artigo recomendado

Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections
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3 de dezembro de 2010

ciência política e história

[Ed Clark.
Paris, 1946.
Life] 

Adriano Codato et al.

Uma inspeção rápida do que se vem produzindo na Ciência Política brasileira constatará que os estudos tem se caracterizado cada vez mais pelo “presentismo”. Isso não se deve apenas ao fato de os objetos de pesquisa serem cada vez mais contemporâneos dos pesquisadores, mas à perda da dimensão histórica das problemáticas e das análises.

Mesmo sem assumir o desafio proposto por Tilly (1985) há mais de duas décadas, voltar a estudar “grandes estruturas” e “processos de larga escala” a fim de produzir “enormes comparações”, a abordagem histórica permite um ganho considerável para o cientista político. Através dela consegue-se sugerir interações entre sequências causais que convergem num determinado momento e que podem explicar eventos específicos. É o caso do estudo de “conjunturas críticas” (como colapsos de regimes políticos, por exemplo) ou de investigações interessadas na reconstrução da sócio-gênese de um fenômeno ou instituição política. Modelos muito formalizados, postulados teóricos universais e tipologias abstratas tendem a perder relações causais mais complexas, ignorar hipóteses válidas, desconsiderar importantes processos políticos e o modo pelo qual afetam o mundo social. Daí a importância do cientista político olhar não para o passado, mas, como advertiram Pierson e Skocpol (2002), para “processos ao longo do tempo”.

Essa volta aqui sugerida tem a ver então com a necessidade de recuperar a dimensão histórica para os estudos políticos. Nesse movimento, deve-se, todavia, evitar ao máximo três estilos discutíveis de retorno à história: o estudo do passado por si mesmo, esforço que em geral termina em descrições de fenômenos únicos e de interesse limitado no tempo e no espaço; o estudo do passado a fim de encontrar indícios, evidências ou exemplos para ilustrar e confirmar uma teoria ou um modelo explicativo construído a priori; e o estudo do passado como um depósito onde se buscam casos para comparação com problemas do presente, esses sim objetos de interesse efetivo.

Nos últimos anos, na cena acadêmica internacional, vem-se observando uma revitalização de estilos de teorização política informados pelo conhecimento histórico. Mesmo num contexto em que há um predomínio na Ciência Política de disposições naturalizantes e de reflexões descontextualizadas, as abordagens historicistas da Teoria Política vêm-se apresentando como alternativas à polarização entre as modalidades de teorização de natureza estritamente instrumental (em que a teoria desempenha o papel subordinado de simples meio para o balizamento de pesquisas empíricas), e as modalidades estritamente filosófico-normativas (em que a teoria destina-se à afirmação de modelos ideais de sociedade ou de ordens jurídico-políticas).

Exemplo desta confluência entre Ciência Política e História no domínio da teoria pode ser acompanhado no novo fôlego dos estudos sobre teoria política republicana. Nas décadas recentes eles assumiram um contorno em que a teoria política normativa nutre-se de estudos sobre as idéias do passado, ao passo que a história (especificamente a história do pensamento político) utiliza-se do ferramental teórico elaborado pelos politólogos para manusear seus próprios objetos de estudo. Além disso, a história do pensamento político produz, ao ser escrita, teoria política, fornecendo ao analista contemporâneo um manancial de consulta que auxilia na resposta aos problemas atuais, já que promove a desnaturalização das noções políticas que esposamos atualmente, permitindo novos cursos de ação e de ideias (Skinner, 1996; Pettit, 1997).

Do lado das análises empíricas em Ciência Política, há um movimento na mesma direção, seja por parte dos estudos apoiados no neo-institucionalismo histórico, seja nas análises que enfatizam a dependência da trajetória histórica para a compreensão de determinados fenômenos políticos (path dependence). Todavia, não se trata apenas de reconhecer que “a história importa”, isto é, que escolhas feitas no passado produzem efeitos mais adiante, preceito que vale tanto para firmas privadas quanto para Estados nacionais. A virada histórica que desde o início da década vem influenciando cientistas políticos empiricamente orientados pretende significar uma mudança teórica mais profunda e mais radical que a do neo-institucionalismo histórico. Como resumiu Paul Pierson (2004), o entendimento de processos e práticas políticas implica em comutar o foco centrado em grandes leis causais para estudos de mecanismos sociais específicos. As explanações daí derivadas estão baseadas em hipóteses formuladas explicitamente sob certas condições limitantes, que são “tempo” e “lugar”. A vantagem mais evidente desse enfoque é que ele permite contrapor-se a explicações deduzidas de grandes teorias, onde o fato histórico comparece apenas como um exemplo ilustrativo, ou contrapor-se a explicações baseadas em tipologias, em que o caso é classificado (e supostamente explicado) conforme a distância maior ou menor em relação a modelos construídos por abstração a partir de exemplos selecionados como base em critérios eles mesmos discutíveis. Ainda que não seja uma revelação, os preceitos dessa estratégia de análise indicam que pensar em termos de “tempo” e “lugar” é pensar em termos de contextos históricos.

Análises desse tipo – cujo fundamento são teorias de médio alcance, hipóteses verificáveis, e não postulados teóricos universais – têm encontrado um reforço bastante positivo nas mudanças recentes da História (a disciplina), seja porque voltou à tona a narrativa explicativa, isto é, a procura de respostas nos estudos históricos a uma questão de tipo “por quê?”, seja porque os próprios historiadores, ao que parece, estão novamente atentos, apesar de tudo, para causas, origens e consequências no estudo de acontecimentos discretos (Weinstein, 2003). Resulta portanto que o mais prudente é evitar, para usar a frase publicitária de Yves Déloye (1999), o confronto e o desquite entre “o arquivo e o conceito”.

Referências

DÉLOYE, Yves. Sociologia histórica do político. Bauru: EDUSC, 1999.
KOSELLECK, R. Futuro Passado. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.
PETTIT, P. Republicanism: A Theory of Freedom and Government. Oxford: Oxford University Press, 1997.
ROSANVALLON, P. Por uma história conceitual do político (nota de trabalho). Revista Brasileira de História, vol. 15, n. 30, 1995.
SKINNER, Q. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
TUCK, R. História do pensamento político. In: BURKE, Peter. (org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1992.
PIERSON, Paul e SKOCPOL, Theda. Historical Institutionalism in Contemporary Political Science. In: Katznelson, Ira & Milner, Helen V. (eds). Political Science: State of the Discipline. New York: W.W. Norton, 2002, p. 693-721.
PIERSON, Paul. Politics in Time: History, Institutions, and Social Analysis. Princeton e Oxford: Princeton University Press, 2004.
TILLY, Charles. Big structures, large processes, huge comparisons. New York: Russell Sage Foundation, 1985.
WEINSTEIN, Barbara. História sem causa? A nova história cultural, a grande narrativa e o dilema pós-colonial. História, vol. 22, n. 2, p. 185-210, 2003.
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10 de julho de 2010

subsídos para uma história comparada da América Latina

[Parque Anhangabaú, 1939.
Benedito Junqueira Duarte. 

Pirelli/MASP]

Book
Experiências nacionais, temas transversais
subsídos para uma história comparada da América Latina. São Leopoldo: Oikos, 2009

Flavio M. Heiz, Editor; other authors are Maurice AYMARD, Susana BANDIERI, Graciela BLANCO, Marta BONAUDO, Maria Teresa BOVI, Adriano CODATO, Rosa CONGOST, Nadia DE CRISTÓFORIS, Luís Augusto FARINATTI, Sandra FERNANDEZ, Raúl FRADKIN, Ana Paula KORNDÖRFER, Karl MONSMA, Ana TERUEL, Mariana F. da C. THOMPSON FLORES

Este volume reúne textos apresentados em um colóquio sobre História Comparada, realizado em Porto Alegre em outubro de 2008. Em sua diversidade temática e complexidade metodológica, estes textos expõem as dificuldades postas à realização da história comparada, mas também sugerem pistas e soluções para superá-las.

Download (.pdf)
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21 de setembro de 2009

sobre o papel do indivíduo na história

[Lewis Hine]




Mais!
Folha de S. Paulo
20 set. 2009

"Um por todos"

JORGE COLI

No Mais! de domingo passado, Boris Fausto lembrou a importância das biografias. Elas foram desconsideradas por estudiosos convencidos de que a história é fundada apenas em grandes movimentos coletivos, com razões e agentes ultrapassando de muito as individualidades.
Ora, o gênero biográfico permite que o historiador se infiltre na cultura de uma época, nos comportamentos sociais amplos, e os ilumine, por assim dizer, de dentro.
Marcados pelas inflexões que os formaram, profissionais da história valorizaram as determinantes teóricas, que tendem, sobretudo nos incautos, a levar as análises para uma forte abstração. A biografia é um antídoto contra esses raciocínios menos concretos, mais mecânicos e esquemáticos.

Como os universitários, de modo geral, desdenharam a biografia, certos jornalistas dedicaram-se a ela. Com espírito rigoroso, com inteligência, com o faro que a profissão refinou, produziram obras de referência. É o caso de Fernando Morais. "Olga" e "Chatô - O Rei do Brasil" são livros necessários para compreender tantos aspectos do que ocorreu no Brasil durante largos períodos do século 20.

Uma coisa, porém, é reconsiderar o valor da biografia, que os historiadores verdadeiramente grandes sempre souberam, e pensá-la como digno meio para o conhecimento.
Outra é acreditar que alguns indivíduos devem ser estudados porque suas ações foram determinantes para os caminhos da humanidade.

Considerar que uma única pessoa possa alterar o curso da história é o velho mito do nariz de Cleópatra. Nariguda, seria menos sedutora; Marco Antônio e Júlio César não se apaixonariam. Os destinos de Roma, do Egito e do Ocidente teriam sido outros.
Que um nariz possa ser responsável por tanta coisa é implausível. A história séria não pode dar valor a uma frivolidade assim. Mas o caso é que ela reduz também todas as ações pessoais à irrelevância do nariz.

Daí os ataques que sofreu Paul Veyne, grande especialista em Antiguidade, com seu livro "Quando o Nosso Mundo se Tornou Cristão" (Texto & Grafia, Lisboa, 2009).

Veyne tem velha formação marxista. No entanto, intuiu que o imperador Constantino [século 4º] foi o único responsável pela cristianização do Ocidente. Apenas ele, como indivíduo. Sua tese, demonstrada de modo admirável, faz tremer as convicções. Historiadores cristãos ou marxistas veem em Constantino um instrumento de algo muito maior. Veyne, ao contrário, percebe nele uma causa. Não contente, lança-se num ensaio teórico provocador e convincente: "A Ideologia Existe?". Na contracapa do livro, suas teses são dissimuladas para não chocar o leitor. Também no título, que disfarça o pivô individual.

Escreve Veyne: "No total, a cristianização do mundo antigo foi uma revolução desencadeada por um indivíduo, Constantino, cujos motivos eram exclusivamente religiosos. Nada teve de necessário, de inelutável ou de irreversível. O cristianismo começou a se impor a todos porque Constantino, sinceramente convertido, favoreceu-o e o sustentou; e porque essa religião estava eficazmente organizada numa igreja. Constantino converteu-se por razões ignotas e julgou que o cristianismo era digno de ser a religião do trono porque sua superioridade religiosa era evidente aos seus olhos; e que o cristianismo, embora minoritário, tinha se tornado o grande problema religioso do século. Foi só por Constantino que a história universal alterou-se de maneira irreversível...".
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19 de maio de 2009

a sociologia histórico-comparada de Reinhard Bendix


[Brandenburg Gate from East Berlin side.
East Berlin, Germany, 1954.
Thomas D. Mcavoy. Life]


*por Pedro Leonardo Medeiros (NUSP/UFPR)

A sociologia histórico-comparada de Reinhard Bendix é representada principalmente por três obras: Work and Authority in Industry, publicado em 1956; Nation-Building and Citizenship, de 1964; e Kings or People, este de 1978. Conforme têm salientado mais de um analista, esses três trabalhos podem ser analisados como um continuum, em que “a ênfase na singularidade das experiências históricas se acentua em detrimento de uma preocupação com as generalizações” (REIS, 1996, p. 18).

Em Work and Authority in Industry (comprar aqui), o objeto de estudo são os discursos de legitimação da disciplina fabril, na Rússia, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos. O objetivo de Bendix, nessa obra, é o de encarar as ideologias empresarias da industrialização como “respostas variáveis ao problema funcional da necessidade de disciplinar o trabalho” ou, de maneira mais ampla, “ao problema mais básico da legitimação da autoridade pública ou privada, da burocratização do trabalho e, no limite, do equacionamento do problema da liberdade” (ibidem, p. 18).

Construção nacional e cidadania (Nation-Building and Citizenship comprar), a segunda obra dessa “trilogia” de sociologia histórico-comparada, parte do mesmo princípio de Work and Authority: estabelecer uma questão universal (ou, pelo menos, uma questão que se impõe a diversas sociedades) para, daí, descobrir as respostas particulares que os diferentes agrupamentos humanos lhe deram (sempre em função, é claro, de suas especificidades culturais, de sua “tradição”). Confronta-se, para isso, pares de casos contrastantes: Europa ocidental e Rússia; Japão e Alemanha; além da Índia, como exemplo da singularidade e do peso das condições históricas na especificação de um processo geral ou universal.

O objetivo maior, nesse trabalho, é o de “apresentar uma alternativa mais satisfatória às versões francamente evolucionistas do processo de modernização”, salientando que “toda e qualquer sociedade combina de forma singular o tradicional e o moderno”, e forçando, assim, o conceito de “desenvolvimento” ou “modernização” a ser construído como um tipo ideal (ibidem, p. 20).

Em Kings or People (comprar aqui), os objetivos da comparação tornam-se ainda mais individualizadores: trata-se, seguindo o modelo weberiano nas análises sobre a singularidade ocidental, de saber “por que no Ocidente teve lugar originalmente a substituição da autoridade dinástica pela soberania popular” (ibidem, p. 21). A grande questão geral, como nos trabalhos anteriores, continua sendo a da legitimação da ordem social – neste caso, da autoridade pública –, enfocando a singularidade das sociedades ocidentais em relação às demais, no que diz respeito à resposta que deram àquela grande questão.

*Pedro Leonardo Medeiros é mestrando em Ciência Política na UFPR.

baixe e leia o paper completo aqui
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