Brasileira". 
Em 20 jul. 2011.

O objetivo desta palestra é expor, em linhas bem gerais, a estrutura (cultural e institucional) da Ciência Política brasileira a partir da produção veiculada em seus principais periódicos e elaborar uma explicação sociológica para ela.

Esse objetivo se insere em uma pesquisa mais ampla. Os dados aqui apresentados foram todos coletados, compilados e apresentados por Fernando leite, com quem eu colaboro na pesquisa, na dissertação: Divisões temáticas e teórico-metodológicas na Ciência Política brasileira: explicando sua produção acadêmica (2004-2008), Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Paraná, UFPR, 2010.

A pesquisa sobre o campo científico da Ciência Política brasileira, imaginamos, envolve três momentos.

O primeiro consiste em uma análise estatística da produção acadêmica, contemplando o período de 2004 a 2008 a partir dos principais periódicos da área: Dados, Revista Brasileira de Ciências Sociais, Revista de Sociologia e Política, Lua Nova, Opinião Pública, Brazilian Political Science Review e Crítica Marxista.

O segundo momento envolve uma análise histórica e uma análise institucional em que se constroem algumas hipóteses para determinar pelo menos duas coisas: a situação identificada; como se chegou a ela.

Um terceiro momento previsto tentará estabelecer, a partir da interpretação, as possíveis relações de dominância e subordinação (as hierarquias) em termos de prestígio e poder institucional entre instituições, agentes e produção científica na Ciência Política brasileira.

Aqui vou apresentar brevemente alguns resultados do primeiro passo dessa pesquisa. Ele consistiu em uma investigação sobre tipos de abordagens e áreas temáticas privilegiadas a partir de 364 artigos publicados nessas revistas (exceto Crítica Marxista).


para ler a conferência completa,
clique aqui (em breve)

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3 de dezembro de 2010

ciência política e história

[Ed Clark.
Paris, 1946.
Life] 

Adriano Codato et al.

Uma inspeção rápida do que se vem produzindo na Ciência Política brasileira constatará que os estudos tem se caracterizado cada vez mais pelo “presentismo”. Isso não se deve apenas ao fato de os objetos de pesquisa serem cada vez mais contemporâneos dos pesquisadores, mas à perda da dimensão histórica das problemáticas e das análises.

Mesmo sem assumir o desafio proposto por Tilly (1985) há mais de duas décadas, voltar a estudar “grandes estruturas” e “processos de larga escala” a fim de produzir “enormes comparações”, a abordagem histórica permite um ganho considerável para o cientista político. Através dela consegue-se sugerir interações entre sequências causais que convergem num determinado momento e que podem explicar eventos específicos. É o caso do estudo de “conjunturas críticas” (como colapsos de regimes políticos, por exemplo) ou de investigações interessadas na reconstrução da sócio-gênese de um fenômeno ou instituição política. Modelos muito formalizados, postulados teóricos universais e tipologias abstratas tendem a perder relações causais mais complexas, ignorar hipóteses válidas, desconsiderar importantes processos políticos e o modo pelo qual afetam o mundo social. Daí a importância do cientista político olhar não para o passado, mas, como advertiram Pierson e Skocpol (2002), para “processos ao longo do tempo”.

Essa volta aqui sugerida tem a ver então com a necessidade de recuperar a dimensão histórica para os estudos políticos. Nesse movimento, deve-se, todavia, evitar ao máximo três estilos discutíveis de retorno à história: o estudo do passado por si mesmo, esforço que em geral termina em descrições de fenômenos únicos e de interesse limitado no tempo e no espaço; o estudo do passado a fim de encontrar indícios, evidências ou exemplos para ilustrar e confirmar uma teoria ou um modelo explicativo construído a priori; e o estudo do passado como um depósito onde se buscam casos para comparação com problemas do presente, esses sim objetos de interesse efetivo.

Nos últimos anos, na cena acadêmica internacional, vem-se observando uma revitalização de estilos de teorização política informados pelo conhecimento histórico. Mesmo num contexto em que há um predomínio na Ciência Política de disposições naturalizantes e de reflexões descontextualizadas, as abordagens historicistas da Teoria Política vêm-se apresentando como alternativas à polarização entre as modalidades de teorização de natureza estritamente instrumental (em que a teoria desempenha o papel subordinado de simples meio para o balizamento de pesquisas empíricas), e as modalidades estritamente filosófico-normativas (em que a teoria destina-se à afirmação de modelos ideais de sociedade ou de ordens jurídico-políticas).

Exemplo desta confluência entre Ciência Política e História no domínio da teoria pode ser acompanhado no novo fôlego dos estudos sobre teoria política republicana. Nas décadas recentes eles assumiram um contorno em que a teoria política normativa nutre-se de estudos sobre as idéias do passado, ao passo que a história (especificamente a história do pensamento político) utiliza-se do ferramental teórico elaborado pelos politólogos para manusear seus próprios objetos de estudo. Além disso, a história do pensamento político produz, ao ser escrita, teoria política, fornecendo ao analista contemporâneo um manancial de consulta que auxilia na resposta aos problemas atuais, já que promove a desnaturalização das noções políticas que esposamos atualmente, permitindo novos cursos de ação e de ideias (Skinner, 1996; Pettit, 1997).

Do lado das análises empíricas em Ciência Política, há um movimento na mesma direção, seja por parte dos estudos apoiados no neo-institucionalismo histórico, seja nas análises que enfatizam a dependência da trajetória histórica para a compreensão de determinados fenômenos políticos (path dependence). Todavia, não se trata apenas de reconhecer que “a história importa”, isto é, que escolhas feitas no passado produzem efeitos mais adiante, preceito que vale tanto para firmas privadas quanto para Estados nacionais. A virada histórica que desde o início da década vem influenciando cientistas políticos empiricamente orientados pretende significar uma mudança teórica mais profunda e mais radical que a do neo-institucionalismo histórico. Como resumiu Paul Pierson (2004), o entendimento de processos e práticas políticas implica em comutar o foco centrado em grandes leis causais para estudos de mecanismos sociais específicos. As explanações daí derivadas estão baseadas em hipóteses formuladas explicitamente sob certas condições limitantes, que são “tempo” e “lugar”. A vantagem mais evidente desse enfoque é que ele permite contrapor-se a explicações deduzidas de grandes teorias, onde o fato histórico comparece apenas como um exemplo ilustrativo, ou contrapor-se a explicações baseadas em tipologias, em que o caso é classificado (e supostamente explicado) conforme a distância maior ou menor em relação a modelos construídos por abstração a partir de exemplos selecionados como base em critérios eles mesmos discutíveis. Ainda que não seja uma revelação, os preceitos dessa estratégia de análise indicam que pensar em termos de “tempo” e “lugar” é pensar em termos de contextos históricos.

Análises desse tipo – cujo fundamento são teorias de médio alcance, hipóteses verificáveis, e não postulados teóricos universais – têm encontrado um reforço bastante positivo nas mudanças recentes da História (a disciplina), seja porque voltou à tona a narrativa explicativa, isto é, a procura de respostas nos estudos históricos a uma questão de tipo “por quê?”, seja porque os próprios historiadores, ao que parece, estão novamente atentos, apesar de tudo, para causas, origens e consequências no estudo de acontecimentos discretos (Weinstein, 2003). Resulta portanto que o mais prudente é evitar, para usar a frase publicitária de Yves Déloye (1999), o confronto e o desquite entre “o arquivo e o conceito”.

Referências

DÉLOYE, Yves. Sociologia histórica do político. Bauru: EDUSC, 1999.
KOSELLECK, R. Futuro Passado. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.
PETTIT, P. Republicanism: A Theory of Freedom and Government. Oxford: Oxford University Press, 1997.
ROSANVALLON, P. Por uma história conceitual do político (nota de trabalho). Revista Brasileira de História, vol. 15, n. 30, 1995.
SKINNER, Q. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
TUCK, R. História do pensamento político. In: BURKE, Peter. (org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1992.
PIERSON, Paul e SKOCPOL, Theda. Historical Institutionalism in Contemporary Political Science. In: Katznelson, Ira & Milner, Helen V. (eds). Political Science: State of the Discipline. New York: W.W. Norton, 2002, p. 693-721.
PIERSON, Paul. Politics in Time: History, Institutions, and Social Analysis. Princeton e Oxford: Princeton University Press, 2004.
TILLY, Charles. Big structures, large processes, huge comparisons. New York: Russell Sage Foundation, 1985.
WEINSTEIN, Barbara. História sem causa? A nova história cultural, a grande narrativa e o dilema pós-colonial. História, vol. 22, n. 2, p. 185-210, 2003.
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7 de março de 2010

política e região: programa de curso na ufpr (2010/1)

[Elemento Terra, 1989.
Terra Roxa, SP.
Delfim Martins.
Pirelli/MASP]

Abaixo o programa provisório do curso "Política e Região" às terças-feiras a noite na UFPR. O curso será dividido com Camila Tribess

O objetivo do curso é, além do de superar o padrão escolar tradicional das disciplinas convencionais, contruir uma plataforma empírica e teórica para o estudo da dinâmica política em contextos subnacionais. Para tanto uma série diferente de atividades estão programadas.

Pode-se dizer que o curso se organiza mais como um laboratório de aulas práticas do que uma disciplina regular. É importante notar que todos os estudantes deverão fazer o curso de SPSS oferecido durante a disciplina e que este é um pré-requisito para seguir neste curso.

Na primeira parte, mais "teórica", haverá, além das aulas, seminários sobre as referências indicadas sobre política regional. Os seminários serão apresentados por dois alunos e serão destacados mais dois alunos como debatedores. Todos os demais devem enviar ANTES DO SEMINÁRIO questões e comentários sobre os textos por e-mail para a lista de discussão do curso [politica-e-regiao@googlegroups.com]. Todos os dois apresentadores e os dois debatedores deverão entregar após o seminário um relatório sobre a atividade.

HC160 – POLÍTICA E REGIÃO [clique aqui para baixar o programa em pdf]
UFPR Ed. D. Pedro II sala 606
TERÇAS, 18h30min – 22h20min
politica-e-regiao@googlegroups.com 

Programa e cronograma 
Aula/data
Conteúdo

APRESENTAÇÃO DO CURSO
Aula 1.    9 março: A nova agenda de pesquisas do federalismo brasileiro
SEMINÁRIOS/AULAS

Aula 2.    16 março: Teses e teorias sobre o federalismo
Aula 3.    23 março: Relações políticas entre executivos estaduais e bancadas federais
Aula 4.    30 março: Processos decisórios e políticas de governo no contexto do federalismo
Aula 5.    5, 6 e 7 abril
  • Curso SPSS das 14h às 18h (Bruno Bolognesi; UFSCAR)
Aula 6.    13 abril: As elites políticas estaduais
  • DANTAS NETO, P. F. O carlismo para além de ACM: estratégias adaptativas de uma elite estadual. In SOUZA, Celina e DANTAS NETO, Paulo Fábio (orgs.). Governo, elites políticas e políticas públicas nos estados brasileiros. Rio de Janeiro: Revan, 2006. (comentário 4)
  • PERISSINOTO, Renato; COSTA, Luiz Domingos  e  TRIBESS, Camila. Origem social dos parlamentares paranaenses (1995-2006): alguns achados e algumas questões de pesquisa.  Sociologias [online]. 2009, n.22, pp. 280-313. (seminário 8)
  • ABU-EL-HAJ, J. Classe, poder e administração pública no Ceará. In: Parente, J. e Arruda, J. M. (orgs.). A Era Jereissati: modernidade e mito. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2002. 
  • CODATO, Adriano e GOUVÊA, Julio Cesar. Os atributos da elite político-administrativa: uma visão descritiva dos ocupantes dos empregos políticos no Paraná. In Perissinotto, Renato Monseff et al. (orgs.). Quem governa? Um estudo das elites políticas do Paraná. Curitiba: Editora UFPR, 2007, p. 49-67.
Aula 7.    20 abril:
Aula 8.    27 abril: A dinâmica do universo das elites políticas no contexto do federalismo
ATIVIDADE PRÁTICA

Aula 9.    4 maio
  • Apresentação dos bancos de dados sobre elites políticas regionais do NUSP (Renato Perissinotto). Análise dos dados das elites políticas do estado do Paraná (bancos das elites legislativas, administrativas e partidárias dos governos Lerner e Requião – do NUSP), com elaboração do problema empírico e teórico para o paper.
Aula 10.    11 maio
  • Seleção de casos e divisão em grupos; frequências
Aula 11.    18 maio
  • Comparações
Aula 12.    25 maio
  • Crosstabs
Aula 13.    1 junho
  • Gráficos
A PRÁTICA DA PESQUISA

Aula 14.    8 junho
  • Entrega de um resumo do que será o paper final, com a definição do problema empírico e das variáveis que serão utilizadas.
Aula 15.    15 junho
  • Professores disponíveis para consultas e dúvidas quanto ao tema do paper (dados e/ou teorias).
Aula 16.    22 junho
  • Entrega do paper final [clique aqui para ver o modelo].
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9 de fevereiro de 2010

agenda de pesquisa e campo profissional da Ciência Política

[Miguel Chikaoka
Algodoal, 1986.
Pirelli/MASP]

Escrevi o texto abaixo como introdução à aula inaugural do curso de graduação em Ciência Política da Faculdade Internacional de Curitiba – Facinter, 9 fev. 2010. O trabalho pode ser baixado e lido na íntegra. Ver o link no final do post. Trata-se, bem entendido, de um rascunho sobre a agenda de pesquisa e o campo profissional da Ciência Política brasileira hoje. Os juízos do texto estão baseados mais em impressões que em pesquisa. Todos os comentários são bem vindos. Peço encarecidamente para não citar este trabalho, pois ele se encontra ainda em elaboração. Decidi publicá-lo aqui para manter vivo o blog.


Ninguém discordaria que a palavra “ciência” que enfeita a expressão “Ciência Política” soa um pouco excessiva.

Como se pode tomar como objeto de conhecimento, e ainda por cima com rigor e método, isto é, cientificamente, a atividade política?

Todas as definições sobre Ciência Política começam em geral do mesmo ponto: citando um autor importantíssimo tanto para a história da Sociologia quanto para a história do pensamento político contemporâneo – Max Weber. Essas definições destacam em geral duas conferências suas pronunciadas há quase cem anos atrás (em 1918) na Universidade de Munique: A ciência como vocação e A política como vocação (cf. Weber, 1994). Nelas, Weber propõe uma oposição radical entre o político de um lado, o cientista de outro. Isso só nos deixa um caminho: ou se é uma coisa, ou se é outra. Que dizer então dessa expressão, tão pomposa quanto suspeita: “cientista político”?

Uma das muitas dificuldades ao juntá-las – “Ciência Política” – é que, de fato, o cientista e o político parecem pertencer a mundos completamente distintos. Talvez a única coisa em comum entre eles seja que suas atividades respectivas produzem duas imagens simétricas: uma positiva, outra negativa.

Assim, “o” cientista – isto é, a figura ideal do cientista ideal – é aquele que se caracteriza ao mesmo tempo por uma virtude e por um defeito: (i) virtude: o trabalho do homem de ciência se faz no rigor da busca desinteressada da verdade; (ii) defeito: o cientista é o homem da especulação (especula com ideias) e por isso ele está sempre desligado dos problemas práticos e dos interesses práticos.

Enrascada semelhante se dá com “o” político. Por oposição ao cientista, o político profissional tem uma virtude característica: (i) virtude: ele é o homem de ação – “aquele que faz” – e não aquele que só fala; e (ii) seu principal defeito? O político profissional é aquele que atua não de forma desinteressada (como o cientista), mas em benefício próprio. Eu poderia enumerar, para fundamentar essa proposição, todas as imagens que foram construídas sobre o “político maquiavélico”.

Tendo essas dificuldades em mente, gostaria de propor aqui uma terceira via para encarar o cientista político. Trata-se de uma forma um tanto quanto diferente das duas anteriores (que impõe: ou se é político profissional, ou se é cientista puro). Penso que o cientista político deve ser tomado como (mais) um especialista das “novas profissões”.

clique aqui para ler o documento [pdf]
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4 de janeiro de 2010

papers produzidos pela oficina de pesquisa em sociologia histórica


[Buraco na Parede.
Barcelona, 1993.
Miguel Rio Branco.
Pirelli/MASP]

Em fins de 2008 iniciamos a oficina de pesquisa em sociologia histórica vinculada ao Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da UFPR.

Ao longo do ano produzimos uma série de papers.

Nosso objetivo é a construção de uma plataforma de pesquisa para aplicação a objetos empíricos determinados com um viés comparativo e generalizante.

Abaixo, os links para os textos.

1a. sessão (27.nov.2008): Renato Perissinotto: Indução, comparação e compreensão nas ciências sociais

2a. sessão (18.dez.2008): Hugo Loss: síntese metodológica de Pierre Bourdieu: As regras da arte

3a. sessão (27.fev.2009): Fernando Leite: síntese metodológica de Barrington Moore Jr.: As origens sociais da ditadura e da democracia

4a. sessão (22.mai.2009): Pedro Leonardo Medeiros: síntese metodológica de Reinhard Bendix: Construção nacional e cidadania

5a. sessão (19 ago. 2009): Hugo Loss: síntese metodológica de Theda Skocpol: Estado e revoluções sociais

6a. sessão (30 set. 2009): Paulo Costa: síntese metodológica de Max Weber: A ética protestante e o espírito do capitalismo

7a. sessão (26 fev. 2009): Adriano Codato: síntese metodológica de Charles Tilly: Coerção, capital e Estados europeus [em breve]

8a. sessão (9 dez. 2009): Renato M. Perissinotto: síntese metodológica de Theda Skocpol: Vision and Method in Historical Sociology

9a. sessão (30 abr. 2010): Paulo Costa: síntese metodológica de Perry Anderson: Linhagens do Estado absolutista [em breve]
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12 de dezembro de 2009

política brasileira - manual introdutório

[Espírito Santo, 1972.
Bina Fonyat.

Pirelli / MASP]


No início de 2010 publicaremos por uma editora de livros de vídeo-aulas um manual introdutório em dez capítulos sobre a política brasileira.
O livro, editado pelo IESDE, foi escrito por um conjunto de pesquisadores do NUSP. O texto abaixo é a introdução que redigi para o livro.

Cientistas políticos são quase unânimes em afirmar que o Brasil é uma “poliarquia institucionalizada”. Isso significa que o regime político democrático – um nome menos preciso e mais normativo que poliarquia – tornou-se a forma de governo incontestada entre nós.

Conforme a definição clássica de Robert Dahl, um país será tanto mais democrático, ou poliárquico, quanto melhores forem as condições que garantam o direito à oposição (que Dahl chama de “contestação pública”) e o direito à participação em eleições e cargos de direção política.

Alguns dados brutos são suficientes para ilustrar as mudanças do país nas últimas décadas nessa direção.

Desde a promulgação da Constituição de 1988 e da eleição para Presidente da República, em 1989, houve um processo contínuo e crescente de institucionalização democrática. O total de eleitores inscritos para votar em 2006 era muito próximo de 126 milhões de pessoas. O poder legislativo abriu-se à expressão de minorias e garantiu seu poder de veto. O sistema partidário tornou-se complexo e passou a contar, em 2007, com 21 partidos representados no Parlamento. A efetiva separação entre o poder Executivo e o poder Legislativo se não garantiu integralmente o preceito da autonomia mútua e da fiscalização recíproca, ao menos dividiu as funções governativas, ainda que de maneira desequilibrada, entre os dois ramos principais do sistema estatal. As eleições tornaram-se razoavelmente competitivas, embora persista (e cada vez se amplie mais) o desequilíbrio entre candidaturas mais e menos opulentas. A legislação garantiu consultas políticas através de plebiscitos e referendos e o direito de propor leis de iniciativa popular. Foram criados inúmeros conselhos setoriais de políticas de governo com participação da “sociedade civil”. O direito de greve foi garantido.

Comparando com o período imediatamente anterior, da ditadura militar, ou com o regime da Constituição de 1946, é certo que hoje há muito mais garantias aos direitos de associação e expressão, muito mais condições para a formação de partidos e organizações políticas, maior igualdade perante a lei, maior controle sobre os governos, maior tolerância diante do conflito.

Essas liberdades liberais clássicas foram responsáveis por uma mudança importante na composição e no perfil das lideranças eleitas, aumentando assim o grau de inclusão de outros grupos sociais nas arenas políticas e, com isso, a variedade de interesses representados. As políticas governamentais de caráter social – cada vez mais importantes na agenda pública – ilustram isso. Houve mesmo uma relativa popularização da classe política e uma importante profissionalização da elite estatal em alguns domínios específicos. Os próprios partidos tiveram de adaptar-se às novas condições de competição por eleitores, ajustando seu programa e sua retórica a valores mais pluralistas. As ideologias autoritárias perderam a audiência e a popularidade que já tiveram no passado. Democracia parece gerar, ainda num grau insuficiente, é certo, crenças e atitudes mais democráticas e mais tolerantes.

Essas condições para a poliarquia não foram criadas do nada. O processo histórico que conduziu o país até o grau presente de desenvolvimento institucional supôs certas sequencias históricas. Ao longo do século XX vários foram os fatores socioeconômicos e ideológicos que influenciaram o mundo político.

O livro que o leitor tem em mãos procura expor e explicar o difícil caminho para a institucionalização da poliarquia à brasileira. Compreender a persistência do clientelismo, da patronagem, da corrupção, do grau desmesuradamente alto de irresponsabilidade governamental, de autonomia dos representantes políticos, dos desequilíbrios do poder econômico e do poder social implica em compreender a via peculiar do país para a democracia realmente existente entre nós. Assim, oferecemos aqui duas coisas num mesmo volume: um resumo das precondições históricas do regime atual e uma caracterização sumária e didática das suas características principais.

Adriano Codato
Curitiba, primavera de 2009.
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3 de dezembro de 2009

o conceito de elite (I)

[Nina Leen. 1943.
Life]

Adriano Codato

As posições de comando no espaço social – ao menos as posições políticas – estão repartidas entre as classes economicamente dominantes e as classes politicamente dirigentes.

A elite política, ou a “classe política” (tomadas aqui como sinônimos, portanto), são, conforme a distinção tradicional proposta por Gaetano Mosca em Sulla teorica dei governi e sul governo parlamentare, apenas uma parte daquele conjunto designado comumente pelo nome “classe dirigente”.

Apesar do emprego ambíguo dos dois termos por Mosca, como James Burnham notou (1) , a expressão ‘classe dirigente’ englobaria também, além da elite política, todos aqueles agentes que estão fora do Estado e fora do governo, mas que poderiam influenciar as decisões políticas, sem exercer diretamente, como a primeira, o poder.

Esse grupo incluiria várias “minorias” (politicamente desiguais entre si, note-se), como as econômicas, as religiosas, as intelectuais, as sociais. A classe política, ou a elite política, seria, por sua vez, uma subespécie da classe dirigente: é a parte da classe dirigente que estaria incumbida da tarefa de governar (2) .

Tal como eu penso que deva ser utilizada, a noção de elite (política) não substitui o conceito de classe (dominante), já que não são termos intercambiáveis (3) ; nem o emprego da expressão “classe política” deve significar, necessariamente, uma adesão do analista a todos os pressupostos teóricos da “teoria das elites” (ou do autor aos princípios normativos dos elitistas).

Notas:

1. Ver James Burnham. Los maquiavelistas: defensores de la libertad. 2ª. ed. Buenos Aires: Emecé, 1953, p. 99.

2. Ver James H. Meisel, The Mith of the Ruling Class: Gaetano Mosca and the “Elite”. Michigan: Ann Arbor Paperbacks; The University of Michigan Press, 1962, p. 37 e p. 160-161. Ver também Ettore A. Albertoni. Doutrina da classe política e teoria das elites. Rio de Janeiro: Imago, 1990, p. 68.

3. Ver Tom B. Bottomore, As elites e a sociedade. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1974, p. 14 e segs. Para a mesma ideia, conferir Anthony Giddens, A estrutura de classes das sociedades avançadas. Rio de Janeiro: Zahar, 1975, p. 145 e segs.
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o conceito de elite (II)

[Nina Leen. 1943.
Life]

Adriano Codato

Esses dois termos – ‘classe’ e ‘elite’ – apenas assinalam, com nomes diferentes, coisas diferentes. Eles também não precisam ser opostos ou incompatíveis (4) .

Uma forma produtiva de evitar o ecletismo teórico e acatar a coabitação das duas ideias num mesmo discurso científico (ou mais propriamente, das duas dimensões da realidade social que os dois vocábulos delimitam e descrevem: estratificação social, no primeiro caso, e hierarquia política, no segundo), é ter presente, na análise dos processos de recrutamento para posições de elite e na análise dos processos de tomada de decisões por parte dessa elite, aquilo que Anthony Giddens designou por “mediação institucional do poder”, isto é, a forma geral do Estado (o “jurídico-político”, na terminologia dos marxistas) e o estado geral da economia (o “econômico”, idem) e suas influências sobre o exercício do poder (5) .

Essa exigência implica em considerar na análise tanto do alistamento quanto do comportamento da classe política, uma série de assuntos incontornáveis já devidamente enfatizados, entre outros autores, por Offe e Wiesenthal.

As condições sociais de acesso a postos de elite, o controle desigual de recursos de poder e o grau variável de influência de um grupo político específico estão condicionados (ainda que não exclusivamente) por sua posição na estrutura social (6) .

Em termos “geográficos”: esses grupos podem estar em posições mais altas ou mais baixas na estrutura social; mais próximos ou mais distantes dos centros de poder político, dentro ou fora dos sistemas de propriedade econômica etc. Isso determina de antemão a estrutura de oportunidades políticas (7) e qualifica desde logo quem pode e quem não pode ascender a posições de elite.

Por outro lado, nem todos aqueles que fazem parte da “classe dominante” integram a “classe política”. Essas diferenciações podem ser ora pressupostos da análise, ora objeto de uma demonstração lógica ou empírica.

Notas:

4. Para uma análise da relação entre o conceito de elite e o conceito de classe dominante, tanto no marxismo “elitista” (T. Bottomore, R. Miliband), quanto no elitismo renovado (Wright Mills, G. W. Domhoff) ver Danilo Enrico Martuscelli, Para uma crítica ao marxismo elitista. Paper apresentado no 31º Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu (MG), 2007, p. 14-19.

5. Ver Anthony Giddens, Preface. In: Stanworth, Philip e Giddens, Anthony (eds.), Elites and Power in British Society, op. cit., p. xi-xii.

6. Ver Claus Offe e Helmut Wiesenthal, Duas lógicas da ação coletiva: anotações teóricas sobre classe social e forma organizacional. In: Offe, Claus. Problemas estruturais do Estado capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984, p. 56-118.

7. Para a expressão, ver Sidney Tarrow, Power in Movement: Collective Action, Social Movements, and Politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1994.
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o conceito de elite (III)

[Nina Leen. 1943.
Life]

Adriano Codato

O uso recorrente no discurso científico da palavra “elite” – e da expressão “elite política”, ou mais raramente, “classe política” – pode ter um sentido apenas descritivo.

Com elas, o cientista social refere-se a uma unidade empírica sujeita a observação e medição (8) .

Através desse termo, cujo sentido traz (e trai) consigo três ideias: a de minoria, a de hierarquia e a de distinção (no sentido sociológico, não social), eu penso que se deva designar o grupo especializado de políticos profissionais (se se quiser, os políticos de carreira) que controlam recursos políticos (posições institucionais no Estado, por exemplo), comandam organizações políticas (partidos, por exemplo) e exercem as funções de governo (no Executivo e no Legislativo).

Eles têm na atividade política seu meio de vida e o poder político como seu objetivo exclusivo, como Max Weber já definiu (9) .

Ainda que esteja de acordo com o mais singelo senso comum, não custa lembrar que “alguém que participe ativamente da política luta pelo poder e pode fazê-lo de duas maneiras: como um meio para atingir outros fins (que podem ser altruístas ou egoístas), ou como um meio de alcançar o ‘poder pelo poder’, isto é, para desfrutar da sensação de prestígio que decorre da sua posse” (10) .

O poder pode ser um meio, como na relação de representação, ou um fim, como na situação, mais frequente do que se imagina, de auto-representação.

Em ambos os casos, os profissionais da política são uma unidade de análise (um grupo funcional) ligados às classes, camadas ou categorias sociais (por suas “origens”), mas separados delas por suas funções e papéis no sistema de dominação.

Michel Offerlé possivelmente exagera um pouco, mas não contradiz o aspecto que quero ressaltar aqui, ao afirmar que as posições políticas “não são mais analisáveis a partir das propriedades [sociais] de seus ocupantes, mas pelas propriedades posicionais e situacionais que permitem defini-las” (11) .

Notas:

8. Ver Ricardo Cinta, Estructura de clases, élite del poder y pluralismo político. Revista Mexicana de Sociologia, vol. 39, n. 2, abr.-jun. 1977, p. 443.

9. Anthony King propõe uma definição mais melodramática: “políticos de carreira par excellence” são “homens e mulheres que comem, dormem e até sonham com política”. Ver The Rise of the Career Politician in Britain and its Consequences. British Journal of Political Science, vol. 11, n. 3, jul. 1981, p. 269.

10. Max Weber, The Profession and Vocation of Politics. In: Lassman, Peter & Speirs, Ronald (eds.), Weber: Political Writings. Cambridge: Cambridge University Press, 1994, p. 311.

11. Michel Offerlé (dir.), La profession politique, XIXe-XXe siècles. Paris: Belin, 1999, p. 10.
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2 de dezembro de 2009

Dossiê "Internet e Política" - novo número da Revista de Sociologia e Política


[Model of a crystal
used to studying
micro-electonics.
1960. Fritz Goro.
Life]

Dossiê "Internet e Política"
Sumário
Rev. Sociol. Polit. vol.17 no.34 Curitiba out. 2009



· Apresentação: uma amostra das novas possibilidades de pesquisa sobre as relações entre as NTICS e a política
Braga, Sérgio; Chaia, Vera




· Parliamentary functions portrayed on European parliaments' websites
Leston-Bandeira, Cristina




· "Politics 2.0": a campanha online de Barack Obama em 2008
Gomes, Wilson; Fernandes, Breno; Reis, Lucas; Silva, Tarcizio




· Cyberpolitics in political party websites: experiences in the 2008 Spanish presidential elections within the context of transnational tendencies
Dader, José Luis




· Redes de políticas públicas e de governança e sua análise a partir da websphere analysis
Procopiuck, Mario; Frey, Klaus




· Lutas por reconhecimento dos surdos na Internet: efeitos políticos do testemunho
Garcêz, Regiane L. O.; Maia, Rousiley C. M.




· Novas dimensões da política: protocolos e códigos na esfera pública interconectada
Silveira, Sergio Amadeu da




· A internet e as eleições municipais em 2008: o uso dos sítios eletrônicos de comunidades na eleição paulistana
Coutinho, Marcelo; Safatle, Vladimir




· The Spanish general elections of 2008: "antagonistic bi-polarization" fomented by political and media interests and new technologies
Sampedro, Víctor; Pérez, Francisco Seoane




· Internauta brasileiro: perfil diferenciado, opiniões indiferenciadas
Schlegel, Rogerio




· Metodologia de pesquisa de blogs de política: análise das eleições presidenciais de 2006 e do movimento "cansei"
Santos, Marcelo Burgos Pimentel dos; Penteado, Cláudio Luis de Camargo; Araújo, Rafael de Paula Aguiar




· Os partidos políticos brasileiros e a internet: uma avaliação dos websites dos partidos políticos do Brasil
Braga, Sérgio Soares; França, Andressa Silvério Terra; Nicolás, María Alejandra




· Crônica política sobre um documento contra a "ditabranda"
Toledo, Caio Navarro de

2 de outubro de 2009

A causa da ciência:

[fotografia: Estação da Luz, 1981.
Antonio Carlos D'Ávila.
Pirelli / MASP]

Política & Sociedade,
Vol. 1, No 1 (2002)

Pierre Bourdieu








como a história social das ciências sociais pode servir ao progresso das ciências

O campo das ciências sociais se distingue dos outros campos científicos na
medida em que cada um dos especialistas está em concorrência não somente
com outros cientistas, mas também com o conjunto de agentes sociais que se
esforçam para impor suas próprias visões do mundo. Ele está assim atravessado
por duas lógicas contrárias, a do campo político e a do campo científico,
que fundamentam princípios de hierarquia opostos. Trata-sede mostrar como
uma ciência social que tem por objeto seu próprio fundamento pode fornecer
os princípios de uma Realpolitik científica cujo objetivo é o progresso da razão
científica. Esses princípios referem-se, por um lado, à epistemologia e à Sociologia
dos campos de produção, quando favorecem uma confrontação de pontos
de vista que se percebem como tais no conhecimento dos determinantes
sociais de suas diferenças. Eles dizem respeito também à transformação da
organização social da produção e da circulação científicas, tanto em escala
nacional quanto internacional, no sentido de um working dissensus fundado no
reconhecimento crítico de compatibilidades e de incompatibilidades explícitas,
estabelecidas cientificamente e não socialmente.

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