artigo recomendado

Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections

11 de abril de 2011

"Bresser-Pereira: PSDB se tornou o partido da direita e dos ricos"

[Smoke, 1993
Lily Sverner.  
Pirelli/MASP] 

ENTREVISTA
O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira acaba de eliminar seu último vínculo com a política institucional: declarou-se desligado do PSDB — que, segundo ele, caminhou de forma definitiva para a direita ideológica. O desligamento partidário marca também o retorno do intelectual à sua origem desenvolvimentista.
Em entrevista a Maria Inês Nassif, do Valor Econômico, Bresser-Pereira admite que não escapou à sedução do neoliberalismo, nos anos 90. Mas define uma diferença de origem entre ele e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como intelectuais: o nacionalismo. Segundo o ex-ministro, a teoria da dependência associada, de Fernando Henrique, caiu como uma luva para a esquerda americana — não por intenção do autor mas por conveniência do “império”. No governo, FHC não se contradisse: a teoria da dependência associada pregava o crescimento do país com capital externo. O caráter não nacionalista dos governos tucanos era absolutamente compatível com a teoria da dependência associada do intelectual Fernando Henrique.

Leia abaixo trechos da entrevista.

Valor: O senhor está onde sempre esteve?
Luiz Carlos Bresser-Pereira: No governo Fernando Henrique, ou nos anos 90, a hegemonia neoliberal foi muito violenta. Foi tão violenta que também atingiu a mim. Não escapei dela. Logo que saí do governo, publiquei um livro chamado A Crise do Estado. Aí, resolvi publicá-lo em inglês e revi o livro todo, de forma que, quatro anos depois, ele foi publicado em inglês.

Quando isso aconteceu, já estava entusiasmado com a vitória do Fernando Henrique e influenciado pelas ideias liberais. Não tinha me tornado um neoliberal de forma nenhuma, tenho certeza disso — mas estava mais perto do neoliberalismo do que estou hoje.

Valor: Caiu no conto da globalização?
Bresser-Pereira: Um pouco. Não totalmente, mas ninguém é de ferro. O grande problema da social-democracia é que ela se deixou influenciar, no mundo inteiro. A Terceira Via, por exemplo, hoje tão criticada, tinha um grande intelectual como Anthony Giddens por trás dela, um homem de centro-esquerda. Foi nesse estado de espírito que entrei no governo Fernando Henrique.

Mas também foi lá que tomei um susto. Eu estava fazendo a reforma gerencial, que era uma reforma essencialmente para fortalecer o Estado social, pois era a reforma dos serviços sociais e científicos do Estado. Mas fiquei surpreso com duas coisas dentro do governo: uma, que não havia nenhuma perspectiva nacional, não havia nenhuma distinção entre empresa nacional e estrangeira.

Muito pelo contrário: Fernando Henrique dizia forte e firmemente que não havia essa diferença, que era tudo rigorosamente igual — e isso é bobagem, é coisa que os americanos e europeus contam para nós, mas nunca praticaram. Aquilo me deixava muito incomodado. E a outra coisa que me deixou muito incomodado foi a política econômica.

Valor: Do ponto de vista acadêmico, o senhor não se considera da mesma escola que Fernando Henrique?
Bresser-Pereira: Fui dar uma aula em Paris, na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, e aí o Afrânio Garcia, um antropólogo que substituiu Ignacy Sachs na direção de um centro sobre o Brasil, e mais um cientista político do Rio Grande do Sul, o Hélgio Trindade, fizeram comigo uma entrevista para uma pesquisa, em outubro de 2003. Num certo momento, disse a eles: “Não sou da escola de sociologia de São Paulo, sou da escola do Iseb”. O Afrânio disse: “O quê?”. Era uma surpresa para ele.

Eu me formei a partir do pensamento do Celso Furtado, do Inácio Rangel — o Celso Furtado não foi do Iseb, mas era da Cepal, e a Cepal cepalina era estruturalista, como o Iseb. É claro que fiquei amigo da escola de sociologia de São Paulo, a escola do Florestan Fernandes e do Fernando Henrique, que vai dar na teoria da dependência, mas não tenho nada a ver com isso. Quando eu disse isso, o Afrânio pediu para eu fazer um seminário. Fiz dois papers. Um, que se chama “O conceito de desenvolvimento do Iseb” e outro, mais interessante, que se chama “Do Iseb e da Cepal à teoria da dependência”, em que vou fazer a crítica da dependência.

Valor: Isso foi em que ano?
Bresser-Pereira: Foi em 2004. Para fazer esse paper, fui rever as ideias do Fernando Henrique. Eu sabia que ele tinha deixado de ser esquerda, mas eu também tinha deixado um pouco de ser esquerda. Eu continuava um pouco e ele tinha deixado de ser mais do que eu. Mas o que não era claro para mim era a parte nacionalista, a parte de poupança externa, essas coisas.

Aí fui ler outra vez o livro clássico dele e do Enzo Faletto (Dependência e Desenvolvimento na América Latina). E vi que Fernando Henrique estava perfeitamente coerente. O que é a teoria da dependência? É uma teoria que vai se opor à teoria cepalina, ou isebiana, do imperialismo e do desenvolvimentismo, que defende como saída para o desenvolvimento uma revolução nacional, associando empresários, trabalhadores e governo, para fazer a revolução capitalista. O socialismo ficava para depois.

A teoria da dependência foi criada pelo André Gunther Frank, um notável marxista alemão que estudou muitos e muitos anos na Bélgica e que em 1965 publicou um pequeno artigo chamado “O desenvolvimento do subdesenvolvimento”, brilhante e radical. É a crítica à teoria da revolução capitalista, à teoria da aliança da esquerda com a burguesia. É a afirmação categórica de que não existia, nunca existiu e nunca existiria burguesia nacional no Brasil ou na América Latina.

No Brasil, os seguidores de Gunther Frank eram o Ruy Mauro Marini e o Teotônio dos Santos, mas no final, e curiosamente, o seguidor deles mais ilustre vai ser o Florestan Fernandes maduro. Eles concordam que não existe burguesia nacional. Quando a burguesia nacional é compradora, entreguista, associada ao imperialismo, a única solução é fazer a revolução socialista. É bem louco, mas é lógico.

Aí vieram o Fernando Henrique e o Enzo Faletto e disseram que havia alternativa, a dependência associada. Ou seja, as multinacionais é que seriam a fonte do desenvolvimento brasileiro, cresceríamos com poupança externa. Era a subordinação ao império. Claro que o império ficou maravilhado. A teoria da dependência foi um grande sucesso — os outros liam e faziam suas interpretações.

Na prática, era uma maravilha: a esquerda americana, que se reúne nas conferências da Latin America Student Association, nos Estados Unidos, encontrava um homem democrático de esquerda que via nos Estados Unidos um grande amigo na luta pela justiça social. Quando fiz essa revisão, estava começando a romper com o PSDB.

Valor: E quando o senhor chegou ao PSDB?
Bresser-Pereira: Em 1988, fui um dos fundadores do PSDB. Na época da fundação, o Montoro não queria o nome de social-democracia para o partido, porque tinha origem na democracia cristã, que a vida inteira tinha lutado contra os social-democratas na Inglaterra, na Alemanha e na Itália. Nós ganhamos, pelo fato de sermos centro-esquerda.

Mas aí ele dizia: “Muito bem, mas e se esse bendito PT, que se diz revolucionário, que tem propostas para a economia brasileira completamente irresponsáveis, chega no poder ou perto do poder e se domestica, e se torna social-democrata, como aconteceu na Europa? Eles têm toda uma integração com os trabalhadores sindicalizados, que nós não temos, então nós vamos ser empurrados para a direita”. E foi isso que aconteceu.

Valor: Quando o senhor considera que o PSDB começa essa trajetória para a direita?
Bresser-Pereira: O Fernando Henrique teve dois azares: o primeiro foi que governou o país no auge absoluto do neoliberalismo, enquanto Lula governou no momento em que o neoliberalismo começa a entrar em crise; e o segundo é que seu governo não gozou do aumento dos preços das commodities de que o Lula desfrutou.

Mas o fato concreto é que no governo Fernando Henrique o partido já caminhava para a direita muito claramente. Daí o PT ganhou a eleição e assumiu uma posição de centro-esquerda, tornou-se o partido social-democrata brasileiro — e o PSDB, naturalmente, continuou sua marcha acelerada para a direita. Nas últimas eleições, ele foi o partido dos ricos. Isso, desde 2006.

É a primeira vez na história do Brasil que nós temos eleições em que é absolutamente nítida a distinção entre a direita e a esquerda, ou seja, entre os pobres e a classe média e os ricos. E um partido desse não me serve, seja pela minha posição social-democrata, seja pela minha posição nacionalista econômica — tenho horror profundo e absoluto do nacionalismo étnico.

Acho que a globalização é uma grande competição em nível mundial, quando todos os mercados se abriram, e passou a haver uma competição global não apenas das empresas, mas dos países. E você precisa, mais do que nunca, uma estratégia nacional de desenvolvimento.

Valor: Retomar a ideia de nação, que ficou meio apagada nos anos 90?
Bresser-Pereira: Isso, retomar a ideia de nação. E a própria ideia de centro-esquerda, que ficou um pouco apagada nesse período. Às vezes me perguntam: “Se você não é mais um membro do PSDB, foram eles que mudaram ou você?”. Fomos os dois. Eles mudaram mais para a direita e eu mudei um pouco mais para a esquerda. Recuperei algumas ideias nacionalistas que achava muito importantes.

Valor: A quem isso serve?
Bresser-Pereira: Isso é muito claro. Eu uso uma frase do Jacques Rancière, sociólogo político francês, de esquerda, sobre o ódio à democracia. A democracia sempre foi uma demanda dos pobres, dos trabalhadores, de classes médias republicanas, nunca foi dos ricos. Os ricos odeiam a democracia, embora digam que defendem. Eles sabem que a democracia não vai expropriá-los, que a ditadura da maioria não vai expropriá-los — mas eles continuam liberais e, se não têm ódio, pelo menos têm medo da democracia.

E qual a melhor forma de neutralizar a democracia? São duas. Uma é fazer campanhas eleitorais muito caras. Então, financiamento público de campanha, jamais. Rico não aceita isso em hipótese alguma. A outra estratégia é desmoralizar os políticos.

Uma coisa clara é que a corrupção existe porque o capitalismo é essencialmente um sistema corrupto e os capitalistas estão permanentemente corrompendo o setor público. É fácil verificar quem são os servidores públicos mais corruptos. Quem corrompe professor universitário? Ninguém. E quem corrompe delegado de polícia?

É claro que tem um monte de gente interessada em corromper delegado de polícia, fiscal da Receita. Os fiscais da Receita não são intrinsecamente mais desonestos que os professores. Fizeram concursos mais ou menos igualmente, são pessoas igualmente respeitáveis — só que uns são submetidos a processos de corrupção por parte das empresas; outros, não.

Valor: O que o senhor acha do Bolsa Família?
Bresser-Pereira: Acho uma maravilha. Sempre acreditei piamente na competição. Quando pensava naquela emenda da Revolução Francesa — Liberdade, Igualdade e Fraternidade —, eu entendia perfeitamente as ideias de liberdade e igualdade, mas a fraternidade eu achava simplesmente simpática. Nesses últimos anos, todavia, descobri que é absolutamente fundamental.

Na sociedade em que vivemos, existe uma quantidade muito grande de pessoas cuja capacidade de competir é muito limitada. Mesmo que tenha educação, por características pessoais, geralmente de equilíbrio emocional, às vezes de inteligência, essas pessoas não são capazes de se defender da competição como devem. E aí que entra a fraternidade.

O Bolsa Família é um mecanismo altamente fraterno. O Lula sabe da necessidade da fraternidade, da solidariedade — a vida dele deve ter lhe ensinado. Ele é perfeitamente capaz de competir por conta dele, isso é evidente. Mas sabe a importância da solidariedade.

Da Redação, com informações do Valor Econômico
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17 de março de 2011

a economia como ciência social

[Brasil, 1986
Sebastião Salgado.
Pirelli/MASP] 

programa (provisório) do curso
Introdução às Ciências Sociais





HC 311 - INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
2011 (1º. semestre)
Professor Adriano Codato

Ementa
Transmitir uma ampla visão do processo social, destacando os diversos aspectos que permeiam o conjunto das relações sociais e a dinâmica da sociedade humana, de modo a incentivar no educando o interesse pelo estudo das interações entre a Economia e as demais ciências sociais. (a ementa não fui eu quem escreveu)

Metodologia
Aulas expositivas; exercícios práticos de leitura; debates em sala de aula.

Avaliação
Duas provas escritas em sala de aula, sem consulta.

Calendário das Sessões

16 março: apresentação do curso

UNIDADE i. A ciência da política
18 março: Política e Ciência Política: visões normativas e concepções descritivas (aula 1)
Referências obrigatórias:
BOBBIO, Norberto. Política. In: N. Bobbio, N. Matteucci e G. Pasquino. Dicionário de Política. 2ª ed. Brasília, Ed. Universidade de Brasília, 1986.
BOBBIO, Norberto. Ciência Política. In: N. Bobbio, N. Matteucci e G. Pasquino. Dicionário de Política. 2ª ed. Brasília, Ed. Universidade de Brasília, 1986.

23 março: O desenvolvimento da Ciência Política: a) o marxismo (aula 2)
Referência obrigatória: CODATO, Adriano. O Dezoito Brumário, política e pós-modernismo. Lua Nova (Impresso), São Paulo - SP, v. 64, p. 85-115, 2005.

25 março: O desenvolvimento da Ciência Política: b) o neo-institucionalismo (aula 3)
Referência obrigatória: HALL, Peter A.; TAYLOR, Rosemary C. R. As três versões do neo-institucionalismo. Lua Nova, São Paulo: n. 58, 2003. 

30 março: não haverá aula

1 abril: O desenvolvimento da Ciência Política: c) o culturalismo (aula 4)
Referência obrigatória: PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: Ed. da FGV, 1996, cap. 6: Capital social e desempenho institucional.
uma resenha do livro aqui

6 abril: O desenvolvimento da Ciência Política: d) o comportamentalismo (aula 5)
Referência obrigatória: DAHL, Robert A. Poliarquia: participação e oposição. São Paulo: Edusp: 1997, capítulo 4: A Ordem Socioeconômica: Concentração ou Dispersão?

UNIDADE II. O FENÔMENO POLÍTICO
8 abril: Poder e Legitimidade: o que é poder? Poder e dominação (aula 6)
Referências obrigatórias:
ARON, Raymond. Macht, Power, Puissance, prosa democrática ou poesia demoníaca? In: _____. Estudos sociológicos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991.
BACHRACH, Peter e BARATZ, Morton S. Poder e decisão. In: F. H. Cardoso e C. E. Martins (orgs.). Política e sociedade. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1983, p. 43-52. 

13 abril: A dominação legítima e seus tipos (aula 7)
Referência obrigatória: WEBER, Max. Os três tipos puros de dominação legítima. In: COHN, Gabriel (org.). Max Weber: sociologia. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1986, Col. Grandes Cientistas Sociais, p. 128-141.

15 abril: A Ação Política: grupos de pressão e grupos de interesse (aula 8)
Referência obrigatória: DAHL, Robert A. Poliarquia: participação e oposição. São Paulo: Edusp: 1997, p. 25-50.

27 abril: As Organizações Políticas: partidos, sindicatos e associações (aula 9)
Referência obrigatória: MICHELS, Robert. Sociologia dos partidos políticos. Brasília: Editora da UnB, 1982, Parte I - A (cap. I), Parte I-B (cap. II), Parte I-C; Parte VI.

29 abril: Ideologias e Utopias: ideologias teóricas e ideologias práticas (aula 10)
Referências obrigatórias:
EAGLETON, Terry. Ideologia. Uma introdução. São Paulo: Editora Boitempo, 1997, p. 11-40.
CONVERSE, Philip E. Os sistemas de crenças. In: F. H. Cardoso e C. E. Martins (orgs.). Política e sociedade. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1983, vol. 2, p. 144-151.

4 maio: I avaliação semestral (aula 11)

6 maio: ideologias teóricas e ideologias práticas: a) liberalismo (aula 12)
Referência obrigatória: BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. 6ª. ed. São Paulo: Brasiliense, 2000.
 
11 maio: ideologias teóricas e ideologias práticas: b) socialismo (aula 13)
Referência obrigatória: WEBER, Max. Conferência sobre o socialismo. In: Fridman, Luiz Carlos (org.). Émile Durkheim, Max Weber: o socialismo. Rio de Janeiro: Relumé-Dumará, 1993, p. 85-128.

13 maio: ideologias teóricas e ideologias práticas: c) fascismo (aula 14)
Referência obrigatória: ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo: antissemitismo, imperialismo e totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

18 maio: o pensamento político: a) o pensamento político conservador (I) (aula 15)
Referência obrigatória: HIRSCHMAN, Albert. A retórica da intransigência: perversidade, futilidade, ameaça. São Paulo: Cia. das Letras, 1985.

20 maio: o pensamento político: b) o pensamento político conservador (II) (aula 16)
Referência obrigatória: HIRSCHMAN, Albert. A retórica da intransigência: perversidade, futilidade, ameaça. São Paulo: Cia. das Letras, 1985.
 
25 maio: o pensamento político: c) o pensamento político progressista (I) (aula 17)
Referências obrigatórias:  
OFFE, Claus. 1984. A democracia partidária competitiva e o ‘welfare state’ keynesiano: fatores de estabilidade e desorganização. In: _____. Problemas estruturais do Estado capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, p. 356-386.
ESPING-ANDERSEN, Gosta. As três economias políticas do welfare state. Lua Nova,  São Paulo,  n. 24, Sept.  1991, pp. 85-116.

27 maio: o pensamento político: d) o pensamento político progressista (II: as utopias políticas) (aula 18) (monitor)
Referências obrigatórias:
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
SCHUMPETER, Joseph. A significação do Manifesto Comunista na Sociologia e na Economia. In: H. J. Laski, O Manifesto Comunista de Marx e Engels. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

UNIDADE III. O Estudo das Instituições Políticas: o Estado
1 junho: O conceito de Estado: o que é o Estado? (aula 19)
Referência obrigatória: BOURDIEU, Pierre. Da casa do rei à razão de Estado: um modelo da gênese do campo burocrático. In: Wacquant, Loïc (org.). O mistério do ministério. Pierre Bourdieu e a política democrática. Rio de Janeiro: Revan, 2005.

3 junho: Características do Estado: A tradição weberiana: autoridade e legitimidade (aula 20)
Referências obrigatórias:
WEBER, Max. A política como vocação. In: _____. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, s/d.
BOBBIO, Norberto. A teoria do Estado e do poder em Max Weber. In: _____. Ensaios escolhidos. História do pensamento político. São Paulo: C. H. Cardim Editora, s/d, p. 157-184.

8 junho: Funções do Estado a tradição marxista (aula 22)
Referências obrigatórias:
ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. 8ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982, cap. IX: Barbárie e civilização, p. 177-201.
MILIBAND, Ralph. Marx e o Estado. In: BOTTOMORE, Tom (org.). Karl Marx. Rio de Janeiro: Zahar, 1981, p. 127-147.

10 junho: Origem e desaparecimento do Estado (aula 23)
Referência obrigatória: ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. 8ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982, cap. IX: Barbárie e civilização, p. 177-201. 

15 junho: O Estado na prática: a reforma do Estado no Brasil nos anos 1990 (aula 21) (monitor)
Referência obrigatória: BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Do Estado patrimonial ao gerencial. In: Pinheiro, Wilheim e Sachs, I. (orgs.). Brasil: um século de transformações. São Paulo: Cia. das Letras, 2001, p. 222-259.

17 junho: não haverá aula (aula 24)

29 junho: II avaliação semestral (aula 25)

6 julho: exames finais
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11 de março de 2011

democracia e países árabes

[Saudi Arabia, 1961
James Burke. Life] 


Icarabe: Quais são os problemas do olhar ocidental sobre a política do Oriente Médio?
Paulo Hilu*: Existem vários erros. Um dos erros é achar que essa região nunca conheceu a democracia. Os países que emergem do colonialismo francês e inglês tinham um sistema democrático, ou pelo menos estruturadamente democrático. Então, Síria, Líbano, Jordânia e Iraque tinham regimes que apresentavam todas as aparências da democracia liberal. Eleições, multipartidarismo, liberdade de imprensa. Só que eram sistemas que, ou eram controlados por um grupo, no caso do Líbano os maronitas, no do Iraque, os sunitas, ou era uma pequena elite urbana ou rural que controlava o sistema, como era o caso do Egito e da Síria. Isso fazia com que a maioria da população ficasse de fora da ação política. Muito parecido com o que era a República Velha aqui no Brasil.

Icarabe: E continuava a ligação com as colônias?
PH: Esses regimes dependiam das antigas potências coloniais, aos quais estavam ligados por tratados, que colocavam as riquezas e as forças armadas sob tutela dessas potências. Então, obviamente, as transformações do século XX, como urbanização, desenvolvimento de uma classe operária, o deterioramento das condições no campo, onde os proprietários de latifúndio exploravam uma mão-de-obra proletarizada, levaram à queda desses regimes. Outro fator foi o fracasso militar diante da primeira guerra entre árabes e isralenses, que levou à criação do Estado de Israel. De certa maneira, deslegitimizou esses Estados, vistos então como meros fantoches coloniais. Isso levou à queda de todos eles nas mãos de líderes populistas, geralmente inspirados por visões nacionalistas, de caráter socialista, e o melhor exemplo é Nasser. Então, esses líderes vão subir um a um. Nasser no Egito em 1952, o Baath na Síria em 1963, o partido Baath no Iraque em 1968. Você já tem na época uma percepção que ligava a democracia a um goveno de elite e ao colonialismo europeu, e a sua substituição por esses regimes nacionalistas árabes traziam uma idéia de que eles estavam realmente incorporando as massas ao processo político, e que realmente estavam atendendo aos desígnios da nação. Então, vêm dessa época a pouca base social que as idéias liberais tinham no Oriente Médio.

Icarabe: E como se saíram esses novos regimes?
PH: Esses regimes também não conseguiram resolver a questão. Eles também construíram regimes que excluíam boa parte da população do sistema político. Sem dúvida, eles tinham bases sociais nobres, como camponeses e operários, mas também se apoiavam em um poderoso aparato repressivo de polícias secretas. Além disso, economicamente, eles não conseguiram trazer um bem-estar à população e politicamemnte não conseguiram enfrentar a questão do conflito com Israel de maneira satisfatória. A questão palestina continuou sendo o grande problema das relações internacionais do Oriente Médio. A partir da década de 80, você tem o descrédito desses regimes e uma movimentação nas sociedades árabes em dois sentidos. Em primeiro, a substituição de ideologias nacionalistas e socialistas seculares por versões politizadas do Islã e das identidades religiosas, já num contexto de declínio mundial do socialismo. Essas identidades religiosas atendiam a uma representação de autenticidade cultural, a idéia de que o Islã era nativo, era o que o Oriente Médio tinha de original em relação a ideologias políticas importadas da Europa, entre elas o socialismo. Ao mesmo tempo, você tinha entre a classe média uma demanda por democracia e liberalização do regime. O que acontece é que os regimes autoritários conseguem chantagear essa classe média por causa do medo que elas tinham de um regime islâmico. Elas sempre tiveram um estilo bastante capitalista e uma visão de mundo bastante secularizada. Ninguém estava interessado numa República Islâmica no modelo do que aconteceu no Irã, em 1979.

Icarabe: Como se posicionavam esses novos movimentos islâmicos na política da região?
PH: Eles eram uma forma de protesto contra a corrupção, o autoritarismo, a opressão. Mas o interessante é que muitos movimentos islâmicos incorporaram reivindicações democráticas. Muitos deles pediam a liberalização do sistema político, da democracia, porque sabiam que iam ganhar qualquer eleição. Eles pediam o fim da tortura, o respeito aos direitos humanos. Então você tem essa nebulosa islâmica que toma conta do imaginário político do Oriente Médio. Eles também mobilizaram toda uma rede de assitência social e religiosa para trazer benefícios políticos, coisa que os partidos seculares nunca conseguiram.

Icarabe: Como reagiram os Estados a essa movimentação do Islã político?
PH: Os Estados responderam com uma força maior ainda, o que levou a um processo de radicalização e de violência, que vai marcar todo o final da década de 80 e começo dos anos 90. Isso acontece em toda a região. Só que a partir da década de 90, você tem um outro fenômeno, que é o declínio do Islã político. Primeiro, a crescente radicalização e a transformação desses movimentos em grupos violentos afasta o apoio social que eles tinham. Outra coisa, é uma crescente difusão desses ideais religiosos como elementos culturais. Passa-se a ter a islamização da sociedade, e o que eram valores religiosos passam a ser simplesmente valores culturais, ou seja, valores que são constituídos pelas interações sociais difusas, horizontais, sem intermediação de uma entidade, texto ou local religioso.

Icarabe: E hoje? Como permanece essa disputa?
PH: Nos anos 90, os modelos revolucionários como o Irã, entram em uma fase pós-revolucionária, com uma grave crise econômica e social. Isso faz com que haja uma substituição da militância ideológica pela meritocracia individual no Irã. Isso faz com que os movimentos do Islã político também mudem de foco. O foco deixa de ser o Estado, de difícil conquista pela luta armada. A construção da sociedade islâmica deixa de ser pensada a partir do Estado islâmico e passa ser vista a partir da reforma do indivíduo. A idéia é que se você reformar todos os indivíduos em bons muçulmanos, você terá uma sociedade islâmica independente do Estado. Nos anos 90, emerge esse modelo de Islã social, de religião pública no Oriente Médio. Esse é o modelo que predomina até hoje. Não quer dizer que o Islã político tenha desaparecido. Ele perde a hegemonia.

Icarabe: Quem comandaria essa reforma?
PH: Voltam à cena os líderes religiosos tradicionais, que estavam marginalizados pela militância do Islã político. Geralmente, os agentes do Islã político não saem do ambiente religioso. São, na verdade, pessoas que têm uma formação secular e interpretam a religião. Então há uma individualização das práticas e crenças religiosas, uma maior autonomia em relação ao establishment religioso ou a grupos religiosos. Você tem uma difusão e fragmentação desse processo. O que não o torna mais fraco. Pelo contrário, ele se torna cada vez mais presente. É só olhar qualquer cidade do Oriente Médio, os sinais exteriores de religiosidade são muito mais presentes do que 30 anos atrás, como o uso do véu, por exemplo.

Icarabe: Cite um exemplo de grupo que seguiu esse caminho?
PH: O Hezbollah é um exemplo perfeito disso. Nesses movimentos, muitos militantes se institucionalizaram e entraram no jogo político. A entrada no jogo político é o início de um rápido processo de desradicalização. O Hezbollah, quando foi criado no Líbano em 1982, em relação íntima com serviços secretos iranianos, pregava uma revolução islâmica no Líbano, como a Revolução Iraniana, para criar um Estado islâmico, virando depois uma revolução mundial. Mas o Hezbollah ganha consistência na sua luta contra o exército israelense no Líbano e passa, desde seu início até 2000, com a saída de Israel sob a pressão militar do próprio Hezbollah, de um grupo islâmico para um grupo nacionaista libanês. Embora o discurso fosse religioso, as táticas do Hezbollah e o objetivo deles eram objetivos nacionais libaneses, ou seja, passa a ser expulsar os israelenses do Líbano.

Icarabe: Então o Hezbollah é um ponto importante na cena política do Líbano, por exemplo?
PH: Você tem uma crescente conformação da prática política e da apresentação à cena política libanesa por parte do Hezbollah como partido nacional libanês. É com esse capital que eles entram no jogo político em 1992, participando das eleições municipais. Desde então eles participam de todas as eleições, e sempre marcados por um extremo prgamatismo, fazendo alianças com grupos cristãos e com grupos sunitas. Muitas vezes o Ocidente não entende que a liberalização dos regimes do Oriente Médio nos anos 90 foi causado pela pressão dos grupos islâmicos, ou seja, insistem em usar categorias esquemáticas de tudo que é Islã político é ruim, é terrorista.

Icarabe: E com ocorre a substituição de França e Inglaterra pelos Estados Unidos como potência imperialista na região?
PH: Desde 1956, os Estados Unidos substituem a potência intervencionista no Oriente Médio. Isso é marcado por duas coisas. A aliança com Arábia Saudita, por causa do petróleo, e a aliança estratégica com Israel. Os Estados Unidos eram contra os Estados nacionalistas que surgiram após a queda dos regimes ligados a ex-metrópoles. Quando surgem esses grupos islâmicos, os Estados Unidos não vêem necessariamente com maus olhos, porque eles são contra o nacionalimo árabe. Muitos desses grupos islâmicos eram financiados pela Arábia Saudita. Os Estados Unidos também estavam financiando a guerrilha jihadista no Afeganistão. Em um primeiro momento, eles não olham para isso como um problema. Eles vão ver isso como problema no final dos anos 80, quando os regimes aliados dos Estados Unidos, como o Egito de Mubarak, e o regime da Jordânia, se vêem acuados pela oposição islâmica.

* Coordenador de pesquisa de pós-graduação em Antropologia e do Núcleo de Estudos sobre o Oriente Médio da Universidade Federal Fluminense, de Niterói. Na instituição, trabalha com três linhas de pesquisa: estudo do Islã na Síria, estudo do Islã no Brasil e estudo da identidade árabe no Rio de Janeiro. É graduado em História, além de Medicina, tem mestrado em Antropologia da Ciência e Ensino e doutorado em Antropologia, com enfoque em Islã e Sufismo. Nascido em 1968, é de origem árabe, além de portuguesa, e morou na Síria entre os anos de 1999 e 2001. Tem três livros publicados.

fonte: http://icarabe.provisorio.ws/entrevistas/e-erro-achar-que-essa-regiao-nunca-conheceu-a-democracia
.

10 de março de 2011

teorias sociais e interesse de classe

[Homem com Peixe, c. 1945
Marcel Gautherot.  
Pirelli/MASP] 



para ler antes ou depois de assistir ao filme Inside Job (documentário, EUA, 120 min., diretor: Charles Ferguson)


Folha de S. Paulo,
quarta-feira, 09 de março de 2011
   
Teorias sociais

ANTONIO DELFIM NETTO

Todo analista de problemas sociais comprometido com uma "teoria" e, portanto, engajado, impõe-se uma sorte de miopia. Seja o caso: a) de um "neoclássico" que crê no equilíbrio geral do sistema econômico para dar um "ar científico" às suas recomendações; b) de um "marxista" que crê no materialismo histórico para dar um "ar de ciência" de como ver o mundo e sugerir sua mudança, ou c) de um "keynesiano" que se concentra na demanda global, na irremediável incerteza sobre o futuro, em conceitos psicológicos duvidosos e tem a teoria geral como o limite intransponível à compreensão da economia.

Em ciências humanas, as "teorias" são produto do tempo e do espaço: dos interesses políticos, econômicos e sociais (no fundo, de como a sociedade se organiza), da sua história e das circunstâncias impostas por seu território.

Elas e, portanto, suas recomendações variam no tempo e no espaço conforme interesses da classe que detém o poder e pode produzir a "política econômica" que lhe convém.

Há, consequentemente, sérias dúvidas sobre a famosa alegação de Keynes de que "as concepções de economistas e filósofos políticos, corretas ou erradas, são mais poderosas do que geralmente se suspeita... e que homens práticos, que se creem infensos a qualquer influência intelectual são, frequentemente, escravos do pensamento de algum economista que já morreu".

Sua própria teoria foi produto do seu tempo e do seu espaço.

Como lembrou o professor Von Mering (1944), o brilhante mas discutível Pareto ("Mind and Society") mostrou que os interesses (que chamamos de A), a política econômica (B) e a teoria (C) podem ter outra ordem: os interesses da classe que tem o poder político (A) constroem a política econômica que os satisfaz (B) e a teoria (C) racionaliza tal processo.

O exemplo de Pareto é muito interessante: poderosos interesses individuais (A) de quem estava assumindo o poder político (a burguesia emergente na Inglaterra) determinaram a política do "free trade" (B). A teoria (C) só veio depois, mas não teve importância na sua efetivação. Só racionalizou-a e aumentou a resistência à volta da proteção.

Ele fez uma previsão: se e quando (A) mudasse (aumentasse o poder político dos trabalhadores), a política protecionista poderia voltar e a teoria (C) iria se ajustar, como aliás, foi o caso de Keynes.

Substitua (A) por interesses da classe financeira que assumiu lentamente o controle político nos Estados Unidos depois de 1980; (B) pela desregulação das atividades produzida por esse controle e verá como nasceu a teoria (C) dos mercados perfeitos para dar-lhe racionalidade...

ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@terra.com.br


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9 de março de 2011

fernando pessoa, pierre bourdieu e a noção de habitus

[Date taken: 1901
Photographer: Nina Leen
Life] 

um amigo comentou: "acho mesmo que Bourdieu poderia escrever um livro sobre essa passagem de Fernando Pessoa, começando assim: 'tudo o que eu tenho a dizer sobre o conceito de habitus está condensado na passagem abaixo'...". Bingo.

Fernando Pessoa, Nota solta atribuída ao Barão de Teive. In: Obra poética. Volume único. Nova Aguillar, p. 57-58.

“O que particularmente me indignava contra mim, nesses momentos de dúvida dolorosa, em que eu sabia muito antes que a solução seria nenhuma, era a intromissão do fator social no jogo desequilibrado de minhas decisões. Nunca pude dominar o influxo da hereditariedade e da educação infantil. Pude sempre repugnar os conceitos estéreis de fidalguia e de posição social; nunca os pude esquecer. São em mim como uma cobardia, que detesto, contra a qual me revolto, mas que me prende com laços estranhos à inteligência e à vontade. Tive um dia a ocasião de casar, porventura de ser feliz, com uma rapariga muito simples, mas entre mim e ela ergueram-se-me na indecisão da alma catorze gerações de barões, a visão da vila sorridente do meu casamento, o sarcasmo dos amigos nunca íntimos, um vasto desconforto feito de mesquinhezas, mas de tantas mesquinhezas que me pesava como a comissão de um crime. E assim eu, o homem de inteligência e desprendimento, perdi a felicidade por causa dos vizinhos que desprezo.

“O modo como vestiria, as maneiras que teria, como receberia em minha casa, onde porventura eu não tivesse que receber alguém, quantas deselegâncias de frase ou de atitude a sua ternura me não pudesse fazer esquecer nem a sua dedicação velar - tudo isso me erguia como um espectro de coisas sérias, como se fosse um argumento, nas vigílias em que me debatia para o desejo de a ter na vasta rede de impossibilidades que sempre me entaramelou.

“Lembro-me ainda, com uma precisão que intercala o perfume vago do ar da primavera, da tarde em que, meditando todas estas coisas, decidi abdicar do amor como de um problema insolúvel. Era em maio - num maio de verão suave, florido pelas pequenas extensões da quinta em várias cores esbatidas pela queda lenta da tarde começada. Eu passeava remorsos de mim entre os meus poucos arvoredos. Havia jantado cedo, e seguia, sozinho como um símbolo, sob as sombras inúteis e o sussurro lento das ramagens vagas. Tomou-me de repente um desejo de abdicação intensa, de claustro firme e último, uma repugnância de ter tido tantos desejos, tantas esperanças, com tanta facilidade externa de os realizar, e tanta impossibilidade íntima de o poder querer. Data dessa hora suave e triste o princípio do meu suicídio”.
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28 de fevereiro de 2011

resenha: Politics in Time: History, Institutions and Social Analysis

[Pantanal, 1988
João Musa.
Pirelli/MASP]




 
PAUL PIERSON. Politics in Time. History, Institutions and Social Analysis.
Princeton University Press. New Jersey, 2004. 196 páginas.

por Juan Bautista Lucca*

Rev. Urug. Cienc. Polít. v.18 n.1 Montevideo dic. 2009

En los últimos años han surgido varios intentos teóricos para pensar las instituciones desde diversos ángulos. Peter Hall y Rosemary Taylor en su artículo "Political Science and the Three New Institutionalisms" realizan una organización tripartita de esto/img/revistas/rucp/v18n1s enfoques neoinstitucionalistas a partir de la base de sus vertientes disciplinares (del rational choice, sociológica y histórica).

En primer lugar, la unión del enfoque de la acción racional con el del neoinstitucionalismo (Barry 1974: 22-58) parte del supuesto racionalista de que los individuos buscan maximizar sus preferencias (dando por tierra la explicación de la existencia de un rumbo histórico) y por ende ven en las instituciones un reductor de la incertidumbre (en un marco de información incompleta) y la expresión última de aquella búsqueda de maximización de preferencias. En este enfoque el origen (y el cambio) de las instituciones se piensan como un juego de acuerdos y coaliciones entre los individuos (Hall and Taylor 2003: 204-206, 215).

En segundo lugar, el enfoque neoinstitucionalista sociológico, reconoce su origen en la Teoría de las organizaciones (con antecedentes que pueden rastrearse en la sociología clásica de Weber, Durkheim y Parsons como en los aportes contemporáneos de Selznick, Eisenstadt, entre otros). En la perspectiva es posible reconocer una definición más amplia que la de los enfoques previos, pues incluyen tanto a las normas formales como a lo que Hall y Taylor –retomando y reinterpretando a J. L. Campbell y W. R. Scout - denominan los "patrones de significación que guían la acción humana" (Hall y Taylor 2003: 209). Así, no es extraño a este enfoque, la confusión de las nociones de cultura e institución propias de una definición en sentido amplio de esta segunda –y por ende hay cierto parecido de familia con la versión cultural del enfoque histórico-, al igual que es posible que se confundan las nociones de organización e institución[1].

Por último, para Hall y Taylor, el neoinstitucionalismo histórico asocia generalmente las instituciones a las organizaciones formales, aunque van más allá de lo que precedentemente marcó el primer institucionalismo, ya que proponen que –desde una perspectiva calculadora - las instituciones reducen la incertidumbre a la hora de realizar un cálculo estratégico, o bien –desde una perspectiva cultural- sería posible pensar que las instituciones moldean la visión del mundo que posee el individuo y por ende afectan las preferencias y líneas de acción del mismo (Hall y Taylor 2003:197-202).

En este panorama teórico tripartito del neo institucionalismo, es sugerente el reciente desarrollo de Paul Pierson en "Politics in Time. History, Institutions and Social Analysis", ya que busca desde un enfoque histórico modelar los conceptos que permitan reconocer de manera precisa la diversidad de modalidades de vinculación entre eventos y eventos (Pierson 2004: 6). Para ello, coloca en el centro del análisis a una categoría tan cara al neo institucionalismo histórico, como es la de Path dependence (PD), entendida como el desarrollo de ciertas procesos sociales con un origen crítico, cuyos resultados generan una trayectoria que resulta más difícil de revertir a medida que transcurre el tiempo y ese sendero no es puesto en cuestionamiento (Pierson 2004: 21 y 172). Es decir, propone releer las instituciones a través de la siguiente secuencia: "punto de partida", generación de una "dependencia sensible de las condiciones iniciales" (path dependence) y la "retroalimentación positiva" de ese sendero ante los costos de un cambio o vuelta atrás (increasing returns) que generan la escasa plasticidad –o más bien continuidad- de las instituciones.[2]

Ahora bien, la propuesta de Pierson no solo es interesante en tanto piensa las instituciones en un proceso de construcción y reforzamiento histórico, sino también por colocar énfasis en la importancia de "cuándo" acontecen las cosas, el "timing" y la secuencia del encadenamiento de los eventos (Pierson 2004:45, 54, 64 y 77).

¿Cuáles son los elementos teóricos a tener en cuenta para pensar el origen de la institución, las dinámicas de reforzamiento (o continuidad) y las dinámicas de cambio? Desde la perspectiva de Pierson, pensar el origen está ligado a un momento crítico, en el cual se bifurcan las opciones, en el que se elije uno de los rumbos (se extrae una bola de color si se toma en cuenta la propuesta de la Urna de Polya), en el que se produce la transformación y discontinuidad de los ritmos sociales y políticos, convirtiendo estas coyunturas en "momentos de verdad" en los que se ponen juego los verdaderos resortes del presente y el futuro[3].

Según Pierson, la dinámica de continuidad del PD que produce aquella coyuntura crítica puede ser entendida teniendo en cuenta cómo el "costo de reversión" (increasing returns) y los mecanismos de resiliencia a cualquier tipo de cambio ofician como mecanismos de reforzamiento positivo (positive feedback).

Más allá de estos mecanismos que fortalecen la continuidad del PD, existen diferentes dinámicas de cambio, con lo cual es posible pensar en el carácter dinámico (o al menos no "congelado" a lo Lipset y Rokkan) del PD. Usando la expresión de Charles Lindblom (1996) es posible pensar el cambio tanto por la vía del cambio desde la raíz -a través de nuevas coyunturas críticas o procesos de difusión de nuevos consensos institucionales, como se vio previamente; o la del cambio desde las ramas, es decir a través de la agregación y sedimentación de pequeños cambios (layering) o incluso la reconversión del sentido de la institución (Pierson, 2004:137-9).

* Docente e Investigador en Ciencia Política de la Universidad Nacional de Rosario. Candidato a Doctor en Ciencias Sociales por FLACSO- Argentina.

Bibliografía

North, Douglass (1993). Instituciones, cambio institucional y desempeño económico. México: Fondo de Cultura Económica.
Lindbolm, Charles (1996). "La ciencia de salir del paso", en Aguilar Villanueva, Luis. La hechura de las políticas. México: Porrua Editores.
Hall, Paul and Rosemary Taylor (2003). "As tres versoes do neo-institucionalismo", en Revista Lua Nova. Nº 58. San Pablo. Disponible en http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S0102-64452003000100010&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Consultado el 13 de diciembre de 2007.
Barry, Brian (1974). Los sociólogos, los economistas y la democracia. Buenos Aires: Amorrortu Editores.       

NOTAS
[1] En lo relativo a esta última simbiosis conceptual, uno de los aportes - aunque provenientes de la economía- más esclarecedores, es el de D. North, cuando señala que la diferencia entre instituciones y organizaciones es similar a la diferencia entre las reglas y los jugadores: "El propósito de las reglas es definir la forma en que el juego se desarrollará. Pero el objetivo del equipo dentro del conjunto de reglas es ganar el juego a través de una combinación de aptitudes, estrategia y coordinación; mediante intervenciones limpias y a veces sucias" (North 1993: 15).

[2] La utilización de dicho concepto no supone pensar en la inevitabilidad del peso del pasado en el presente, ya que así como existen mecanismos de reforzamiento, existen mecanismos que alientan el cambio del sendero predispuesto, es decir existen continuidades como rupturas (aunque estas últimas sean menos recurrentes).

[3] Como señalan R. Collier y D. Collier (1990:30), las coyunturas críticas no duran siempre lo mismo a pesar que lo que se ponga en juego resulte a priori similar en varios casos (en su ejemplo la inserción de las masas a la política), las salidas y /o resultados de estas coyunturas críticas no siempre se encauzan de la misma manera, no siempre producen los mismos PD partiendo de coyunturas similares, ni el legado de esas coyunturas tuvieron secuencias temporales similares.
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26 de fevereiro de 2011

Zadie Smith: o mundo criado por um segundanista de Harvard é menos divertido que a vida real

[Round attachment for IBM typewriter.
Robert W. Kelley. Life]

Quero ficar na geração 1.0
por Zadie Smith

revista Piauí fev. 2011

[...] Para simplificar, trata-se de um nerd, um maníaco por computadores, um “autista” social: tipo tão reconhecível pelo público do diretor Fincher quanto o jornalista cínico era claramente identificável no tempo de Howard Hawks. Para criar esse Zuckerberg, o roteirista mal precisa encostar a pena no papel. Já entramos no cinema esperando o encontro com o personagem, e é um prazer ver que o filme se limita a preencher de cor o que já trazíamos delineado na nossa imaginação. Às vezes, a cultura consegue inferir, coletivamente, uma personalidade individual. Ou pelo menos acha que consegue. Acreditamos conhecer exatamente os motivos que levam os nerdsaseremcomo são: ganhar dinheiro, que traz popularidade, a qual, por sua vez, atrai garotas. Zuckerberg começa sua ascensão movido pelo despeito.

Muito tempo haverá de passar antes de surgir nas telas uma figura capaz de destronar Jesse Eisenberg, o ator que faz o papel de Zuckerberg, do topo da lista de tipos nerddo cinema. Voz passivo-agressiva e praticamente monocórdia. Tédio irrequieto sempre que outra pessoa está falando. O ar de desdém quase sem disfarce. Eisenberg escolhe inclusive o andar perfeito para o seu nerd: não o arrastar de pés para os lados do corredor (Não bata em mim!), mas a marcha muito vertical de peito estufado (Minha altura não é 1m73, tenho 1,75!).

Sempre de mochila, claro. Um longo plano de quatro minutos o mostra usando exatamente esse jeito de andar para atravessar de ponta a ponta o campus de Harvard antes de finalmente chegar a seu lugar predileto, o único onde se sente realmente à vontade: diante do laptop, escrevendo no seu blog.

Sabemos exatamente quem é esse cara. Superprogramado dos pés à cabeça, furioso, solitário. [...]

Se não é o dinheiro e não são as garotas, qual é afinal sua motivação? No caso de Zuckerberg, estamos diante de um autêntico mistério americano. Que talvez nem seja tão misterioso assim, e ele só esteja insistindo numa aposta a longo prazo, evitando realizar os lucros antes da hora: não 1 bilhão de dólares, mas cem bilhões de dólares. Ou será possível ainda que ele simplesmente adore programação? Os autores do filme devem ter levado essa hipótese em conta, mas seu dilema é patente: como poderiam transmitir o prazer de programar – se é que esse prazer existe – de um modo ao mesmo tempo cinematográfico e compreensível? É mais que notório que o cinema deixa a desejar quando se trata de mostrar os prazeres e os rigores da criação artística, mesmo quando conhecemos bem a forma de expressão. [...]

No fim das contas, decepcionante é a ideia do Facebook. Se fosse uma interface realmente interessante, criada para acolher os jovens 2.0 que são genuinamente diferentes, podia ser um grande marco. Mas não é o que acontece. O que vemos é o mesmo velho faroeste da internet, só que domesticado para se ajustar às fantasias das almas de classe média dos habitantes dos subúrbios de classe média. E diz Jaron Lanier:


Esses programas surgiram há pouco tempo, e por isso exibem essa qualidade um pouco fortuita e fragmentária. É preciso resistir aos canais mais fáceis para os quais tentam nos conduzir. Se você se apega a um meio de expressão constituído por um software, corre o perigo de se ver enredado nas ideias descuidadas que alguém andou tendo recentemente. É preciso resistir a isso!

Devemos então resistir ao Facebook? Nele, tudo é reduzido à escala do seu fundador. É azul porque, por acaso, Zuckerberg sofre de um daltonismo que não distingue o verde do vermelho. “O azul é a cor mais bem definida para mim – enxergo todos os tons de azul.” Nele, existe a ação poke, de “cutucar”, porque é o mesmo gesto que alguns rapazes tímidos usam para chamar a atenção das moças que eles têm medo de abordar com palavras. Concentra-se em torno de informações triviais porque, para Mark Zuckerberg, a troca de trivialidades pessoais é o que constitui a “amizade”. Estávamos destinados a começar uma vida on-line, o que prometia ser extraordinário. Mas que tipo de vida? Contemple seu mural do Facebook de uma certa distância: de repente não começa a ficar meio ridículo que a sua vida esteja nesse formato?

leia o texto na íntegra
aqui
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25 de fevereiro de 2011

reforma política, again

[Matthew Neely West Va., Politician
Date taken: October 1948
Photographer: Peter Stackpole
Life]



Gazeta do Povo, 25/02/2011

Política: a reforma da vez

Lucio Rennó e Wladimir Gramacho


O que provavelmente será debatido no Con­­­gresso Nacional neste ano é uma repetição do que se tentou aprovar em 2005

A recente trajetória (re)democrática brasileira nos mostra que o primeiro semestre legislativo de presidentes recém-empossados é prolífico em reformas. Vide os governos Fernando Henrique Cardoso em 1995 e Lula em 2003.

Em seu discurso de posse, Dilma Rousseff considerou que a reforma política é “tarefa indeclinável e urgente”. Falou pelo Executivo. Uma pesquisa recente do Instituto FSB ouviu 340 deputados federais e senadores da Legislatura 2011-2015. E descobriu que 65% deles têm a reforma política como uma de suas duas prioridades no 1.º semestre do ano. As outras mais citadas foram a reforma tributária (50%) e o código florestal (11%). Falaram pelo Legislativo.

O reconhecimento, pelos políticos, de que é preciso aperfeiçoar as regras do jogo tem sido estimulado por profundas mudanças no ambiente sociopolítico do país: graves denúncias da imprensa, crises de imagem de diferentes partidos, líderes políticos abatidos no topo de suas carreiras, pressão da opinião pública e da sociedade civil organizada e decisões do Judiciário.

Mas qual reforma política será proposta? E quais as chances de sua aprovação no Congresso? Mais importante: quais os possíveis efeitos dessas mudanças?

A primeira pergunta é de mais fácil solução. O que provavelmente será debatido no Congresso Nacional neste ano é uma repetição do que se tentou aprovar em 2005, quando os temas eram: mudança do sistema proporcional de lista aberta para lista fechada, estabelecimento do financiamento público de campanhas, redução da cláusula de barreira e o estabelecimento de prazos mais rígidos para movimentação entre partidos, entre outros.

Até este momento, os sinais mais evidentes dos atores interessados na reforma política sugerem a existência de dois pontos focais: a mudança do sistema proporcional de lista aberta para lista fechada e o estabelecimento do financiamento exclusivamente público de campanhas eleitorais. Os eleitores deixariam de votar em candidatos e votariam em listas de candidatos ordenadas pelos partidos. E as doações de campanha de pessoas físicas e jurídicas seriam proibidas, passando a existir fundo público que seria distribuído aos partidos para o financiamento das campanhas.

A resposta à segunda questão é que, segundo os próprios dados da pesquisa FSB, são grandes as chances de mudança das regras, a ponto de introduzir alterações radicais no funcionamento do sistema político brasileiro.

Com isso, chegamos à terceira pergunta: essas mudanças são boas para o Brasil?

Os debates sobre as reformas institucionais têm enfatizado a necessidade de redução do espaço para corrupção política no Brasil. A Lei da Ficha Limpa é um exemplo. A criação de listas fechadas e financiamento público exclusivo das campanhas, contudo, não é garantia de redução da corrupção política. Não há país no mundo que tenha sistema similar e que possa nos mostrar os efeitos práticos dessa interação e suas reações adversas. Daríamos um salto no escuro.

Os resultados podem ser excelentes. Mas também podem criar cartéis partidários, nos quais alguns caciques políticos dominariam as chaves de acesso ao poder. E o “caixa dois” das campanhas não se combate com financiamento público, mas com maior fiscalização, clareza na legislação e punição.

O sistema político brasileiro precisa de aperfeiçoamentos, mas não de uma refundação. Medidas pontuais, simples e eficazes seriam: (1) a redução do teto para doações de empresas, o que diminuiria o peso de grandes corporações no financiamento eleitoral; (2) a criação de novas restrições à propaganda eleitoral, o que diminuiria os custos das campanhas eleitorais; e (3) a redução do número de candidatos de cada partido ou coligação ao Legislativo, o que diminuiria o total de gastos eleitorais e simplificaria o processo de escolha do eleitor e o monitoramento do representante eleito. É hora de mudar. Com segurança.

Lucio Rennó, cientista político, é professor da Universidade de Brasília (UnB) e co-organizador do livro Reforma Política: Lições da História Recente (2006). Wladimir Gramacho, cientista político, e sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa.
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23 de fevereiro de 2011

sociografia da bancada de deputados do pr (2011-2014)






































Fonte: Gazeta do Povo (01/02/2011)

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22 de fevereiro de 2011

tv, cbf, flamengo e a taça das bolinhas

[Arquivo/AE] 




Entenda por que a CBF reconheceu hoje o título do Flamengo em 1987

Paulo Vinicius Coelho
espn Brasil



Que o Flamengo é campeão brasileiro legítimo de 1987, é óbvio. Você sabe minha posição há muito tempo. O Flamengo é o campeão legítimo, porque até Pernambuco acompanhou o Módulo Verde, dado que o Santa Cruz estava na competição. O Sport é o campeão legal porque as finais disputadas com W.O. contra Inter e Flamengo valeram o reconhecimento da CBF. E isso não se tira.

Então, a partir do reconhecimento da CBF ao título do Flamengo, o que aconteceu nesta segunda-feira, há dois campeões na história. O ano de 1987 passa a ser como o de 1968 e tem dois vencedores.
Mas aqui o assunto é: por que a CBF decidiu reconhecer hoje, e justamente nesta segunda-feira, o título brasileiro discutido há 24 anos?

O x da questão é o racha do Clube dos 13 sobre o novo contrato de TV para o Campeonato Brasileiro.
Para que você entenda melhor o tema, divido em capítulos:

1. Está em questão a renovação do contrato dos direitos de TV do Campeonato Brasileiro e isso ameaça rachar o Clube dos 13. De um lado está o Corinthians e, supostamente, os que votaram em Kléber Leite na eleição do C13 contra Fábio Koff, ano passado -- Botafogo, Coritiba, Goiás, Corinthians, Cruzeiro, Santos, Vasco e Vitória. Como Flamengo e Corinthians sempre pediram que os dois clubes de maior torcida tivessem maior percentual no rateio dos clubes, imagina-se que o Flamengo possa ir para esse lado.

2. Pela primeira vez, o Clube dos 13 divide os direitos de TV em categorias: TV aberta (brigam Globo e Record), TV fechada (SporTV ou ESPN podem ganhar), Internet, Celular. A ideia da comissão de TV, composta por Alexandre Kalil (Atlético-MG), Maurício Assumpção (Botafogo), Luis Álvaro (Santos), é que a decisão se dê com propostas feitas em envelopes fechados. A melhor proposta será a vencedora. A ideia está atrelada ao estudo feito por Ataíde Gil Guerreiro, ex-dirigente do São Paulo e diretor-executivo do Clube dos 13.

3. Ano passado, Ricardo Teixeira tomou duas atitudes rápidas após perder a eleição do Clube dos 13 -- apoiava Kléber Leite, derrotado por Fábio Koff. A primeira foi anunciar, no dia seguinte à derrota, que o Morumbi estava fora da Copa do Mundo de 2014. A segunda foi entregar ao São Paulo a Taça das Bolinhas. Do ponto de vista político, isso significava punir o clube de Juvenal Juvêncio -- principal articulador da candidatura Fábio Koff -- com a perda da Copa e, em seguida, jogar o São Paulo contra o Flamengo.

4. Após aceitar o reconhecimento como primeiro hexacampeão brasileiro, Juvenal Juvêncio afastou-se do Clube dos 13. Em vez de aglutinação entre as forças políticas vencedoras da eleição, o Clube dos 13 viu o afastamento delas. É esse afastamento o que permite, neste momento, o entendimento de Ricardo Teixeira de que pode seduzir Patrícia Amorim a acompanhar Andrés Sanchez num suposto racha do C13. E se manter favorável à Rede Globo. A pergunta é: por que a CBF tem tanto interesse em que a Rede Globo ganhe a concorrência?

5. Ninguém no C13 tem exata noção de que papel Patrícia Amorim exercerá na eleição a partir de agora. Ela pode ser cooptada pelo pequeno presente de Ricardo Teixeira -- ano passado, o Botafogo recebeu empréstimo de R$ 8 milhões e, por isso ou por outra razão, votou em Kléber Leite. O fato é que o empréstimo foi concedido próximo à data da eleição. Casos como esse é que permitem a impressão de que pode estar havendo troca de favores. Mais do que isso, produzem a certeza de que a tentativa da CBF é de trocar favores. Cabe ao Flamengo aceitar o presente, não trocar o favor.

Nesta terça-feira, há uma reunião em São Paulo da comissão de renovação dos direitos de TV do Campeonato Brasileiro. Nela, deve ficar claro qual será a data da abertura do envelope vencedor da disputa por TV aberta.

O Flamengo e o Sport são campeões brasileiros de 1987. Se você é rubro-negro, carioca ou pernambucano, pode comemorar. Mas não deixe de entender o contexto de cada decisão tomada pela CBF. Elas têm um viés diferente do que você imagina.

Se você quer entender o que aconteceu em 1987, mande uma mensagem para paulo.v.coelho@espn.com. Esclareço o que aconteceu.
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17 de fevereiro de 2011

o que é o quociente eleitoral?

[William Gropper] 


Rogério Schmitt

congresso em foco





O sistema eleitoral que utilizamos para a escolha dos nossos deputados (e vereadores) não é facilmente compreensível para os eleitores ou sequer para os próprios parlamentares. Em linguagem técnica, trata-se de um sistema de representação proporcional com listas abertas. Esse sistema existe para representar partidos, e não indivíduos.

Em tese, cada partido elegerá uma bancada diretamente proporcional à votação total recebida pela sigla. Uma legenda que tenha recebido 10% dos votos elegerá cerca de 10% dos deputados, e assim por diante. Se um partido ganhou o direito de eleger cinco deputados, serão empossados os cinco candidatos mais bem votados da sigla.  

O instrumento matemático utilizado para determinar o número de deputados eleitos por cada partido é conhecido como “quociente eleitoral”. Esse número representa a cota mínima de votos necessária para se eleger um parlamentar. Num estado hipotético com 15 deputados (A) e com 1,5 milhão de votos válidos (B), o quociente eleitoral será de 100 mil votos (B dividido por A).

Assim, um partido que, por exemplo, tenha alcançado 500 mil votos nessa eleição imaginária terá atingido cinco vezes o quociente eleitoral. Portanto, essa sigla elegerá cinco candidatos. Os eleitos serão os cinco que tiverem obtido as melhores votações individuais.

O “quociente eleitoral” virou o vilão da vez. Ninguém parece entender para o que ele serve. Os adeptos mais ardorosos da reforma política atribuem ao quociente eleitoral a responsabilidade por todas as imperfeições do nosso sistema representativo.

Mas o quociente eleitoral é justamente o mecanismo que possibilita a conversão dos votos dos eleitores em cadeiras legislativas. É ele que assegura, na prática, que essa conversão seja feita de modo proporcional – como manda, aliás, o nosso texto constitucional.

Com um pouco de atenção, podemos facilmente perceber que o quociente eleitoral num sistema de representação proporcional é o equivalente funcional do “distrito” num sistema de representação majoritária. Ambos cumprem exatamente o mesmo papel. O distrito é uma circunscrição geograficamente definida antes das eleições. O quociente é uma espécie de distrito informal que resulta da apuração de votos espalhados por todo o estado.

Autores clássicos do século XIX como John Stuart Mill e o nosso José de Alencar corretamente denominavam os quocientes eleitorais como “distritos voluntários”. Por esse sistema, eleitores distribuídos em diferentes partes de um mesmo território poderiam espontaneamente combinar os seus votos para eleger deputados que compartilhassem das mesmas opiniões políticas. Na época, era uma idéia revolucionária. Creio que continua sendo extremamente atual e democrática.

O quociente eleitoral nada mais é, portanto, do que um distrito não territorial. Será que alguém ainda se anima a defender essa boa idéia?

fonte:
http://www.congressoemfoco.com.br/noticia.asp?cod_canal=14&cod_publicacao=36106
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14 de fevereiro de 2011

marxismo acadêmico e marxismo político

[Agave, 1985
Arizona, EUA
Luiz Carlos Felizardo.
Pirelli/MASP] 



ex-diretores da revista crítica marxista propuseram a um grupo de colaboradores a seguinte questão:

- quais deveriam ser as características centrais e o perfil de uma revista teórica marxista que esteja à altura dos desafios intelectuais e políticos postos pelo século XXI? 
Adriano Codato: "A pergunta proposta sugere ao menos três dificuldades a serem enfrentadas por um periódico autonomeado “marxista”: 1) o lugar e a função do conhecimento teórico nessa tradição; 2) o papel político e cultural dos intelectuais marxistas na conjuntura presente; e 3) a serventia de uma revista universitária que pretende difundir o marxismo (também, ou principalmente, em função de sua audiência) como teoria social.

Como um meio para refletir sobre e fazer avançar o marxismo teórico, a publicação não pode deixar de buscar, selecionar e editar artigos que pretendam reinterpretar os textos clássicos dos clássicos do marxismo.

Mas esse trabalho exegético só terá sentido se mais adiante os achados aí presentes resultarem em conceitos de médio alcance, noções operatórias, estratégias analíticas para serem utilizados numa ciência social empírica. Esse é, a meu ver, a principal contribuição política e cultural que os intelectuais marxistas podem dar na conjuntura presente.

Nesse sentido, estamos bem longe da busca do marxismo puro e duro ou do “verdadeiro Marx”.

Essa miragem filosofante foi responsável por parir, no século XX, tantos marxismos quantos analistas disponíveis. As ideologias teóricas que surgiram daí, cujo efeito foi encerrar a discussão e não permiti-la, criaram uma série de campos de força que dividiram artificialmente as ciências sociais em “Sociologia burguesa” e Teoria Marxista.

O prejuízo contabilizado por essa separação bizantina, que parece ter mais a ver com as vantagens simbólicas que cada partido teórico retirou (e retira) dessa luta ideológica, implicou o isolamento provinciano de ambas as partes – e ele foi, penso eu, muito mais prejudicial ao marxismo acadêmico. A redescoberta do pensamento de Marx nos últimos anos em alguns círculos intelectuais e sua nova popularidade (novos periódicos, novas traduções, vários encontros científicos, reedições de textos, etc.) parece, todavia, refletir e repetir os mesmos defeitos. Seja como convicção partidária, seja como ideologia universitária, supõe-se, em geral, que os textos clássicos dos clássicos do marxismo (Marx, Engels, Lênin, Gramsci) já fornecem uma teoria auto-suficiente da sociedade.

Ora, uma revista como Crítica Marxista será tanto mais relevante --- em termos políticos e culturais – se ela conseguir apresentar justificações críveis para tomar o pensamento de Marx como uma “ciência social”. E isso em dois sentidos: (i) como um tipo de conhecimento sociológico, e não apenas como uma teoria normativa e/ou uma visão social de mundo; e (ii) como um gênero interpretativo, que consiste em conectar as ações e instituições políticas à sua dimensão social (combatendo, nesse sentido, o politicismo das análises da corrente dominante).

Essa postura implica assim uma compreensão diferente dos textos de Marx, mais interessada nas suas operações analíticas do que na monumental parafernália teórica sobre a qual elas se apóiam. São essas operações analíticas que podem ajudar a formular estratégias intelectuais para conectar microevidências à macroteoria e propor conceitos de médio alcance para colaborar na pesquisa social".
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