[Marcelo Andrade,
Gazeta do Povo]
Matéria publicada pela Gazeta do Povo (Curitiba) em 16 mar. 2014 sobre a violência dos pobres.
A reportagem pode ser lida neste link.
A entrevista completa de Fábia Berlatto, que foi enviada por e-mail ao jornalista, vai abaixo.
Perguntas do jornalista:
- Como a senhora vê a Vila das Torres? Perigosa, contraditória, acuada?
- Como entender uma comunidade tão violenta localizada tão perto do centro da capital do estado?
- Há uma origem para tamanha violência nessa localidade relativamente pequena?
- A geografia da Vila Torres, com um rio que se transformou em esgoto, contribui para que a sociedade a veja de forma estigmatizada?
Respostas:
Eu vejo a Vila das Torres como uma expressão da desigualdade econômica e social do Brasil. O perfil do seu território, das suas casas, das suas ruas, da quantidade e qualidade dos serviços públicos e equipamentos urbanos que existem – ou não existem – na Vila das Torres representa a distribuição de direitos, de poder, de oportunidades no País. A percepção que temos dos seus moradores, de que são perigosos, está em conformidade com a forma como vemos os pobres no Brasil. Não há nenhuma contradição nisso, esse é o padrão que criamos. Não há contradição também no fato de existir uma Vila das Torres em Curitiba, que é uma metrópole brasileira como outra qualquer.
A Vila das Torres gera tanta polêmica porque está numa região central. Se estivesse na periferia, longe dos nossos olhos, sequer teríamos conhecimento do seu nome. A não ser quando lembrados pelos meios de comunicação em casos de crimes violentos. Não existe nada mais eficiente em colar um estigma num lugar e em seus moradores do que isso. Os conflitos gerados pelo tráfico de drogas ilícitas afeta profundamente a vida cotidiana dos seus moradores.
A Vila das Torres não está acuada. Existem aí associações de moradores, grupos religiosos, indivíduos bastante ativos em procurar os canais de comunicação com o poder público e com a sociedade em geral. A questão são as barreiras burocráticas, políticas e sociais que encontram para suas demandas. Eles lutaram muito para conseguir o que eles têm. O quebra-molas e o semáforo na Guabirotuba. Foram persistentes na tentativa de minimizar os impactos locais da construção do binário Chile-Guabirotuba. Depois, mais uma luta para que instalassem semáforo e passagem elevada para os pedestres no novo trecho da rua Chile. Agora precisam recuperar o acesso ao Jardim das Américas, interrompido pelas obras. Os estudantes precisam de segurança para chegar ao outro lado, onde está o colégio que frequentam. Há muita relutância porque as pessoas querem cruzar o mais rápido possível por ali. Tudo isso é instrumentalizado por interesses políticos. É uma luta constante para demonstrar que são trabalhadores, que também são ‘pessoas de bem’.
É obvio que o tráfico de drogas ilícitas não é exclusividade de bairros pobres como a Vila das Torres. A questão é que nestes espaços ocorre a sua territorialização. Ou seja, ali os grupos de traficantes passaram a ter que controlar militarmente os seus territórios. Fora da favela, as estratégias e possibilidades de venda de drogas ilícitas permitem dispensar a violência. É importante frisar que muitos estudos apontam que sem a participação da visível corrupção policial o tráfico de drogas ilícitas, neste modelo, é inviável.
Sempre ressaltando que a vida na Vila das Torres não pode ser resumida à violência e ao tráfico, nem mesmo à pobreza, ou ao lugar onde o Rio Belém revela seu estado crítico. O Rio Belém tem um longo percurso até chegar ali e é evidente que não é só o esgoto da Vila que é despejado nesse rio.
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artigo recomendado
Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164.
Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy.
keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections
16 de março de 2014
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