artigo recomendado

Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections

12 de abril de 2010

o financiamento das campanhas e o sistema político brasileiro

[Série Noite Americana,
D'aprés Hopper, 1999.
Vicente de Mello.
Pirelli/MASP]


O CALCANHAR DE AQUILES: o financiamento das campanhas e o sistema político brasileiro
Bruno P. W. Reis

(Publicado no suplemento mensal “Pensar Brasil” do jornal Estado de Minas, pp. 7-9. Belo Horizonte, MG, 10 abr. 2010)

Transcorridos mais de vinte anos desde a promulgação da Constituição de 1988, é difícil evitar um diagnóstico ambivalente sobre a operação do sistema político brasileiro. De um lado, observando os meios de comunicação de massa, o sistema parece em decomposição. Por outro lado, as estatísticas sociais melhoram de modo sem precedentes, e o sistema político mostra-se estável como nunca. De fato, os governos têm conseguido maiorias razoáveis, e as decisões (pelo menos as mais cruciais para se manter a máquina operando no curto prazo) têm podido ser tomadas. Temos sido, nas últimas décadas, poupados de impasses dramáticos, de crises políticas com desfechos institucionais imprevisíveis, e do recurso à força das armas para a arbitragem de conflitos políticos. Esta é uma conquista real, a que nem sempre damos a devida atenção.

Não se trata, portanto, de amesquinhar este feito, mas tampouco seria prudente negligenciar o mal-estar que de fato existe na opinião pública quanto ao modus operandi de nosso sistema político. Minha convicção pessoal é que a origem dessa ambivalência reside em nossa aguda incapacidade de coibir, de modo eficaz, abusos de poder econômico em nossas campanhas eleitorais. Pior: tendo-se transformado numa autêntica fábrica de escândalos, esta vulnerabilidade pode comprometer, a longo prazo, a própria estabilidade que o sistema, bem ou mal, tem logrado alcançar até aqui.

A César o que é de César: contrariamente à percepção da opinião pública, em nenhum outro lugar há convicção tão clara e ansiedade tão grande por uma reforma quanto na Câmara dos Deputados. Num país em que quase toda a agenda legislativa decorre de iniciativa do poder executivo, a mesa da Câmara tem pautado reiteradamente, por iniciativa própria, a reforma política no país. Mas por que os próprios deputados quereriam melhorar os controles sobre o financiamento de campanhas? Para responder, é preciso lembrar que eleições são competições pelas quais todo político tem de passar regularmente: a falta de controles sobre as contas de campanhas inflaciona fatalmente a disputa, aumentando a imprevisibilidade de seu resultado e a incerteza quanto ao valor de uma provisão “adequada” de recursos financeiros para a próxima candidatura. No limite, embute um viés a favor daqueles que descumprem a lei, e induz cada candidato a montar seu próprio “caixa 2”, se quiser preservar suas chances de vitória. O preço que se paga, contudo, é expor-se ao risco de se ver envolvido no próximo escândalo...

[leia a continuação do texto aqui]
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9 de abril de 2010

O DEM e a razão escravista

[Mario Cravo Neto.
Mona Lisa, 1989.
Pirelli/MASP]

Folha de S. Paulo, 7 de abril de 2010.
   
ELIO GASPARI

De Cazemiro@edu para Demóstenes.Torres@gov

ILUSTRE SENADOR Demóstenes Torres,
Quem lhe escreve é Cazemiro, um Nagô atrevido. Faço-o porque li que o senhor, um senador, doutor em leis, sustenta que a escravidão brasileira foi uma instituição africana. Referindo-se aos 4 milhões de negros trazidos para o Brasil, vosmicê disse o seguinte: "Lamentavelmente, não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos, mas chegaram..."

Vou lhe contar o meu caso. Eu cheguei ao Rio de Janeiro em julho de 1821 a bordo da escuna Emília, junto com outros 354 africanos. O barco era português e o capitão, também. Fingia levar fumo para o Congo, mas foi buscar negros na Nigéria e, na volta, acabou capturado pela Marinha inglesa. Desde 1815, um tratado assinado por Portugal e Grã Bretanha proibia o tráfico de escravos pela linha do Equador.

Quando a Emília atracou no Rio, fomos identificados pelas marcas dos ferros. A minha, no peito, parecia um arabesco. Viramos "africanos livres". Livres? Não, o negro confiscado a um traficante era privatizado e concedido a um senhor, a quem deveria servir por 14 anos. O Félix Africano, resgatado em 1835, penou 27 anos. Doutor Demóstenes, essa lei era brasileira.

A turma da Emília trabalhou na iluminação das ruas e no Passeio Público. Algumas mulheres tornaram-se criadas. A gente se virou, senador. Havia senhores que compravam negros mortos, trocavam nossas identidades e não nos liberavam. As marcas a ferro nos ajudaram.

Alguns de nós conseguiram juntar dinheiro. Como estávamos sob a supervisão dos juízes ingleses, em 1836 compramos lugar num barco. Dos 354 que chegaram, talvez 60 retornaram à África.

Como doutor em leis, vosmicê sabe que o Brasil se comprometeu a acabar com todo o tráfico em 1830. Entre 1831 e 1856 chegaram 760 mil negros, os confiscados devem ter sido 11 mil, ou 1,5%. Aquela propriedade da Marinha, na Marambaia, onde às vezes o presidente brasileiro descansa, era um viveiro de escravos contrabandeados. Não apenas a escravidão do Império era uma instituição brasileira, como assentava-se no ilícito, no contrabando.

Outro dia eu encontrei o Mahommah Baquaqua, mais conhecido nos Estados Unidos do que no Brasil. Ele foi capturado no Benin, lá por 1840, vendido a um padeiro em Pernambuco e revendido no Rio ao capitão do navio "Lembrança".

Em 1847, o barco fez uma viagem ao porto de Nova York e lá o Baquaqua fugiu. Teve a proteção dos abolicionistas, razoável cobertura jornalística, estudou e escreveu um livro contando sua história (inédito em português, imagine).

Fazia tempo que eu queria perguntar ao Baquaqua por que, em suas memórias, não contou que, de acordo com as leis brasileiras, o seu cativeiro era ilegal. Ele diz que esqueceu, mas que, se tivesse lembrado, não faria a menor diferença.

Senador Demóstenes, a escravidão foi brasileira, assim como é brasileira uma certa dificuldade para lidar com os negros livres. Eu que o diga.

Axé,
Cazemiro

P.S.: Há uma referência ao caso da Emília no artigo "A proibição do tráfico atlântico e a manutenção da escravidão", da professora Beatriz Gallotti Mamigonian, publicado recentemente na coletânea de ensaios "O Brasil Imperial". Que Xangô apresse a publicação de seu livro sobre os "africanos livres" no Brasil.
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6 de abril de 2010

Elites, políticos e instituições políticas: o Estado Novo no Brasil, de novo

[Delfim Martins.
Entre Trigo, 2002.
Pirelli/MASP]

Adriano Codato

published in Flavio M. Heinz (org.), Experiências nacionais, temas transversais: subsídios para uma história comparada da América Latina. São Leopoldo: Oikos, 2009.

Por que o Estado Novo “de novo”? Porque acredito que seja necessário e urgente voltar ao estudo desse subperíodo da história política nacional para compreender mais e melhor um ponto capital do processo de transformação capitalista do Brasil: a reestruturação do universo das elites – políticas, econômicas, ideológicas e sociais – na primeira metade do século XX. Dados os paralelismos óbvios e as afinidades ideológicas entre as elites intelectuais do Brasil e da Argentina entre os anos 1920 e 1940 (que envolvem os diagnósticos sobre a crise, as alternativas aventadas, as representações da nação, a imagem projetada de si, etc.), este texto deve servir também como um roteiro resumido de questões que podem ser postas à historia e à historiografia argentina a título de comparação. Essa volta ao Estado Novo sugerida aqui tem a ver com a necessidade de recuperar a dimensão histórica dos estudos políticos. O que se pretende, neste curto ensaio, é enumerar alguns princípios interpretativos geradores de novas hipóteses de pesquisa.

clique aqui para ler o capítulo
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1 de abril de 2010

Grupos dirigentes e estruturas de poder

[Apartment for two
Art Collectors
Dezeen]

Convidamos a comunidade de ciência política para submeter resumos ao nosso seminário temático na Anpocs:

ST13 - Grupos dirigentes e estruturas de poder
Coordenadores: Mario Grynszpan (FGV/RJ), Miguel Pablo Serna Forcheri (UDELAR)

O objetivo deste ST é promover um debate sobre o tema dos grupos dirigentes e das estruturas de poder a partir de trabalhos com diferentes grupos, como os políticos, culturais, econômicos, científicos, religiosos, profissionais. Serão contemplados enfoques diversos, dos centrados em mecanismos de recrutamento e seleção, em transformações morfológicas dos espaços sociais e em reconversões sociais, até os voltados para linguagens específicas de grupos e estruturas, estratégias e disputas discursivas, ações performativas, rituais, valores e visões de mundo, passando pelos que privilegiam questões como as das lógicas de engajamento social e de justificação, das redes e relações
pessoais, locais ou internacionais, das estratégias de reprodução e de consagração e estilos de vida. Serão
igualmente bem-vindas análises históricas e/ou que propiciem comparações nacionais e internacionais.

O resumo simples deverá ter no máximo 900 caracteres com espaço (passo 4 da submissão) e o resumo expandido no máximo 9.000 caracteres com espaço (passo 5 da submissão).

Confira abaixo os próximos prazos:
26/03 a 26/04 - Período para submissão de trabalhos (resumos) nos STs aprovados. Destinado a Pesquisadores em geral.Titulação Mínima: Mestrando(a).
01/04 a 04/05 - Prazo para envio de propostas de Mesas Redondas. Destinados a coordenadores-proponentes. Titulção mínima: Doutor(a)
20/04 a 17/05 - Período de Seleção e composição, pelas respectivas coordenações, da programação final de cada ST.
08/06 - Divulgação da programação dos STs e Mesas Redondas aprovadas.

www.anpocs.org.br/portal
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29 de março de 2010

Elites intelectuales, política dictatorial y organización del Estado en Brasil

[Carlos Goldgrub.
Pirelli/MASP]

Paper apresentado nas Jornadas Elites intelectuales y formación del Estado. Buenos Aires: Instituto de Desarrollo Económico y Social/ Universidad de SanAndrés/ Universidad Nacional de San Martín/ Instituto de Altos Estudios Sociales, abr. 2009. A aparecer como capítulo de livro na Argentina.

Elites intelectuales, política dictatorial y organización del Estado en Brasil: una sociología del campo burocrático

Adriano Codato

O objetivo deste capítulo é descrever, com base nas biografias coletivas de certo grupo de elite, a emergência de um tipo social especial no interior das classes dirigentes no Brasil durante as décadas de 1930 e 1940: os técnicos-políticos do autoritarismo varguista. Essas duas décadas, mais a década de 1950, correspondem, grosso modo, aos anos de construção institucional e modernização administrativa do Estado brasileiro, de aprofundamento da industrialização capitalista e de formação e ascensão de uma elite estatal especializada, com um contorno supostamente técnico, profissional e apolítico. Essa elite “intelectual” foi incumbida gerir aquele Estado e colaborar no processo de governo.

O problema específico que pretendo discutir aqui diz respeito à relação entre uma determinada elite – a elite paulista – e os novos parâmetros de investidura no campo burocrático. Meu interesse é enfatizar as regularidades presentes nas biografias desses operadores políticos que ocuparam as cadeiras do Departamento Administrativo do estado de São Paulo nos anos quarenta. Através do perfil desses agentes, sustento que é possível ter acesso, ao menos parcialmente, ao sentido e à direção da transformação do universo político brasileiro durante a Era Vargas.

O capítulo está dividido em três partes.

Na primeira, retomo a questão da elite política paulista do ponto exato em que Joseph Love a deixou. O propósito é verificar as propriedades políticas e sociais da classe dirigente estadual depois do terremoto que foi a Revolução de 1930, a derrota no Levante Constitucionalista e o advento da ditadura do Estado Novo. Na segunda parte discuto se a ascensão de uma pequena elite com uma configuração mais técnica ou “intelectual”, onde o saber jurídico é o seu capital principal, constitui uma espécie de república de advogados, em substituição à república oligárquica. Na última parte do ensaio proponho, com base nos dados apresentados, uma interpretação das três dimensões em que se pode verificar o câmbio social, profissional e político da elite estatal de São Paulo.

[clique aqui para baixar o texto completo]
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21 de março de 2010

futebol e preconceito de classe no Brasil

[Life. 1981]

Nostalgia da lama
JOSÉ GERALDO COUTO
Folha de S. Paulo, Mais!, 21 mar. 2010.

Talvez não seja correto dizer que o esporte é um espelho da sociedade, mas a maneira como os fatos do esporte e seu entorno são lidos pela mídia certamente diz muito sobre ambas (a sociedade e a própria mídia).

O "mea culpa" do golfista Tiger Woods diante das câmeras expôs muito mais que suas infidelidades conjugais. Colocou a nu uma cultura manifestamente puritana que transforma em espetáculo midiático a repressão de suas pulsões.

Como se sabe, muitos norte-americanos, talvez a maioria, acham que gostar de sexo é uma espécie de doença.

No Brasil, a cobertura e a repercussão crítica dos recentes escândalos envolvendo os astros do futebol Adriano e Vagner Love revelam, entre outras coisas, um indisfarçável preconceito de classe.

O que mais escandaliza a chamada crônica esportiva, com honrosas exceções, parece ser o ambiente em que os personagens foram "flagrados". A própria recorrência desse verbo é significativa, como se estar num baile funk ou simplesmente na favela fosse por si só uma atitude ilícita ou, no mínimo, suspeita.

O vínculo entre os termos favela e crime, martelado durante décadas pelos meios de comunicação, parece ter-se tornado indissolúvel.

Condena-se Adriano não tanto por trocar socos com a namorada, mas por fazê-lo no morro da Chatuba, e não numa cobertura na Barra da Tijuca ou num palacete em Milão.

O viés de classe nunca ficou tão evidente, aliás, como quando o jogador, um ano atrás, deixou de se reapresentar a seu clube, a Internazionale de Milão, e se refugiou durante três dias no bairro onde se criou, no Rio de Janeiro. A perplexidade foi geral, na imprensa e no mundo futebolístico.

A pergunta que se repetia era: como um sujeito abre mão de milhões de euros, do destaque num clube de ponta, de uma cidade sofisticada, para voltar à favela? O corolário, explícito ou subjacente, era mais ou menos o seguinte: "Quem nasceu na maloca nunca vai deixar de ser maloqueiro".

Uma espécie de "nostalgia da lama" arrastaria Adriano para baixo -ainda que, topograficamente, para cima.
O que escandaliza, no fundo, é a recusa em aderir aos valores, condutas e discursos tornados praticamente compulsórios para quem "vence" na nossa sociedade.

Não se perdoa Vagner Love por optar por um baile funk na Rocinha em vez de uma boate na zona sul do Rio. No primeiro, estão os "bandidos"; na segunda, a gente de bem.

Pouco importa que o tráfico que mata tanta gente no morro se alimente do consumo recreativo de muitos habitués das casas noturnas chiques.

Num país de "malandros com contrato, com gravata e capital", não escandaliza ninguém que Kaká saia publicamente em defesa dos líderes de sua argentária igreja, investigados em dois países por estelionato e lavagem de dinheiro.

Kaká, diz a crônica em uníssono, é um rapaz de boa cabeça, de boa família, de boa "estrutura". Mas Vagner Love aparecer num baile na Rocinha ladeado por traficantes armados (algo que talvez ocorresse com qualquer celebridade que visitasse o local) é intolerável.

Para reforçar a constatação de que, entre nós, o viés de classe é ainda mais forte do que o viés moralista, um caso exemplar é o de Ronaldo, "flagrado" (olha o verbo de novo) com três travestis num motel do Rio.

O que mais se ouviu, nos bastidores da imprensa, foi: "Como é que um sujeito com a grana que ele tem vai se meter com travecos de rua? Era só pegar o telefone e encomendar a perversão que quisesse, no sigilo do seu apartamento ou de um hotel de luxo".

Ou seja, dependendo do montante gasto, do cenário e dos figurinos, tudo é bonito e aceitável..

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17 de março de 2010

Classe social, elite política e elite de classe

[Life]

Classe social, elite política e elite de classe: por uma análise societalista da política [pdf]

Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, v. 1, n. 2 jul./dez. 2009.

Renato Perissinotto e Adriano Codato

Resumo: O artigo retoma um problema tradicional da teoria social, que é o da oposição entre os conceitos de “classe social” e “elite”, já discutido por autores como Aron, Wright Mills, Miliband, Bottomore, Giddens, Therborn, dentre outros. Não se pretende apresentar aqui nenhuma contribuição teórica original. Nosso objetivo, ao invés, é insistir nas vantagens analíticas e nas dificuldades práticas dessa junção conceitual, procurando mostrar como o conceito de “elite de classe” torna possível a operacionalização de uma análise classista da política.

Abstract: The article retakes a traditional question in social theory, the opposition between the concepts of “social class” and “elite”, already discussed by authors like Aron, Wright Mills, Bottomore, Giddens, Therborn, and others. It is not the article’s purpose to present any original theoretical contribution. Its main purpose is to insist on the analytical advantages and practical difficulties of this conceptual connection, and, at the same time, to make out a case for the concept of “class elite” as one that makes possible a class analysis of politics.

Introdução
O propósito deste artigo é voltar a discutir a possibilidade (e os impedimentos) de uma análise da dinâmica política das sociedades contemporâneas que enfatizasse a variável “classe social”.

Pretendemos considerar esse tema a partir da perspectiva teórica apresentada há um bom tempo por autores como Aron, Mills, Miliband, Bottomore, Giddens, Therborn. Esses cientistas sociais defenderam, cada um a sua maneira, que uma forma possível para operacionalizar o conceito de classe social seria por meio de sua articulação com o conceito de elite (econômica e/ou política).

Não aspiramos apresentar nenhuma proposição teórica inédita com relação a essa sugestão mais geral. Nosso objetivo é, acatando essa proposição, enfatizar a necessidade de uma discussão acerca dos procedimentos metodológicos que permitiriam operacionalizar a junção das duas noções de modo cientificamente rentável. Acreditamos que uma discussão dessa natureza possa contribuir para fazer avançar uma análise classista da política empiricamente orientada.

O artigo está dividido em seis partes. Na primeira, apresentamos algumas observações que justificam a retomada desse problema aparentemente superado pela Ciência Política contemporânea; em seguida, resumimos as principais críticas ao conceito de “elite política”, procurando mostrar que, apesar de aceitáveis em alguns pontos, tais críticas não comprometem sua validade heurística; na terceira parte discutimos as críticas que apontam para as dificuldades de pensar a classe social como ator político e, assim como no item anterior, defendemos que a validade relativa de algumas dessas críticas também não implica na rejeição peremptória desse conceito; na quarta parte, apresentamos nossos argumentos em defesa da junção dos dois conceitos e, por fim, listamos algumas sugestões para operacionalizar o uso conjunto do conceito de elite e de classe para efetuar uma análise classista da política.

[clique aqui para baixar o artigo completo em pdf ou html]

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O que entrevistas biográficas podem dizer de sociologicamente relevante?

[Metrô, 1998
Egberto Nogueira.
Pirelli/MASP]


Adriano Codato

Indagações sobre nossa pesquisa com a elites dirigentes dos comunistas no estado solicitam em geral que se diga o que há de curioso, o que há de interessante, de típico, de diferente, etc. no livro. Por outro lado, as entrevistas biográficas que compõem o nosso livro Velhos vermelhos (2008) pretendem ser uma fonte particularmente útil para a sociografia das lideranças dos comunistas no Brasil no pós-Guerra. Visto que o livro não é um livro de homenagem nem de celebração, o que uma documentação como essa pode dizer de sociologicamente relevante? Essa é a questão que os cientistas sociais devem se fazer.

Através da história social pessoal e do itinerário político e profissional dos dirigentes partidários (ou desses dirigentes partidários, mais especificamente) é possível, por exemplo, acessar
  1. os determinantes sociais da carreira de militante político numa organização de esquerda; 
  2. as condições de entrada no profissionalismo político num partido semiclandestino; 
  3. as regras de manutenção da direção de uma organização política importante (e politicamente improvável nesse contexto histórico); 
  4. a lógica de ocupação dos postos políticos; 
  5. os mecanismos de ajustamento das disposições sociais e individuais às regras do universo comunista; 
  6. os processos de investimento subjetivo na instituição e de investimento objetivo da instituição nos agentes; 
  7. o trabalho de manipulação simbólica da identidade social desses políticos da revolução social; 
  8. a construção da imagem de representante como um espelho fiel dos representados (1). 
Da mesma maneira, é possível, ou mais exatamente, é preciso deslocar o foco do indivíduo para o sistema de relações históricas no qual ele está inserido, a fim de tomar suas posições, decisões, explicações e avaliações como manifestação concreta de uma lógica social específica.

Elas, aliás, podem fornecer uma base importante para o estudo de atitudes, valores e crenças políticas do grupo e da própria época.

nota:
(1) Ver Bernard Pudal, Les dirigeants comunistes: du “fils du peuple” a “l’instituteur des masses”. Actes de la recherche em sciences sociales, Paris, n. 71-72, p. 46-70, mars 1988.


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16 de março de 2010

marx "jornalista"

[Mongolia, 1962
Howard Sochurek
Life]

trabalho a ser apresentado no 7o. encontro da ABCP (2010)

A análise prática da política prática: uma introdução ao estudo dos "textos jornalísticos" de Marx

Adriano Codato (UFPR)

Durante as décadas de 1840-50, Marx publicou uma série de escritos analisando a política institucional. Este paper destaca, da vasta produção do autor editada no New York Daily Tribune, as crônicas sobre a política inglesa entre 1852-1854. O objetivo geral do estudo é examinar o modo pelo qual o escritor pensou a atividade política quotidiana. Enfatizo nessa exegese dois assuntos usuais da tradição marxista: i) o problema da “autonomia da política”; e ii) o papel ativo (ou não) dos agentes sociais. Essa discussão serve de pano de fundo para o problema central tratado na investigação: como Marx lidou com a questão dos profissionais da política? Utilizamos como fonte desses comentários de texto duas compilações da edição crítica das Obras Políticas estabelecida por M. Rubel para as Éditions Gallimard: Chroniques Anglaises (1852-1854) e Lord Palmerston (1853).


[clique aqui para o texto integral]

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8 de março de 2010

política ditatorial: programa de curso na ufpr (2010/1)

[Sem título, 1970. 
Santiago, Chile. 
Geraldo Guimarães.
Pirelli/MASP]

Apesar do nome formal da disciplina [HC166: Políticas governamentais comparadas], o objetivo do curso é examinar a história política recente do Brasil, ressaltando, no contexto do regime ditatorial implantado após 1964, o processo de reestruturação do aparelho do Estado e a reconfiguração da cena política. Considerando as profundas mudanças operadas na estrutura econômica e nas relações de força entre as diferentes classes e grupos (políticos e ideológicos), o curso terá também como alvo a dinâmica social, enfatizando as sucessivas crises de uma dada estrutura de poder até seu desaparecimento negociado, bem como as dificuldades para a constituição de uma nova ordem política democrática de 1985 em diante.

O curso está organizado com base em aulas expositivas, seminários e comentários de textos. Esses seminários serão apresentados por dois alunos e serão destacados mais dois alunos como debatedores. Todos os demais devem enviar, ANTES DO SEMINÁRIO, questões e comentários sobre os textos indicados no programa por e-mail para a lista de discussão do curso (polcomparada@googlegroups.com). Todos os dois apresentadores e os dois debatedores deverão entregar após o seminário um relatório sobre a atividade. Ao final do curso o estudante deverá elaborar um ensaio sobre tema livre. Para a avaliação será levada em conta a participação efetiva em sala, os comentários e um trabalho final a respeito de um dos itens do programa, a ser discutido com o professor.

OBS.: A (imensa) bibliografia complementar será referida em aula, a cada sessão

HC 166: políticas governamentais comparadas  
[clique aqui para baixar o programa em pdf - versão final] 
UFPR Ed. D. Pedro II sala 600

QUINTAS-FEIRAS, 13h30min - 17h30min 
polcomparada@googlegroups.com 

Programa de curso e cronograma
Aula/data
Referências

Aula 1. 11 mar. Apresentação do curso: análises clássicas da política ditatorial no Brasil
  • ZAVERUCHA, Jorge e TEIXEIRA, Helder. A literatura sobre relações civis-militares no Brasil (1964-2002): uma síntese. BIB – Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, 55, 1º semestre de 2003, pp. 59-72.
  • STEPAN, Alfred. Os militares na política. Rio de Janeiro: Artenova, 1975.
  • QUARTIM DE MORAES, João. Alfred Stepan e o mito do poder moderador. In _____. Liberalismo e ditadura no Cone Sul. Campinas: UNICAMP, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2001. pp. 57-109.
referências gerais:
  1. MARTINS, Luciano. A dinâmica e o legado de 64. Folha de S. Paulo, 31 mar. 1994, p. 1-3.
  2. Entrevista de João Goulart à TV. Montevidéu, set. 1961 (vídeo).
  3. Cronologia dos eventos políticos: 1961-1985. Banco de Dados Folha. 40 anos do Golpe (1964-2004).
  4. A trajetória política de João Goulart. CPDOC/FGV.
I UNIDADE: O GOLPE, OS PRIMEIROS ANOS DE CONSTITUIÇÃO DO REGIME

Aula 2. 18 mar. O golpe de 1964 em perspectiva: o que já sabemos (e o que ainda falta saber)
  • FICO, Carlos. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Rev. Bras. Hist., São Paulo, v. 24, n. 47, pp. 29-60, 2004. (comentário 1)
  • GORENDER, Jacob. Era o golpe de 64 era inevitável? In TOLEDO, Caio Navarro de (org.). 1964: visões críticas do golpe. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997. pp. 109-116. (seminário 1)
  • MOTTA, Rodrigo Patto Sá. O anticomunismo militar. In MARTINS FILHO, João Roberto (org.). O golpe de 1964 e o regime militar: novas perspectivas. São Carlos: EDUFSCAR, 2006, pp. 9-26. (seminário 2)
  • QUARTIM DE MORAES, João. As causas políticas da vitória dos golpistas. Vermelho. 5 abr. 2004
  • SANTOS, Wanderley Guilherme dos. O cálculo do conflito: estabilidade e crise na política brasileira. Belo Horizonte, Rio de Janeiro: Ed. UFMG, Iuperj, 2003.
documentos históricos:
  1. João Goulart. Comício da Central do Brasil. 13 mar. 1964 (áudio).
  2. 30 anos depois. Editorial do jornal O Estado de S. Paulo, 31 mar. 1994.
  3. Basta! Editorial do jornal Correio da Manhã, 31 mar. 1964.
  4. Fora! Editorial do jornal Correio da Manhã, 1 abr. 1964.
Aula 3. 25 mar. O golpe de 1964 e o regime de 1968: "ou a Revolução continua ou a Revolução se desagrega"
documentos históricos:
  1. áudio da sessão do Conselho de Segurança Nacional que definiu os termos do AI-5 (13 dez. 1968)
  2. discurso de Márcio Moreira Alves (MDB-GB) na Câmara dos Deputados (3 set. 1968) (reconstituição histórica)
  3. Passeata dos Cem Mil. Rio de Janeiro (26 jun. 1968). 
  4. Passeata dos Cem Mil. Depoimento. Ferreira Gullar.
  5. Arnaldo Jabor. A Opinião Pública. 1967 (filme).
  6. Castello Branco. Ato de assinatura do AI-2 (27 out. 1965)
  7. Entrevista com Carlos Lacerda sobre a Frente Ampla (1967).
II UNIDADE: AS TRANSFORMAÇÕES DO APARELHO DO ESTADO

Aula 4. 1 abr. A natureza militar do regime brasileiro: autoritarismo burocrático ou ditadura militar?
  • MARTINS Filho, João Roberto. O palácio e a caserna: a dinâmica militar das crises políticas na ditadura (1964-1969). São Carlos (SP): Editora da UFSCar, 1995, caps. 3, 4 e 5, pp. 69-155. (comentário 3)
  • FICO, Carlos. “Prezada Censura”: cartas ao regime militar. Topoi, Rio de Janeiro, v. 5, pp. 251-286, 2002. (seminário 4)
  • CASTRO, Celso. Comemorando a 'revolução' de 1964: a memória histórica dos militares brasileiros. In FICO, Carlos et al. Ditadura e democracia na América Latina: balanço histórico e perspectivas. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2008, pp. 116-142. (seminário 5)
  • CASTRO, Celso. Interviewing the Brazilian military: reflections on a research experience. XI International Oral History Conference. Istanbul, Turkey: International Oral History Association University, 2000. v.1. pp.110-115.
  • OLIVEIRA, Eliézer Rizzo. Conflitos militares e decisões políticas sob a presidência do General Geisel (1974-1979). In ROUQUIÉ, Alain et al. (coords.). Os partidos militares no Brasil. Rio de Janeiro: Record, s.d., pp. 114-153. (seminário 6)
documentos históricos:
  1. Cálice. Chico Buarque e Gilberto Gil. 1973. Clip com imagens de época. Autor: Aramuni (vídeo).
  2. Nas páginas do Estadão, a luta contra a censura. Dezenas de páginas do jornal que foram vetadas pelos censores durante o regime militar, e nunca vieram a público.
  3. Posse do General Emílio Garrastazu Médici na presidência da República em 30 out. 1969. Arquivo Nacional (vídeo).
  4. Brasil: um país que vai pra frente. Vídeo de propaganda da ditadura militar (início dos anos 1970).
  5. Pra Frente Brasil. Os Incríveis. 1970 (letra e música).
  6. Eu te amo meu Brasil. Dom e Ravel. Os Incríveis. 1970 (letra e música).
  7. "Povo desenvolvido é povo limpo". Campanha da ditadura militar sobre limpeza pública com "Sugismundo". Criação de Ruy Perotti Barbosa. 1971-1972 (vídeo).
  8. "Hoje é um Novo Dia de um Novo Tempo". Terceiro filme da série de quatro que a TV Globo preparou em 1976 para a campanha de lançamento do jingle, de autoria de Nelson Motta, Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle.
    Aula 5. 8 abr. A natureza burocrática da ditadura brasileira: racionalidade autoritária ou politização da gestão?
    • MARTINS, Luciano. Estado capitalista e burocracia no Brasil pós-64. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985, Cap. II: O Estado em expansão, pp. 41-82. (seminário 7)
    • DINIZ, Eli e BOSCHI, Renato Raul. Burocracia, clientelismo e oligopólio: o Conselho Interministerial de Preços. In LIMA Jr., Olavo Brasil de; e ABRANCHES, Sérgio Henrique (coords.). As origens da crise: Estado autoritário e planejamento no Brasil. São Paulo: Vértice, 1987, pp. 57-101.
    • KLEIN, Lúcia. Inside the Corridors of Power. Industrial Policy Implementation in Brazil, 1974/1979. Ph.D. Dissertation (Political Science). Essex: University of Essex, 1985. 
    • SANTOS, Maria Helena de Castro. Fragmentação e informalismo na tomada de decisão: o caso da política de álcool combustível no Brasil autoritário pós-64. Dados, Rio de Janeiro, vol. 30, n. 1, pp. 73-94, 1987.
    documentos históricos:
    1. Entrevista de Delfim Netto à TV TUPI. 1968 (vídeo).
    2. Entrevista de Delfim Netto no CTA em São José dos Campos (SP). 1969 (vídeo).
    3. O Brasil por Delfim. TV Câmara. 2001. (vídeo 1) (vídeo 2) (vídeo 3) (vídeo 4).
    4. Entrevista do General Leônidas Pires Gonçalves. Min. do Exército do governo Sarney (1985-1990). (vídeo. TV Globo). 
    5. Cidadão Boilesen (Brasil/2009, 92 min.) - Documentário. Direção de Chaim Litewski. (vídeo/trailer).
      Aula 6. 15 abr. Estado, política e planejamento econômico: a razão tecnocrática em questão
      • LAFER, Celso. O sistema político brasileiro: estrutura e processo. São Paulo: Perspectiva, 1975. pp. 71-128. (seminário 8)
      • MONTEIRO, Jorge Vianna e CUNHA, Luiz Roberto Azevedo. A organização do planejamento econômico: o caso brasileiro. Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 3, n. 4, pp. 1045-1064, dez. 1973. 
      • CRUZ, Sebastião C. Velasco e. Interesses de classe e organização estatal: o caso do Consplan. Dados, Rio de Janeiro, v. 18, 1978. 
      • VIANNA, Maria Lúcia Teixeira Werneck. A administração do "milagre": o Conselho Monetário Nacional – 1964/1974. Petrópolis: Vozes, 1987.
      documentos históricos:
      1. CAMPOS, Roberto de Oliveira. A experiência brasileira de planejamento. In: SIMONSEN, Mário Henrique & CAMPOS, Roberto de Oliveira. A nova economia brasileira. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1974, pp. 47-78. (comentário 4)
      2. CASTRO, Celso; e D'ARAÚJO, Maria Celina (orgs.). Tempos modernos: João Paulo dos Reis Velloso, memórias do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2004. (texto parcialmente aqui)
        Aula 7. 22 abr. Estado, desenho institucional e processo decisório: a geografia dos interesses sociais
        • CARDOSO, Fernando Henrique. Autoritarismo e democratização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975, Caps. V, VI e VII. (comentário 5)
        • MARTINS, Carlos Estevam. Capitalismo de Estado e modelo político no Brasil. Rio de Janeiro, Graal, 1977, caps. 5, 6, 7 e 8. pp. 247-359. (seminário 9)
        • ANDRADE Régis Stephan de Castro e; JACCOUD, Luciana (orgs.). Estrutura e organização do Poder Executivo. Brasília: Centro de Documentação, Informação e Difusão Graciliano Ramos, ENAP, 1993, 2 vols.
        • CODATO, Adriano Nervo. Sistema estatal e política econômica no Brasil pós-64. São Paulo: Hucitec/ANPOCS/Ed. da UFPR, 1997.
        Aula 8. 29 abr. A política econômica e o papel das Forças Armada: definição, supervisão ou delegação?
        III UNIDADE: CRISE POLÍTICA E TRANSIÇÃO DE REGIME
         

        Aula 9. 6 maio Estratégias de descompressão política "lenta, segura e gradual": a interação entre o projeto militar, o processo político e as lutas sociais
        Aula 10. 13 maio A lógica militar da "democratização": a reconversão liberal da ditadura militar e as formas de manipulação do consenso
        • MARTINS, Luciano. A “liberalização” do regime autoritário no Brasil. In O’DONNELL, Guillermo; SCHMITTER, Philippe; e WHITEHEAD, Lawrence (orgs.). Transições do regime autoritário: América Latina. São Paulo: Vértice, 1988. pp. 108-139. (comentário 8)
        • SKIDMORE, Thomas. A lenta via brasileira para a democratização: 1974-1985. In STEPAN, Alfred (org.). Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, pp. 27-81. (seminário 15)
        • FLEISCHER, David. Manipulações casuísticas do sistema eleitoral durante o período militar, ou como usualmente o feitiço se voltava contra o feiticeiro. In Soares Gláucio; D’Araujo Maria Celina (orgs.). 21 anos de regime militar: balanços e perspectivas. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getulio Vargas, 1994, pp. 154-197. (seminário 16)
        • CODATO, Adriano. Uma história política da transição brasileira: da ditadura militar à democracia. Rev. Sociol. Polit., Curitiba, v. 25, pp. 83-106, 2005.
        documentos históricos:
        1. "Tanto Mar". Chico Buarque explica a história das duas versões da música (1978).
        2. Luiz Carlos Prestes. Roda Viva. Entrevista à TV Cultura. 1986 (parte 1).
        3. General Newton Cruz. cena do filme Céu Aberto de João Batista de Andrade (1985). 
        4. Entrevista General Newton Cruz sobre atentado do RioCentro (TV Globo. 2010).
        IV UNIDADE: A CONSTRUÇÃO INSTITUCIONAL DA DEMOCRACIA RESTRITA
         

        Aula 11. 20 maio Da ditadura militar à democracia liberal: a natureza e a direção da mudança política no Brasil
        Aula 12. 27 maio Sobre ditabrandas e democraduras: questões de nomenclatura, de ideologia e de teoria
        Aula 13. 10 jun. discussão dos temas dos papers finais [clique aqui para ver o modelo]

        Aula 14. 17 jun. entrega dos papers

        Para um melhor andamento das aulas expositivas, os alunos deverão ter lido, até o final da primeira unidade, um dos dois trabalhos básicos referidos abaixo; para a compreensão da história política recente:
        • ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil (1964/1984). Petrópolis: Vozes, 1984.
        • SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castello a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
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        7 de março de 2010

        política e região: programa de curso na ufpr (2010/1)

        [Elemento Terra, 1989.
        Terra Roxa, SP.
        Delfim Martins.
        Pirelli/MASP]

        Abaixo o programa provisório do curso "Política e Região" às terças-feiras a noite na UFPR. O curso será dividido com Camila Tribess

        O objetivo do curso é, além do de superar o padrão escolar tradicional das disciplinas convencionais, contruir uma plataforma empírica e teórica para o estudo da dinâmica política em contextos subnacionais. Para tanto uma série diferente de atividades estão programadas.

        Pode-se dizer que o curso se organiza mais como um laboratório de aulas práticas do que uma disciplina regular. É importante notar que todos os estudantes deverão fazer o curso de SPSS oferecido durante a disciplina e que este é um pré-requisito para seguir neste curso.

        Na primeira parte, mais "teórica", haverá, além das aulas, seminários sobre as referências indicadas sobre política regional. Os seminários serão apresentados por dois alunos e serão destacados mais dois alunos como debatedores. Todos os demais devem enviar ANTES DO SEMINÁRIO questões e comentários sobre os textos por e-mail para a lista de discussão do curso [politica-e-regiao@googlegroups.com]. Todos os dois apresentadores e os dois debatedores deverão entregar após o seminário um relatório sobre a atividade.

        HC160 – POLÍTICA E REGIÃO [clique aqui para baixar o programa em pdf]
        UFPR Ed. D. Pedro II sala 606
        TERÇAS, 18h30min – 22h20min
        politica-e-regiao@googlegroups.com 

        Programa e cronograma 
        Aula/data
        Conteúdo

        APRESENTAÇÃO DO CURSO
        Aula 1.    9 março: A nova agenda de pesquisas do federalismo brasileiro
        SEMINÁRIOS/AULAS

        Aula 2.    16 março: Teses e teorias sobre o federalismo
        Aula 3.    23 março: Relações políticas entre executivos estaduais e bancadas federais
        Aula 4.    30 março: Processos decisórios e políticas de governo no contexto do federalismo
        Aula 5.    5, 6 e 7 abril
        • Curso SPSS das 14h às 18h (Bruno Bolognesi; UFSCAR)
        Aula 6.    13 abril: As elites políticas estaduais
        • DANTAS NETO, P. F. O carlismo para além de ACM: estratégias adaptativas de uma elite estadual. In SOUZA, Celina e DANTAS NETO, Paulo Fábio (orgs.). Governo, elites políticas e políticas públicas nos estados brasileiros. Rio de Janeiro: Revan, 2006. (comentário 4)
        • PERISSINOTO, Renato; COSTA, Luiz Domingos  e  TRIBESS, Camila. Origem social dos parlamentares paranaenses (1995-2006): alguns achados e algumas questões de pesquisa.  Sociologias [online]. 2009, n.22, pp. 280-313. (seminário 8)
        • ABU-EL-HAJ, J. Classe, poder e administração pública no Ceará. In: Parente, J. e Arruda, J. M. (orgs.). A Era Jereissati: modernidade e mito. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2002. 
        • CODATO, Adriano e GOUVÊA, Julio Cesar. Os atributos da elite político-administrativa: uma visão descritiva dos ocupantes dos empregos políticos no Paraná. In Perissinotto, Renato Monseff et al. (orgs.). Quem governa? Um estudo das elites políticas do Paraná. Curitiba: Editora UFPR, 2007, p. 49-67.
        Aula 7.    20 abril:
        Aula 8.    27 abril: A dinâmica do universo das elites políticas no contexto do federalismo
        ATIVIDADE PRÁTICA

        Aula 9.    4 maio
        • Apresentação dos bancos de dados sobre elites políticas regionais do NUSP (Renato Perissinotto). Análise dos dados das elites políticas do estado do Paraná (bancos das elites legislativas, administrativas e partidárias dos governos Lerner e Requião – do NUSP), com elaboração do problema empírico e teórico para o paper.
        Aula 10.    11 maio
        • Seleção de casos e divisão em grupos; frequências
        Aula 11.    18 maio
        • Comparações
        Aula 12.    25 maio
        • Crosstabs
        Aula 13.    1 junho
        • Gráficos
        A PRÁTICA DA PESQUISA

        Aula 14.    8 junho
        • Entrega de um resumo do que será o paper final, com a definição do problema empírico e das variáveis que serão utilizadas.
        Aula 15.    15 junho
        • Professores disponíveis para consultas e dúvidas quanto ao tema do paper (dados e/ou teorias).
        Aula 16.    22 junho
        • Entrega do paper final [clique aqui para ver o modelo].
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        6 de março de 2010

        análise sobre o novo centro administrativo de BH

        [Apartamentos Populares, 1952.
        German Lorca.
        Pirelli/MASP]

        FERNANDO SERAPIÃO
        Folha de S. Paulo, 4 mar. 2010

        Na gravura "O quarto do arquiteto", de Lina Bo Bardi, a arquiteta do Masp criou uma cena com armário entreaberto, mesa com cadeira e uma prateleira. Os personagens são maquetes de edifícios em diferentes estilos. Uma possível interpretação irônica da obra é que os arquitetos possuem soluções guardadas nas gavetas e as utilizam conforme a necessidade. Lembro-me disso diante da nova obra de Oscar Niemeyer.
        A Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves é composta por cinco edifícios, encomendados pelo governador Aécio Neves para reunir no extremo norte de Belo Horizonte mais de 40 órgãos estaduais. São três motivos alegados: induzir o desenvolvimento da região, diminuir despesas (principalmente aluguéis) e facilitar a gestão com a convivência entre funcionários. À primeira vista, principalmente se observado por dentro, tudo é uma maravilha: os móveis são novos, os equipamentos, sofisticados, e os espaços, confortáveis -como nas melhores empresas privadas.

        Contudo, do ponto de vista arquitetônico não há novidade. O prédio mais imponente abriga o gabinete do governador. É um edifício envidraçado de quatro andares que fica pendurado por estrutura externa. Com mais graça, tal solução foi utilizada por Niemeyer há 40 anos para uma editora na Itália.

        Louvando o novo prédio, o arquiteto e o calculista afirmam que ele é "o maior edifício suspenso do mundo". E daí? Eles se vangloriam como se o ineditismo técnico fosse de suma importância para o futuro da humanidade.

        Gastando energia em retórica desgastada, Niemeyer deixa de lado questões atuais como a eficiência energética -o complexo tem a maior área de vidros da América Latina. Fachadas envidraçadas voltadas para as faces ensolaradas, por exemplo, é um erro primário que exigirá mais energia do ar-condicionado. Os dois edifícios maiores são destinados às secretarias. Gêmeos, eles são gigantescos e curvos -e também foram retirados das "gavetas" do arquiteto. Eles têm proporção semelhante de um hotel em Petrópolis, desenhado em 1950.

        Por fim, além de um auditório pouco gracioso, o conjunto é completo por um centro de convivência, com restaurantes e lojas, que pretende substituir a rua -o espaço primordial de convivência urbana.

        E é justamente aí que está o maior problema. Se a arquitetura é requentada, a ideia de pensar em centro administrativo longínquo é tão nova quanto o bonde. Urbanisticamente, é um desastre. O governo deveria permanecer na região central, renovando edifícios subutilizados e incrementando a vida urbana. Ao deixar os edifícios da praça da Liberdade para atividades culturais, serão empobrecidos o uso e a diversidade local. Se na era da revolução das telecomunicações é estranho falar da necessidade do contato físico, para ajudar a desenvolver a periferia seria mais útil financiar transporte coletivo de massa. Claro, daria mais trabalho e menor visibilidade.

        Infelizmente, há 50 anos os políticos acreditam na mística de perpetuar-se com um postal de Niemeyer a fim de repetir a trajetória daquele que encomendou Pampulha e Brasília (raríssimos são os que apostam na capacidade arquitetônica de sua própria geração). Aécio Neves cometeu o mesmo erro: mirando o futuro, ele acertou o passado.

        FERNANDO SERAPIÃO é arquiteto e editor executivo da revista "Projeto Design".
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