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4 de setembro de 2009

Kind of Blue



[Jazz musician
Miles Davis.
Life]


Leia. E depois ouça no post abaixo.
A história da gravação histórica aqui.



Ivan Lessa

Colunista da BBC Brasil

No dia 17 de agosto eu estava em Cascais, perto de Lisboa. No jornal local, que eu lia devagar como um analfabeto brasileiro, não perdia as efemérides do dia. Férias, falta de pulmão e velhice é assim mesmo. A gente se interessa pelas coisas mais bobas do mundo.

Era-me importante, saber que, nesta ou naquela outra data, um rei, um Manuel ou um Joaquim, fizera ou desfizera isso ou aquilo. Lá estavam também aniversários de atores, escritores, gente de sociedade. Muitos brasileiros também.

No dia 17 de agosto, à beira de uma bela piscina, tendo na cabeça um boné vermelho dos Criadores de Sacis, do interior de São Paulo, fui lembrado de que, naquela data, há precisamente 50 anos, fora lançado no mercado americano pelo selo Columbia o LP Kind of Blue, de Miles Davis, conforme se costuma dizer. Na verdade, Miles estava lá – ora se! – mas com ele seu sexteto, que deve e precisa ser lembrado um por um de seus membros. Bill Evans no piano (revezando em algumas faixas com Winton Kelly), Jimmy Cobb na bateria, Paul Chambers no contrabaixo, John Coltrane e Julian “Cannonball” Adderley no saxofone. Teo Macero e Irving Townsend na produção.

Tudo isso é muito importante saber. Se o distinto está mais para o rock do que para o jazz, problema seu, mas é bom saber. Como é bom saber das origens do rock no rhythm'n'blues e na música caipira lá deles. Toda música boa tem seus marcos divisores. Para uns, Mozart é pelo menos três deles.

Jazz tem, dizem os entendidos, o Kind of Blue como um de seus marcos divisores. Sendo que, além do mais, é tido, por gente boa que impõe respeito, como um dos álbuns mais importantes de todos os tempos em qualquer gênero.

Na verdade, eu não sou tão amante do jazz assim quanto dizem. Quem “dizem”? O Carlinhos, o Zeca Passos e a Glória Castanheira. Eu prefiro gente cantando. Feito a Chris Connor, que subiu agorinha mesmo, dia 29 de agosto, aos 81 anos de idade.

Vozes. Eu ouço, eu amo ouvir, vozes. Eu quero as letras. Decorar e cantarolar mentalmente. Ah, vocês não sabem a extensão de meu repertório! Que conjunto vocal faço comigo mesmo – mais avançado mesmo que os Modernaires, os Hi-Lo's e os Four Freshmen. Em compensação, sou incapaz de captar no ouvido interior o, digamos, Take Five, do Dave Brubeck, partindo para um lugar-comum do jazz.

Minhas vozes vão de samba, bolero, fox, não perdoa até mesmo chanson francesa. Mas sou forçado a admitir: a reputação do disco do sexteto me fez comprá-lo em 1989 quando do 30º aniversário de sua gravação. Que, por falar nisso, foi registrada em duas “sessões” nos estúdios da Columbia Records, no rua 30, Nova York, em 2 de Março e, depois, em 22 de abril. Mas eu já li algures (alguém aí leu “Algures”? Bons sonetos) que foi numa igreja desconsagrada.

Vai ver foi os dois. A tal da igreja virou estúdio, e o estúdio virou igreja dedicada ao que também é chamado um dos dez discos mais importantes da música. Popular, erudita, clássica, sagrada, qualquer uma. Por falar em sagrada, muitos garantem que além das óbvias - e poderiam deixar de ser óbvias? - influências de Debussy e Eric Satie, pode-se ouvir, prestando muita atenção, um certo je ne sais quoi dos cantos gregorianos em algumas faixas.

Eu resumo dizendo o seguinte. Logo que cheguei a Londres, botei no aparelho de som o CD. Li o erudito livrinho que vinha anexado na edição dos 30 anos que eu tinha. Observações moduladíssimas de Bill Evans, inclusive.

Descobri na amiga Anete (é Net, uai!) uma porção de artigos eruditos. Quase chego a entender o que seja aquilo que me garantem ser a alma da gravação: o famoso modal, ou modalismo, para nós, agora com a reforma ortográfica. Modalismo: um sistema musical que utiliza modos. Isto é, escalas, fórmulas, ritmos. Uma volta à melodia, disse Miles em entrevista. E comprei pela Amazon o mais recente livro que comemora a cinquentenária gravação: The Blue Moment: Miles Davis' Kind of Blue and the Remaking of Modern Music, de autoria de Richard Williams, que é danado de bom e conheço de outros Carnavais, editado pela Faber, tem 309 páginas e custa quase 30 dólares.

Quincy Jones que sabe das coisas, para não dizer que sabe de tudo, em matéria de qualquer tipo de música, disse que o Kind of Blue é feito suco de laranja: ele tem que tomar, no caso ouvir, todo dia. E vamos de ecletismo: o rapper Q-Tip endossou a importância do álbum quando disse que o disco é feito a Bíblia, há que se ter um exemplar em todas as casas. Roberto Carlos disse que… Não, não sei o que o Rei disse, não sei se o Rei sequer o ouviu. Esperemos que sim.

Sei que vou ler o que aparecer a respeito na minha frente. Vou ler e ouvir. Ouvir e ler. Música boa é assim. Tudo que é bom, que vale a pena, é assim. Dá trabalho. Não é só cantar o Hino Nacional, feito a Vanusa (vide YouTube), ou dizer “Interessa?”, como o Ivon Curi naquela velha chanchada da Atlântida.
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