artigo recomendado

Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections

27 de agosto de 2013

programa de curso: política brasileira (ufpr 2/2013)

[Construção do 
Palácio do Congresso Nacional 
em 1958.
Marcel Gautherot]


Objetivos:
O objetivo do curso é revisitar as interpretações clássicas da Sociologia Política e da Ciência Política brasileiras sobre a política nacional num período que vai do II Império aos anos 1990. Para isso, foram selecionados onze livros que constituem as referências mais básicas da área de estudos. A orientação é que se leiam os livros por inteiro. Cada uma das obras está no princípio de um debate importante ou inaugurou uma área de investigação da Ciência Política/Sociologia Política no Brasil. A ideia é refazer este debate procurando mostrar seus desdobramentos e sua repercussão na discussão mais contemporânea. A bibliografia complementar é meramente indicativa, limitada a apenas cinco referências e será complementada a cada aula. Selecionei apenas textos de fácil acesso para cada referência básica.

Esquema do curso:
Serão 12 encontros ao longo de 12 semanas. A cada encontro haverá um seminário (em equipes de dois ou três estudantes, com dois ou três debatedores), a cargo dos estudantes matriculados regularmente (no mestrado em Ciência Política; ou no Programa de Mestrado/Doutorado em Políticas Públicas, etc.); e uma aula expositiva, a cargo do professor.
A aula poderá ser tanto introdutória aos temas a serem discutidos, antes do seminário, portanto; quanto complementar ao seminário e dada na sequência.
Para os seminários, os livros deverão ser lidos integralmente pelos expositores (uma equipe) e debatedores (outra equipe).

TODOS OS OUTROS ESTUDANTES que não estiverem escalados para o seminário (isto é, todos aqueles que não forem os expositores e os debatedores daquela sessão) deverão ler as partes de cada livro selecionadas e indicadas pelo professor e enviar, para a lista de discussão do curso, seus comentários (questoes, idéias, dúvidas) até às segundas-feiras, às 14 hs.

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Unidade I:
A ORDEM POLÍTICA BRASILEIRA: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS
Nº de Encontros:
três
3 de setembro

         I.            Elites políticas e formação do Estado nacional

Bibliografia obrigatória
José Murilo de Carvalho, A construção da ordem. (seminário; aula)
Comentários: pp. 11 a 180.

Bibliografia complementar
BARMAN, R.; BARMAN, J. The Role of the Law Graduate in the Political Elite of Imperial Brazil. Journal of Interamerican Studies and World Affairs, v. 18, n. 4, p. 423–450, 1976.
CARVALHO, J. M. DE. Political Elites and State Building: The Case of Nineteenth-Century Brazil. Comparative Studies in Society and History, v. 24, n. 3, p. 378–399, 1982.
FLORY, T. Judicial Politics in Nineteenth-Century Brazil. The Hispanic American Historical Review, v. 55, n. 4, p. 664–692, 1975.
LOVE, J. L.; BARICKMAN, B. J. Rulers and Owners: A Brazilian Case Study in Comparative Perspective. The Hispanic American Historical Review, v. 66, n. 4, p. 743–765, 1986.
PANG, E.-S.; SECKINGER, R. L. The Mandarins of Imperial Brazil. Comparative Studies in Society and History, v. 14, n. 2, p. 215–244, 1972.
10 de setembro
         I.            Poder local versus poder nacional
Bibliografia obrigatória
Victor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto. (seminário; aula)
Comentários: pp. 9 a 54 e 69 a 113.

Bibliografia complementar
CARNEIRO, L. P.; ALMEIDA, M. H. T. DE. Definindo a arena política local: sistemas partidários municipais na federação brasileira. Dados, v. 51, n. 2, p. 1–24, 2008. http://bit.ly/13ZjjcG
CARVALHO, J. M. de. Mandonismo, coronelismo, clientelismo: uma discussão conceitual. Dados, v. 40, n. 2, p. 20–21, 1997. http://bit.ly/13ZixfD
FARIAS, F. P. DE. Clientelismo e democracia capitalista: elementos para uma abordagem alternativa. Revista de Sociologia e Política, n. 15, p. 49–66, nov. 2000. http://bit.ly/13Zj1Ck
LIMONGI, F. Eleições e democracia no Brasil: Victor Nunes Leal e a transição de 1945. Dados, v. 55, n. 1, p. 37–69, 2012. http://bit.ly/19T7exx
SANTOS, A. M. DOS. Topografia do Brasil profundo: votos, cargos e alinhamentos nos municípios brasileiros. Opinião Pública, v. 19, n. 1, p. 1–20, jun. 2013. http://bit.ly/19T6s3I
SANTOS, W. G. DOS. O sistema oligárquico representativo da Primeira República. Dados, v. 56, n. 1, p. 9–37, 2013. http://bit.ly/1fcdI7E


17 de setembro
        II.            Corporativismo, pluralismo e regionalismo
Bibliografia obrigatória
Simon Schwartzman, As bases do autoritarismo brasileiro. (seminário; aula)
Comentários: pp. 19 a 57 e 181 a 258.

Bibliografia complementar
CODATO, A. A formação do campo político profissional no Brasil: uma hipótese a partir do caso de São Paulo. Revista de Sociologia e Política, v. 16, n. 30, p. 89–105, jun. 2008. http://bit.ly/1fce4v1
PERISSINOTTO, Renato M. Estado, capital cafeeiro e crise política em São Paulo na década de 1920. The Hispanic American Historical Review, New Haven, v. 80, n.2, p. 299-332, 2000.
REIS, Fábio Wanderley. As eleições e o problema institucional (2): a revolução é a geral cooptação. Dados, v. 14, p. 185-200, 1977.
WOODARD, J. P. A Place in Politics: São Paulo, Brazil, from Seigneurial Republicanism to Regionalist Revolt. Durham, NC; London: Duke University Press, 2009.
WOODARD, J. P. History, Sociology and the Political in São Paulo, Brazil. Journal of Latin American Studies, v. 37, n. 2, p. 333–349, 2005.

Unidade II:
ANÁLISES CLASSISTAS DA POLÍTICA BRASILEIRA
Nº de Encontros:
quatro
1 de outubro
      III.            Burguesia e revolução
Bibliografia obrigatória
Boris Fausto, A Revolução de 1930. (seminário; aula)
Comentários: pp. 7-73 e p. 116-151.

Bibliografia complementar
CAMPOS, F. O Estado nacional: sua estrutura; seu conteúdo ideológico. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940.
DRAIBE, Sônia. Rumos e metamorfoses: um estudo sobre a constituição do Estado e as alternativas da industrialização no Brasil, 1930-1960. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
FAUSTO, Boris. Estado, Classe trabalhadora e burguesia industrial (1920 - 1945): uma revisão. Novos Estudos Cebrap, n° 20, março de 1988. p. 6-37.
LEOPOLDI, Maria Antonieta P. Política e interesses: as associações industriais, a política econômica e o Estado na industrialização brasileira. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
MARTINS, Luciano. A revolução de 1930 e seu significado político. In: CPDOC/FGV. A revolução de 1930: seminário internacional. Brasília: Ed. UnB, 1983, p. 669-689.
VIANNA, L. W. Caminhos e descaminhos da revolução passiva à brasileira. Dados, v. 39, n. 3, 1996. http://bit.ly/14sOosL


8 de outubro
     IV.            As camadas médias e participação política
Bibliografia obrigatória
Décio Saes, Classe média e sistema político no Brasil. (seminário; aula)
Comentários: pp. 27-150.

Bibliografia complementar
BRESSER-PEREIRA, L. C. Capitalismo dos técnicos e democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 20, n. 59, p. 133–148, out. 2005. http://bit.ly/1aFOIbv
CODATO, A. Classes dirigentes e fórmula política: afinidades eletivas entre o liberalismo e o autoritarismo no Brasil. In: ALMEIDA, João Ferreira de; SILVA, Manuel Carlos; AGUIAR, João Valente. (Org.). Classes sociais e processos de identificação cultural. Famalicão (Portugal): Humus, 2013, p. 221-245.
SCALON, C.; SALATA, A. Uma nova classe média no Brasil da última década?: o debate a partir da perspectiva sociológica. Sociedade e Estado, v. 27, n. 2, p. 387–407, ago. 2012. http://bit.ly/1aFNZaj
TRÓPIA, P. V. Sindicalismo comerciário: retaguarda e conservadorismo político. Cadernos Arquivo Edgard Leuenroth (UNICAMP), v. 12-13, p. 73-114, 2000. http://bit.ly/18Dex5T


15 de outubro
      V.            O proletariado brasileiro
Bibliografia obrigatória
Angela M. de Castro Gomes, A invenção do trabalhismo. (seminário; aula)
Comentários: pp. 189-287.

Bibliografia complementar
CARDOSO, A. Uma utopia brasileira: Vargas e a construção do estado de bem-estar numa sociedade estruturalmente desigual. Dados, v. 53, n. 4, p. 775–819, 2010. http://bit.ly/1fcfiq4
MARCONDES FILHO, Alexandre. Trabalhadores do Brasil! Palestras do Ministro Marcondes Filho na Hora do Brasil, em 1942. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 1943.
PARANHOS, Adalberto. O roubo da fala: origens da ideologia do trabalhismo no Brasil. São Paulo: Boitempo, 1999.
SAES, D. A. M. DE. A questão da evolução da cidadania política no Brasil. Estudos Avançados, v. 15, n. 42, p. 379–410, ago. 2001. http://bit.ly/1aFOlNV


22 de outubro
     VI.            O povo na política nacional
Bibliografia obrigatória
Francisco Weffort, O populismo na política brasileira. (seminário; aula)
Comentários: pp. 15-121.

Bibliografia complementar
FERREIRA, Jorge. O nome e a coisa: o populismo na política brasileira. In: FERREIRA, J. (org), O populismo e sua história: debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 59-124.
JAGUARIBE, Hélio. Que é o ademarismo? Cadernos do Nosso Tempo, n. 2, jan.-jun. 1954.
LEVINE, Robert M. Pai dos pobres? O Brasil e a era Vargas. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
MIGUEL, L. F. O representante como protetor: incursões na representação política “vista de baixo.” Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 27, n. 79, p. 31–47, jun. 2012. http://bit.ly/19T450F
SAES, Décio. A reemergência do populismo no Brasil e na América Latina. In: Evelina Dagnino (org.), Anos 90: política e sociedade no Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1994.
TERRON, S. L.; SOARES, G. A. D. As bases eleitorais de Lula e do PT: do distanciamento ao divórcio. Opinião Pública, v. 16, n. 2, p. 310–337, nov. 2010. http://bit.ly/1aFRA89



Unidade III:
ESTADO E REPRESENTAÇAO DE INTERESSES NO BRASIL
nº de encontros:
um
5 de novembro
   VII.            Estado, burocracia e formas de representação de interesses
Bibliografia obrigatória
Luciano Martins, Estado e burocracia no Brasil pós-64. (seminário; aula)
Comentários: pp. 41-82 e p. 195-239.

Bibliografia complementar
CARDOSO, Fernando Henrique. Autoritarismo e democratização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
DINIZ, Eli. Engenharia institucional e políticas públicas: dos conselhos técnicos às câmaras setoriais. In: PANDOLFI, Dulce D. (org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999.
LOUREIRO, M. R.; ABRUCIO, F. L. Política e burocracia no presidencialismo brasileiro: o papel do Ministério da Fazenda no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 14, n. 41, p. 69–89, out. 1999. http://bit.ly/1fceWQl
NUNES, Edson. A gramática política do Brasil: clientelismo e insulamento burocrático. Rio de Janeiro: ENAP/Jorge Zahar, 1997.
OLIVIERI, C. Política, burocracia e redes sociais: as nomeações para o alto escalão do Banco Central do Brasil. Revista de Sociologia e Política, n. 29, p. 147–168, nov. 2007. http://bit.ly/14SOJBr
SCHMITTER, Philippe C. Interest Conflict and Political Change in Brazil. Stanford: Stanford University Press, 1971.
SCHNEIDER, Ben Ross. Burocracia pública e política industrial no Brasil. São Paulo, IDESP/Editora Sumaré, 1994.


Unidade IV:
ANÁLISES INSTITUCIONAIS DA POLÍTICA BRASILEIRA
nº de encontros:
três
12 de novembro
  VIII.            A formação dos partidos nacionais no pós-1946 e sua dinâmica contemporânea
Bibliografia obrigatória
Maria do Carmo Campello de Souza, Estado e partidos políticos no Brasil (1930-1964). (seminário; aula)
Comentários: pp. 63-168.

Bibliografia complementar
BOLOGNESI, B. A seleção de candidaturas no DEM, PMDB, PSDB e PT nas eleições legislativas federais brasileiras de 2010: percepções dos candidatos sobre a formação das listas. Revista de Sociologia e Política, v. 21, n. 46, p. 45–68, jun. 2013. http://bit.ly/14YXk5K
BRAGA, M. DO S. S.; PIMENTEL JR, J. Os partidos políticos brasileiros realmente não importam? Opinião Pública, v. 17, n. 2, p. 271–303, nov. 2011. http://bit.ly/19T7vR3
LIMA JR., Olavo Brasil. (1983), Partidos políticos brasileiros. A experiência federal e regional: 1945/64. Rio de Janeiro, Graal.
MAINWARING, Scott. Rethinking party systems in the third wave of democratization. The case of Brazil. Stanford, Stanford University Press, 1999.
REIS, F. W. Identidade política, desigualdade e partidos brasileiros. Novos Estudos - CEBRAP, n. 87, p. 61–75, jul. 2010. http://bit.ly/18frx1o
SOARES, G. A. D. Sociedade e política no Brasil. Desenvolvimento, classe e política durante a Segunda República. São Paulo: Difel, 1973.



19 de novembro
      IX.            Crises e rupturas do sistema político
Bibliografia obrigatória
Wanderley G. dos Santos, O cálculo do conflito: estabilidade e crise na política brasileira. (seminário; aula)
Comentários: pp. 27-47; e 201-302.

Bibliografia complementar
FICO, Carlos. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, pp. 29-60, 2004. http://bit.ly/19T7KLO
FIGUEIREDO, Argelina Cheibub. Democracia ou reformas? Alternativas democráticas à crise política: 1961-1964. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
FIGUEIREDO, Argelina e LIMONGI, Fernando. (1999), Executivo e Legislativo na nova ordem constitucional. São Paulo, Ed. da FGV.
LIMONGI, F. Presidencialismo, coalizão partidária e processo decisório. Novos Estudos - CEBRAP, n. 76, nov. 2006. http://bit.ly/19T6ZCB



26 de novembro
       X.            Partidos, eleições, políticos e dinâmica político-institucional no pós-1988
Bibliografia obrigatória
Gláucio Ary Dillon Soares, A democracia interrompida. (seminário; aula)
Comentários: pp. 65-238.

Bibliografia complementar
AMES, Barry. A democracia brasileira: uma democracia em xeque. In: ABREU, Alzira Alves (org.). Transição em fragmentos: desafios da democracia no final do século XX. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001, p. 45-72.
CERVI, E. U. Produção legislativa e conexão eleitoral na assembleia legislativa do estado do Paraná. Revista de Sociologia e Política, v. 17, n. 32, p. 159–177, fev. 2009. http://bit.ly/14YTZDG
MAINWARING, Scott. Políticos, partidos e sistemas eleitorais: o Brasil numa perspectiva comparada. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, 29, março 1991.
PALERMO, Vicente. Como se governa o Brasil? O debate sobre instituições políticas e gestão de governo. Dados, Rio de Janeiro, v. 43, n. 3, 2000. http://bit.ly/19T86Ce
RODRIGUES, L. M. Partidos, ideologia e composição social. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17, n. 48, p. 31–47, fev. 2002. http://bit.ly/18fseaY
SINGER, A. Raízes sociais e ideológicas do lulismo. Novos Estudos - CEBRAP, n. 85, p. 83–102, 2005. http://bit.ly/14SOk1W
VEIGA, L. F. O partidarismo no Brasil (2002/2010). Opinião Pública, v. 17, n. 2, p. 400–425, nov. 2011. http://bit.ly/14YX32G





Avaliação:

Será preciso ler, no todo ou em parte, os onze livros referidos na bibliografia obrigatória.

A cada livro o estudante deverá enviar, individualmente, questões e comentários semanais antes da respectiva aula expositiva/seminário. Esta é uma parte da nota.

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Dois ou três estudantes formarão um time que deverá apresentar um seminário.
O seminário consistirá na exposição de um dos livros indicados.
Esta será a segunda parte da nota. Haverá também um time de debatedores formado por dois ou três estudantes.
Apresentadores e debatedores devem entregar um relatório da leitura do livro objeto do seminário no dia do seminário.

Ao final, todos os estudantes devem escrever um ensaio discutindo e relacionando no mínimo dois livros (e que sejam – obrigatoriamente – diferentes dos livros apresentados/debatidos nos seus respectivos seminários).


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11 de agosto de 2013

O velho Senado, Machado de Assis

[Palácio Monroe
Rio de Janeiro] 


A PROPÓSITO de algumas litografias de Sisson, tive há dias uma visão do Senado de 1860. Visões valem o mesmo que a retina em que se operam. Um político, tornando a ver aquele corpo, acharia nele a mesma almados seus correligionários extintos, e um historiador colheria elementos para a história. Um simples curioso não descobre mais que o pinturesco do tempo e a expressão das linhas com aquele tom geral que dão as coisas mortas e enterradas.

Nesse ano entrara eu para a imprensa. Uma noite, como saíssemos do teatro Ginásio, Quintino Bocaiúva e eu fomos tomar chá. Bocaiúva era então uma gentil figura de rapaz, delgado, tez macia, fino bigode e olhos serenos. Já então tinha os gestos lentos de hoje, e um pouco daquele ar distant que Taine achou em Mérimée. Disseram coisa análoga de Challemel-Lacour, que alguém ultimamente definia como très républicain de conviction et très aristocrate de tempérament. O nosso Bocaiúva era só a segunda parte, mas já então liberal bastante para dar um republicano convicto. Ao chá, conversamos primeiramente de letras, e pouco depois de política, matéria introduzida por ele, o que me espantou bastante; não era usual nas nossas práticas. Nem é exato dizer que conversamos de política, eu antes respondia às perguntas que Bocaiúva me ia fazendo, como se quisesse conhecer as minhas opiniões. Provavelmente não as teria fixas nem determinadas; mas, quaisquer que fossem, creio que as exprimi na proporção e com a precisão apenas adequadas ao que ele me ia oferecer. De fato, separamo-nos com prazo dado para o dia seguinte, na loja de Paula Brito, que era na antiga praça da Constituição, ao lado do teatro São Pedro, a meio caminho das ruas do Cano e dos Ciganos. Relevai esta nomenclatura morta; é vício de memória velha. Na manhã seguinte, achei ali Bocaiúva escrevendo um bilhete. Tratava-se do Diário do Rio de Janeiro, que ia reaparecer, sob a direção política de Saldanha Marinho. Vinha dar-me um lugar na redação com ele e Henrique César Múzio.

Estas minudências, agradáveis de escrever, sê-lo-ão menos de ler. É difícil fugir a elas, quando se recordam coisas idas. Assim, dizendo que no mesmo ano, abertas as câmaras, fui para o Senado, como redator do Diário do Rio, não posso esquecer que nesse ou no outro ali estiveram comigo, Bernardo Guimarães, representante do Jornal do Commercio, e Pedro Luís, por parte do Correio Mercantil, nem as boas horas que vivemos os três. Posto que Bernardo Guimarães fosse mais velho que nós, partíamos irmãmente o pão da intimidade. Descíamos juntos aquela praça da Aclamação, que não era então o parque de hoje, mas um vasto espaço inculto e vazio como o campo de São Cristóvão. Algumas vezes íamos jantar a um restaurante da rua dos Latoeiros, hoje Gonçalves Dias, nome este que se lhe deu por indicação justamente do Diário do Rio; o poeta morara ali outrora, e foi Múzio, seu amigo, que pela nossa tolha o pediu à Câmara Municipal. Pedro Luís não tinha só a paixão que pôs nos belos versos à Polônia e no discurso com que, pouco depois, entrou na Câmara dos Deputados, mas ainda a graça, o sarcasmo, a observação fina e aquele largo riso em que os grandes olhos se faziam maiores. Bernardo Guimarães não falava nem ria tanto, incumbia-se de pontuar o diálogo com um bom dito, um reparo, uma anedota. O Senado não se prestava menos que o resto do mundo à conversação dos três amigos.
[Machado de Assis]

continua aqui
Estud. av. vol.23 no.67 São Paulo  2009
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