artigo recomendado

Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections

25 de junho de 2015

entrevista a nova/velha direita brasileira

[Photographer: 
Jose Luiz Saez Martinez
iPhone 6] 

Entrevista Adriano Codato
Agência Pública http://apublica.org/

Agência Pública: Vemos cada vez mais sites de direita e demonstrações nas ruas que exibem faixas contra Bolsa-Família, Cotas Raciais, e até uma curiosa palavra de ordem, defendida pelo jovem líder do MBL, Kim Kataguiri, pedindo "Mais Mises, menos Marx". A direita cresceu entre a juventude ou saiu do armário? O senhor diria que ela foi mobilizada principalmente contra os programas sociais dos governos do PT?

Adriano Codato: Há as duas coisas. A direita, como corrente parlamentar, voltou a crescer, revertendo o movimento de queda constante do número de representantes na Câmara dos Deputados que se observava desde 1994. A extrema-direita, como corrente de opinião, começou a aparecer com uma estridência até então inédita (ou ao menos sem precedentes desde o fim do comunismo). Ocorre que se essa extrema-direita é, em termos ideológicos, idêntica àquela do período da Guerra Fria, hoje tem, graças ao estrondo proporcionado pelas novas mídias e à bajulação da velha mídia, um alcance muito maior do que jamais teve. Por sua vez, se a direita parlamentar conta ainda com o concurso das suas figuras políticas tradicionais (o grande proprietário, o médio empresário, o cacique partidário, etc.), hoje se vê revigorada por uma nova legião de políticos dos partidos fisiológicos e pela figura emblemática do pastor-deputado. Temos assim um cenário em que uma extrema-direita pretensamente moderna (“menos estado, mais mercado”) precisa se contentar em se ver representada politicamente pelo baixo clero e por tudo o que há de mais atrasado, reacionário e obscurantista em termos civilizacionais que a cena política do Brasil pode produzir. A fotografia em que os líderes dos Revoltados on line e do Movimento Brasil Livre posam alegremente com os deputados Jair Bolsonaro e Eduardo Cunha é, me parece, a síntese disso. Essa é, por enquanto, a vanguarda da oposição, visto que o PSDB, ou melhor dizendo, alguns dos seus líderes, não parece muito à vontade para assumir, ainda, uma agenda abertamente de direita.


Agência Pública: Os que se dizem "liberais" no país vão desde empresários que participaram de conselhos de administração de estatais e câmaras do setor empresarial, como Gerdau, até outros que se dizem libertarians como Salim Mattar, da Localiza. Pode se falar em tendências de direita no Brasil como os Libertarians, os Tea Partiers ou os Evangélicos americanos? Há uma aliança programática entre as diversas tendências da direita para derrubar o estado de bem-estar social que identificam com o PT?

AC: Não há essa aliança, nem em termos programáticos, nem em termos político-eleitorais. Ou no Brasil não há ainda uma aliança entre antiestatistas (nosso equivalente dos Libertarians), antipetistas (nossos Tea Partiers, só que menos ideológicos) e antiminorias (a santa cruzada dos nossos Evangélicos) porque, penso eu, as agendas dos três grupos ainda não se aproximaram suficientemente uma da outra. E porque, principalmente, não há um líder ou um partido que possa encarnar num mesmo movimento as três bandeiras. Celebridades de internet e polígrafos das várias mídias não contam a não ser como agitadores e propagandistas das três figuras da direita nacional. Talvez Geraldo Alckimin, da Opus Dei, dizem os entendidos em sua biografia, possa fazer essa síntese ultraconservadora em 2018. Eduardo Cunha pode ser entendido então como um experimento para ver se a coisa engrena. Nesse contexto, a ojeriza ao Bolsa Família (seu “assistencialismo”), o ódio às Cotas Raciais (a sabotagem da “meritocracia”), o espanto diante da abertura dos bens de consumo privativos das classes médias aos remediados (o “capitalismo”, enfim...) são mais a desculpa para se opor ao PT e ao seu governo do que a razão real que os anima. Quem de fato se aflige com tudo isso são as altas camadas médias, que aliás estão onde sempre estiveram, nem mais à direita nem mais à esquerda, e que pensam como sempre pensaram: que a política é um privilégio dos letrados, que os cursos superiores são o destino dos bem-nascidos, que a corrupção é o único mal nacional e que pobre deveria é andar de ônibus.


Agência Pública: Algumas organizações como o Studentes for Liberty, bancado por um pool de fundações de direita americana (Cato, Koch Brothers, Atlas) afirmam ter influenciado a formação de jovens livres de direita no Brasil, incluindo os líderes do MBL e jovens líderes empresariais como Hélio Beltrão Filho (grupo Ultra) e o presidente do IEE, Frederico Hilzendeger. Essas instituições também tem ramificações significativas em outros países latino americanos, como a Venezuela e a Bolívia. O senhor tem conhecimento de algum tipo de avanço dessa direita internacionalmente? Ou eles significam menos do que pretendem?

AC: Não sei nada sobre isso. Mas é sempre prudente acreditar no pior. O fato é que ninguém faz política sem dinheiro, sem organização e sem mobilização. Então, seria ingênuo imaginar que os jovens de direita no Brasil são apenas gerados pelos vídeos do Olavo de Carvalho no Youtube.



Agência Pública: Como o senhor dividiria a direita brasileira? Em que facções? Elas se distribuem em diferentes partidos ou podemos considerar algum deles como sede da direita ideológica?

AC: Será necessário nos próximos anos um baita esforço por parte da academia para compreender essa nova/velha direita brasileira. Nesse sentido, a topografia desse grande campo reacionário ainda está por ser feita. Sugiro, provisoriamente, uma divisão dessa direita, que ainda teima em não dizer seu nome, em três grandes alas: a político-institucional, a moral-comportamental e a econômico-liberal. As duas primeiras se encontram e se resumem na figura do pastor-deputado, mas, para usar a linguagem dos Evangelhos, não há só uma forma de manifestação desse fenômeno. Seu “nome é Legião, porque são muitos”. A direita institucional tem progressivamente deixado de concorrer às eleições proporcionais pelos grandes partidos (DEM, PP, PTB) e se alojado nas micro-legendas que costumamos chamar de partidos fisiológicos (por oposição aos ideológicos). Vamos ver aonde isso vai. A direita “comportamental” tem uma agenda conservadora bem definida contra todos os direitos do século XX: os direitos das minorias de gênero, os direitos humanos, os direitos trabalhistas, o direito penal, etc. Essa variante da direita brasileira se acha em quase todos os partidos do Congresso e seus apóstolos não são sempre e necessariamente o pastor-deputado. Até porque é preciso lutar em várias frentes. A direita “liberal” (em termos econômicos) é, me parece, a que está aí há mais tempo: escreve nos jornais, recita no rádio, declama na TV, posta na internet o receituário de sempre em defesa do capital rentista (“apertar o cinto e gastar com juros”). Enfim: que uns tenham PhD por Chicago e outros sejam pregadores na Baixada Fluminense, que uns se metam em parecer Carlos Lacerda na tribuna e outros ressuscitem o militar autoritário são instantâneos de uma corrente política que parece estar se firmando entre o eleitorado das grandes cidades. A ver.
 .

15 de junho de 2015

da polícia à política

[Deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ)
crédito: Gazeta do Povo]


Da polícia à política: estudo de candidatos e eleitos à Câmara dos Deputados do Brasil provenientes das forças repressivas do Estado

by Adriano Codato, Fabia Berlatto

Das eleições de 1998 até as de 2014, 972 integrantes das forças policiais e militares se candidataram a deputado federal no Brasil. O objetivo deste paper é investigar os perfis social e político dos integrantes das forças repressivas do Estado que se lançaram na política institucional. Os dados indicam uma forte oscilação entre os grandes partidos de direita, os pequenos partidos de direita e os partidos fisiológicos de uma eleição e outra. Entre 1998 e 2014, por exemplo, a porcentagem de candidatos das forças nos partidos fisiológicos passou de 10% para mais de 30%.  Essa oscilação permitiu perceber uma característica importante sobre o grupo: há uma forte “infidelidade partidária” entre os candidatos oriundos das forças de segurança. Sugerimos que essa “infidelidade partidária” está ligada a quatro fatores: o primeiro é o fator legal, ou seja, ao impedimento constitucional de militares se filiarem a partidos políticos, exceto depois que são consagrados candidatos. O segundo fator diz respeito à estratégia política dos pequenos partidos fisiológicos em lançar muitos candidatos, inflacionando suas nominatas. O terceiro fator, que pode explicar a presença de candidatos com esse perfil também em partidos de esquerda ou mesmo de centro, tem a ver com demandas por reformas nas estruturas das polícias. E o quarto fator diz respeito à posição que assumem contra a política, os políticos e os partidos. A filiação a pequenos partidos e a partidos fisiológicos representa a intenção de se diferenciar dos políticos profissionais e do estilo de política que esses últimos praticam.


In: Congreso internacional: Élites y liderazgo en tiempos de cambio, 2015, Salamanca. Espanha, 10-11 junho.

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