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Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections

7 de setembro de 2014

“A juventude despolitizada de 2013 parece ter encontrado sua redentora” (entrevista)

[Abraham Palatnik
Objeto cinético]

Entrevista especial com Adriano Codato
IHU On-Line - Como se redesenha o cenário eleitoral e o quadro partidário com a candidatura de Marina e seu crescimento nas pesquisas?
Adriano Codato - Com a confirmação dos resultados das pesquisas de intenção de voto nas eleições de outubro, pode surgir, e talvez se consolidar, uma terceira força efetiva entre PSDB e PT. Esses dois partidos foram os protagonistas da segunda fase do processo de democratização brasileira e desde 1994 polarizaram, em torno de seus governos, a cena política nacional. Essa terceira via, que é uma costela do PT, diga-se de passagem, só conseguirá, porém, se firmar como força política (e não simplesmente eleitoral) se conseguir eleger também uma bancada razoável na Câmara dos Deputados (bem acima dos atuais 5%), governadores nos estados, etc.
IHU On-Line - É possível vislumbrar novas alianças por conta da candidatura de Marina?
Adriano Codato - Com a passagem do candidato do PSDB para o terceiro lugar, a direita política, os setores conservadores das camadas médias tradicionais, os rentistas, os donos das empresas de comunicação, seus jornais e seus portais, terão de cavar seu espaço junto à candidata postiça do PSB. Como por imposição do nosso sistema político não se governa sem uma grande coalizão de apoio no Congresso, será inevitável aceitar, caso Marina vença, o desembarque maciço da tropa do PMDB, a aproximação e, tão logo seja decente, o casamento com o PSDB e, quem sabe o futuro, até mesmo a ressurreição do DEMBruno Bolognesi, professor de Ciência Política da UNILA, especulou que sua bancada deve admitir, no início, PSBPPS, PSDPROS, mais umas 20 cadeiras dos partidos nanicos de direita. Isso, contudo, não chegaria nem perto dos 50% do Congresso. Daí o apelo às forças políticas “tradicionais” ser não só inevitável, mas esperável.
IHU On-Line – Como avalia a euforia em torno de Marina? Há em sua candidatura mais uma imagem simbólica do que uma proposta política?
Adriano Codato - A despeito das paixões de seus torcedores, Marina Silva não reinventará a política nacional. Pelo contrário, ela reforça os regulamentos e as práticas existentes. Utiliza todos os recursos tradicionais da tradicional política brasileira: migração entre partidos, personalismo, alianças multipartidárias (logo, “não ideológicas”), apoios heterodoxos. O interessante é que ela faz tudo isso dizendo que não o faz e ampla parcela dos eleitores desiludidos com a velha política acredita — ou se obriga a acreditar — nela, uma vez que ou não tolera o PT, ou não se reconhece no candidato janota do PSDBMarina Silva é uma terceira via eleitoral entre esses dois grandes partidos. Se o seu eventual governo será uma coisa diferente dos governos de ambos, isso já é um mistério.
IHU On-Line - As posturas ideológicas dos três candidatos aparecem em seus projetos políticos ou nos partidos políticos correspondentes? O senhor consegue perceber quais são os projetos políticos dos três candidatos e quais são os principais problemas e equívocos em relação à prática política e à proposta política teórica?
Adriano Codato - Sim, as propostas são claras e os respectivos projetos de país também. Isso necessariamente não está nos programas de governo, uma vez que esses têm de ser genéricos o suficiente para não comprometer apoios nem se comprometer com metas rígidas. Mas as declarações à imprensa, as posições assumidas nos debates e os programas do HGPE são claros o suficiente para desenhar o perfil das três forças.
IHU On-Line - Em que aspectos é possível perceber diferenças e semelhanças nos projetos políticos dos três candidatos?
Adriano Codato - Em vários temas e principalmente em temas de economia: Marina e Aécio estão alinhados com a radicalização da santíssima trindade do capital financeiro — metas de inflação, câmbio flutuante e o uso ainda mais pronunciado da taxa de juros para o controle da inflação —, e Dilma, com a agenda neodesenvolvimentista do PT. A “independência do Banco Central” em relação ao sistema político e aos seus eleitores também é um divisor nesse campo.
IHU On-Line - Como interpreta o apelo pela “mudança” nas três candidaturas?
Adriano Codato - Aécio, ao menos no começo de sua campanha, tentou dizer que a mudança simbolizada por ele era uma espécie de volta para trás, para a agenda neoliberal dos anos 1990 do governo Cardoso. Para Dilma, mudança é “fazer ainda mais pelo social”, esses slogans publicitários, e Marina parece encarnar a mudança como a redenção de todos os males políticos nacionais.
IHU On-Line - Nos últimos anos, aponta-se no Brasil uma melhora em relação à renda, por conta do aumento do salário mínimo e de programas como o Bolsa Família, maior facilidade em relação ao acesso a crédito, políticas direcionadas ao ingresso nas universidades, apesar de muitos especialistas em educação questionarem tanto a qualidade do ensino nas universidades quanto o processo que deu origem à abertura de inúmeras universidades particulares no país. Mas, em contrapartida, em junho de 2013 emergiram as manifestações de rua, sinalizando uma insatisfação com o transporte, com a saúde, com os serviços públicos em geral. Considerando essas questões, as políticas sociais do governo petista ainda terão um peso relevante nas eleições e serão suficientes para garantir a reeleição de Dilma? Qual será o impacto dessas políticas sociais neste ano?
Adriano Codato - Análises sobre a demografia social do voto no PT e das intenções de voto em Dilma em 2014 enfatizam que quem segue fiel ao governo são os muito pobres, aqueles que ganham menos de dois salários mínimos, mulheres pretas e pardas, com baixa escolaridade, de regiões menos desenvolvidas economicamente — aqueles que, enfim, precisam dos programas sociais. Esse contingente, em torno de 30% do eleitorado, deverá permanecer fiel ao governismo no primeiro turno. A mudança no apoio ao governo do PT se dá, conforme as sondagens, naquele grupo de pessoas que ganha entre 2 e 5 salários mínimos e que ascendeu socialmente nos últimos 10 anos. Essas pessoas trombaram contra a exasperante ineficiência dos serviços públicos e privados brasileiros e debitaram na conta do governo federal a miséria da saúde, do transporte, da segurança, etc. O PT, por sua vez, ou o governo em geral, perdeu uma excelente oportunidade para propor uma reforma não liberal do Estado brasileiro.
IHU On-Line - Em junho de 2013 e ainda neste ano, foram feitas várias análises em torno das manifestações de rua, especialmente por conta da insatisfação política oriunda dos protestos e por causa da recusa dos manifestantes às bandeiras políticas. Nesse contexto, é possível vislumbrar qual será o impacto tanto da insatisfação quanto da renegação aos partidos nas eleições deste ano? É possível estimar se essas manifestações terão algum impacto na disputa eleitoral? Em que sentido?
Adriano Codato - Penso que a repercussão das manifestações de junho de 2013 já está sendo sentida pelo sistema político e pelos seus protagonistas. Marina Silva, uma política de carreira, conseguiu encarnar a figura da política pura em meio aos impuros e apresentar-se como a promessa de redenção dos males nacionais repetindo um chavão sem conteúdo: reforma política. Imagina-se que através dela seja possível repudiar a política real (apoios “fisiológicos”, amplas maiorias, sistemas de corrupção), os partidos tradicionais, “tudo isso que aí está”, enfim. A juventude despolitizada de 2013 parece ter encontrado sua redentora.
IHU On-Line - Como o senhor vê as discussões políticas que parecem dividir os partidos políticos brasileiros entre progressistas e conservadores? No que se refere à proposta política, é possível fazer essas distinções genéricas? Ainda nesse sentido, como enquadra os três partidos que estão disputando as eleições?
Adriano Codato - Vejo essa divisão como correspondendo à realidade. Quer se tome as propostas dos candidatos, quer se tome os programas dos partidos, quer se tome os comportamentos dos parlamentares nas votações no Congresso, quer se tome, enfim, as políticas dos governos do PSDB e do PT, a diferença de projetos é muito clara. O PSB não pode, evidentemente, mostrar a que veio, mas o apelo conservador da candidatura Marina e sua defesa de valores religiosos torna o jogo muito mais claro nessa altura do campeonato.
IHU On-Line - O que falta no debate político brasileiro?
Adriano Codato - Faltam a meu ver duas coisas fundamentais para uma sociedade e uma política democráticas: tolerância diante das posições adversárias e capacidade de defender a sua própria posição utilizando argumentos no lugar de insultos. O “ambiente virtual” (redes sociais, blogs, etc.) converteu-se no canal de expressão de todo o autoritarismo, em sentido amplo, da sociedade brasileira.
IHU On-Line - Que temas urgentes estão sendo ignorados pelos candidatos à presidência?
Adriano Codato - Um colega, o cientista político Emerson Cervi, da UFPR, leu e analisou os programas de governos dos três candidatos principais registrados no TSE e constatou a ausência quase completa de qualquer discussão ou projeto para a universidade brasileira. Segundo ele, “Dilma Rousseff cita o termo ensino superior duas vezes e universidade sete vezes”, fala muito das suas realizações, mas não diz nada do que será feito num eventual segundo mandato. Aécio Neves “cita o termo ensino superior cinco vezes e universidade dez vezes. Propõe articulação com iniciativa privada para ampliar número de vagas e sugere de maneira muito abstrata sistemas de avaliação e medição de qualidade no sistema”. E Marina Silva “cita o termo três vezes. Propõe ampliação da política de cotas, propõe medidas para permanência na universidade e promete garantir o acesso democrático ao ensino superior”. Tudo isso é muito vago e confirma a perda de protagonismo da Universidade brasileira. Se “a educação”, “a sociedade do conhecimento” são tão centrais, como se gosta de afirmar, esse ponto mereceria um desenvolvimento bem maior por parte dos partidos.
(Por Patricia Fachin)
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Marina e a política de verdade

[Abraham Palatnik
Objeto cinético] 

Publicado na Gazeta do Povo em 31/08/2014

Luiz Domingos Costa e
Adriano Codato

Marina Silva saiu do banco de reservas para retornar ao campo eleitoral, agora como protagonista. Embora tenha sido uma substituição contingente, fruto de uma tragédia, sua entrada altera o comportamento do time e também dos adversários. É uma mudança tática, mas que pode alterar todo o resultado do jogo.

A despeito das paixões de seus torcedores, Marina não reinventou a política nacional. Pelo contrário, ela reforça o regulamento existente. Utiliza todos os recursos da tradicional política brasileira: migração entre partidos, personalismo, alianças multipartidárias, apoios heterodoxos e jogo de cena.

À medida que reafirma os slogans de Eduardo Campos, faz de tudo para minimizar as contradições existentes entre os apoios que recebe e a sua trajetória de ambientalista e de ex-esquerdista. Flerta com os aliados de seu antecessor nos estados, mas não assume as alianças já firmadas, pois podem ser mais que constrangedoras. Por outro lado, não as repele frontalmente. Em um contexto com tantos atores relevantes, querer estar só é um privilégio permitido aos que não pretendem chegar longe. A política nacional se faz também por meio da política estadual. Aparentemente, a candidata da terceira via apresenta pouca disposição para atuar realisticamente nos dois níveis, incorporando os estados e seus candidatos impuros em sua estratégia eleitoral.

Embora muitos pensem o contrário, Marina Silva não desafia as estruturas políticas existentes. Sua entrada na eleição, ao contrário, reforça o que temos de pior e o que temos de melhor para a produção de governos democráticos: liberdade de organização político-partidária e liberdade para alianças indesejáveis, personalismo virtuoso e descompromisso partidário, plataforma econômica clara e mistério sobre como implementá-la sem apoio no Congresso. Apesar da sensação de triunfo daqueles que romantizam uma verdadeira política sem uma política de verdade, ela pode rejeitar tudo isso, mas será à custa de sua vitória.

A invenção de Marina para a política brasileira está em outro lugar: na vida partidária. Partidos são organizações livres interessadas em assumir o poder para implementar ideias e programas de ação. Também são instrumentos de poder de pequenos grupos, sem a representatividade idealizada pelos defensores de partidos políticos dos manuais acadêmicos. No Brasil, temos partidos com força na sociedade e agremiações ligadas apenas ao fundo público. O fato é que os partidos que nos governaram desde Fernando Henrique Cardoso são partidos com enraizamento social. Essa é, aliás, a força da oposição entre PT e PSDB: ambos são produto da mobilização de partes da sociedade para definir e cumprir um programa político claro.

Se Marina se eleger, deverá concluir a criação da Rede a partir da Presidência da República. Teríamos, então, um partido criado por um presidente durante o seu mandato. Exceto pelas experiências do PSD e do PTB, criados no fim do Estado Novo, nunca vimos a fusão entre um presidente, um partido e o governo de modo tão forte. Nada mal para quem promete uma nova política. Silvio Berlusconi criou o partido Forza Itália em 1993 e fez desse o partido governante durante anos. Pela dependência do seu criador, o partido naufragou tão logo terminou o ciclo de Berlusconi.

Marina é uma política tradicional que abusa da política tradicional se escondendo por trás da antiga mania nacional: repudiar a política real por meio da redenção total que só se realiza por missionários excepcionais.

Luiz Domingos Costa, doutorando em Ciência Política, é professor de Ciência Política do Grupo Uninter.

Adriano Codato é professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná e coordenador do Observatório de Elites Políticas e Sociais do Brasil.

1 de setembro de 2014

anpocs 2014: elites e espaços de poder (programação)

[Brasilia Palace Hotel.
Pintura Mural Athos Bulcão.
Foto: Edgard Cesar]



GT13 Elites e espaços de poder
Coordenadores: Ernesto Seidl (UFSC); Adriano Codato (UFPR)

1º Sessão
Dia 28/10/2014, terça-feira, das 8h30 às 12h00, sala 15 - União.
Titulo da Sessão: Parlamentares Brasileiros em Perspectiva
Coordenador da Sessão: Adriano Codato (UFPR)
Debatedor da Sessão: André Luiz Marenco dos Santos (UFRGS)


Aumentando o campo para jogar: circulação política entre Senadores brasileiros durante a República Velha.
Lucas Massimo (UFPR); Luiz Domingos Costa (UFPR)
“Elites” políticas e intelectuais no início da República (1891-1895)
Rodrigo da Rosa Bordignon (UFRGS)
O processo decisório na Assembleia Nacional Constituinte de 1987-88: a escolha do sistema de governo
Rodrigo Martins (USP)
A elite da elite: formação acadêmica, trajetória política, experiência profissional e a participação dos senadores brasileiros na CCJ e na CAE
Paulo Magalhães Araújo (UFES)
Ars obligatoria¸ ars inveniendi: imposições e subversões na afirmação política e intelectual de mulheres parlamentares.
Eliana Tavares Reis (UFMA)

2º Sessão
Dia 29/10/2014, quarta-feira, das 8h30 às 12h30, sala 15 - União.
Titulo da Sessão: Cultura, poder e saberes profissionais
Coordenador da Sessão: Ernesto Seidl (UFSC)
Debatedor da Sessão: Mario Grynszpan (UFF)

A elite dos bacharéis
Marco Aurélio Vannucchi Leme de Mattos (CPDOC/FGV-RJ)
Bases da notoriedade, trabalho de eternização e confissões ambivalentes: o caso de Afonso Arinos.
Igor Gastal Grill (UFMA)
Dinâmicas organizacionais, relações pessoais e carreiras profissionais em organizações partidárias
Wilson José Ferreira Oliveira (UFS)
As Ciências Sociais na Academia Brasileira de Ciências: uma elite minoritária
Ana Paula Hey (USP)
Conjugando o Empresário, o Estado e o Mecenas: a construção de lideranças e articulação das elites no campo da filantropia empresarial
Patricia Kunrath Silva (UFRGS)

Painel
Titulo da Sessão: Elites no Plural
Coordenador da Sessão: Ernesto Seidl (UFSC)
Debatedor da Sessão: Adriano Codato (UFPR)

Visões do Estado: Percepções dos dirigentes públicos brasileiros nos últimos vinte anos
Barbara Goulart (UFRJ)
Do funcionalismo público à Câmara dos Deputados: uma análise sócio-política dos parlamentares no período de 1946 a 1964
Paula Matoski Butture (UFPR) ; Ana Paula Lopes Ferreira (UFPR) ; Mariana Werner de Lemos (UFPR)
As grandes construtoras e a política econômica nos Governos Lula e Dilma.
Mariana Rocha Sabença (UNICAMP)
Condicionantes sociais, literatura e mediação: um estudo sobre a trajetória social de Jomar Moraes
Franklin Lopes Silva (IFMA)
Elites burocráticas no Brasil do Século XXl: novos elementos para a análise
Bruno Moretti (IESB)
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