8 de outubro de 2008

Nova classe média: uma síntese do capitalismo



Instituto Humanitas Unisinos
entrevista
com Patricia Trópia, da PUC-Campinas/Cemarx-Unicamp

IHU On-Line – Podemos identificar realmente uma nova classe média? O que poderia ser caracterizado como essa nova classe social?

Patrícia Trópia – O termo nova classe média refere-se a um conjunto bastante heterogêneo de trabalhadores cuja origem é o final do século XIX – o que nos leva, de partida, a afirmar que a classe média não é “nova”. O termo foi utilizado pelo sociólogo norte-americano Charles Wright Mills [1] em referência à camada intermediária entre operariado e burguesia, camada que então se expande, a partir da fase monopolista do capitalismo. Wright Mills chamou este conjunto de trabalhadores de “colarinhos brancos”. Trata-se basicamente dos trabalhadores assalariados não-manuais. O adjetivo novo tem a função de evidenciar que, se inicialmente a classe média era minoritária quantitativamente e composta basicamente por profissionais liberais, a partir do século XX os trabalhadores de classe média superam numericamente a classe operária e passam a desempenhar funções de natureza burocrática, administrativa, financeira, no setor de serviços e de comunicação, no setor público e privado. Então se a nova classe média constitui um segmento social secular, haveria uma novíssima classe média, ou seja, a classe média teria se modificado ao longo ou no final do século XX?

A classe média tem se modificado muito em função do desenvolvimento e das crises do capitalismo. A expansão das estruturas sociais de bem-estar social, do setor de serviços e o crescimento das hierarquias nas empresas públicas e privadas, por exemplo, levaram ao aumento numérico da classe média ao longo do século XX. Por sua vez, como evidenciam os pesquisadores contemporâneos, desde a década de 1990, com a implantação de reformas neoliberais e do processo de reestruturação produtiva nas empresas, algumas ocupações de classe média têm encolhido, embora outras tenham aumentado (como por exemplo, o setor informacional).

Como podemos então caracterizar a classe média? Esta não é uma questão simples. Ela exige um inicial esclarecimento. A maioria dos estudos sobre a classe média parte da teoria weberiana. Para Weber [2], classe social significa a posição dos indivíduos em uma escala de estratificação social, cuja medida é dada pelo montante de renda. Desta forma, aqueles indivíduos que ocupam uma posição intermediária (nem a mais baixa, nem a mais alta) são genericamente denominados classe média. A tradicional classificação em sub-classes A, B, C, D e E tem como fundamento esta visão estratificada. Outros estudiosos do tema sofisticaram um pouco esta classificação inicial de Weber, ao acrescentar ao critério econômico a posição nas relações de mercado (a capacidade de consumo) e nas relações de status e poder.

Contudo, o problema deste esquema de classificação é que as classes são vistas como grupos sobrepostos de indivíduos e não como expressão de relações de conflito e exploração (Marx [3]). De forma bastante sintética, creio que o melhor seria falar em classes médias, ou seja em frações de um conjunto de trabalhadores – os trabalhadores não-manuais –, que têm suas características marcadas pela divisão do trabalho, mais precisamente pela rejeição à igualização socioeconômica entre trabalho manual e não manual. Nesta perspectiva, os trabalhadores de classe média concebem a divisão do trabalho como um dado natural e não como a resultante histórica de um processo inerente à exploração capitalista do trabalho.

[para ler a entrevista completa, clique aqui]

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