artigo recomendado

Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections

31 de maio de 2009

uma introdução ao conceito de "classe social"

[Saída de Fábrica, Brás, c. 1950.
Peter Scheier. Pirelli/MASP]


este texto é a introdução de um capítulo escrito para explicar, didaticamente, o conceito de "classe social". para comprar e ler o texto completo no livro diferenças, igualdades, da editora Berlendis & Vertecchia, clique aqui

Adriano Codato e Fernando Leite

“Classe social” é provavelmente a ideia mais famosa da Sociologia; ou, ao menos, a ideia com a qual o público leigo mais identifica a Sociologia como disciplina acadêmica ou área de conhecimento. Talvez nenhuma outra palavra do repertório sociológico apareça tanto, seja usada com tanta desenvoltura, em tantos sentidos ou tenha sido objeto de tanta crítica e revisão nos últimos cinquenta anos.

Geralmente, a ideia de classe social vem associada, pela publicidade, a “classes de consumo”: classe A, B, C, D, E. O princípio classificatório desse abecedário é o que a renda das pessoas pode comprar: o tipo do celular, o tamanho da televisão, a marca e o modelo do automóvel. Outras vezes, definições supostamente mais sofisticadas referem-se à condição econômica com nomes mais técnicos: “classe baixa”, “classe média” e “classe alta”. Essa escala métrica pretende, todavia, designar apenas se os indivíduos são ricos, pobres ou remediados. Além disso, essa sociografia espontânea também percebe e registra, com nomes comuns, uma série de divisões sociais: elite e massa, o povo e os poderosos, patrões e empregados, e não é incomum ouvir as expressões “os mais necessitados” (ou como diria a Igreja, “os mais humildes”), “a alta sociedade”, “o empresariado” etc.

Nenhum desses usos banais da noção de classe está essencialmente errado. Na medida em que essas palavras todas designam distâncias sociais no espaço social , elas captam, à sua maneira, uma parte do conteúdo sociológico do termo: os indivíduos são diferentes e ocupam lugares diferentes na sociedade.

No entanto, parece que quanto mais a expressão “classe” é utilizada, mais ela perde o sentido crítico que lhe é inerente. Ou, posto de outra forma: a disseminação da ideia de classe vem geralmente acompanhada da perda de seu significado crucial, pois quem fala em classe social, tem de falar, necessariamente, em dominação/subordinação entre as classes.

O emprego científico desse nome deve enfatizar que a expressão “classe social” não sugere somente a existência de categorias de indivíduos diferentes entre si (isto é, a existência de diferenças sociais entre as pessoas); mas classes de indivíduos que são subordinadas umas às outras. Assim, o pertencimento a uma determinada classe nos indica, além de variedades sociais, desigualdades sociais. Como se intui, há sempre maiores ou menores “oportunidades” na vida de se possuir poder, riqueza, cultura, prestígio ou status.

Neste capítulo, apresentamos algumas dimensões do conceito de classe social que vão além do seu uso ordinário. Esse esforço corresponde à tentativa de dar uma definição mais rigorosa ao termo – uma definição propriamente sociológica.

Nas Ciências Sociais há, entretanto, uma razoável confusão de nomes. Ainda se fala indistintamente em ‘classes’, ‘estratos’, ‘camadas’, ‘castas’, ‘categorias’ e ‘ordens’ sociais. Uma dificuldade adicional é que ora esses termos designam coisas diferentes, ora... a mesma coisa!

Um mapa dessa bibliografia e das divergências e convergências entre autores e escolas levaria essa conversa longe demais. Nosso propósito específico é expor o que algumas teorias sociais têm a dizer, não sobre as classes sociais reais (isto é, a história, o perfil e a prática de grupos sociais determinados), mas sobre o conceito de classe. Trata-se de dar à palavra “classe” uma base teórica.

Esse fundamento teórico faz o conceito científico de classe ser mais completo e mais complexo do que aquelas expressões referidas anteriormente. Essa maior complexidade permite que nós utilizemos a concepção de classe social para explicar vários fenômenos sociais, trabalho esse que noções vagas tais como “classe” A, B, C etc. não permitem.

Essa tarefa – dar ao conceito de classe um conteúdo científico – requer que se ordene a percepção espontânea sobre o mundo social, que costuma dividi-lo entre os “ricos”, os “pobres” e a “classe média”, em função de quatro princípios sociológicos.

O primeiro princípio é o seguinte: as diferentes posições sociais (isto é, os diferentes pontos que as pessoas ocupam no espaço social) têm de ser pensadas em conjunto, já que uma posição não existe sem a outra. Ou melhor: uma posição social só existe em relação à outra. Só faz sentido falar em “classe alta” se houver, por referência, uma “classe baixa”. E vice-versa. Daí a ideia de relações sociais ou mais exatamente, sistema de relações sociais. A sociedade é isso: um sistema de relações e não uma soma de posições individuais.

Segundo: essas posições/relações sociais formam uma estrutura – a estrutura social. Ela é constituída por indivíduos, grupos, classes (dizemos: agentes sociais), mas é independente da “vontade” deles. Em linguagem sociológica sustentamos que a estrutura social é objetiva, ou seja, é um fato exterior aos indivíduos, independente deles, mas que influencia a forma como pensam e agem.

Terceiro: a estrutura social comporta uma série de assimetrias e hierarquias. Por isso utilizamos o termo técnico “estratificação social” para designar o fenômeno social que decorre justamente da presença das classes/grupos sociais discrepantes no mundo social. São essas assimetrias e hierarquias que fazem o espaço social ser um espaço de lutas.

E, quarto princípio, os indivíduos e/ou os grupos sociais (os agentes sociais) que partilham a mesma posição social devem ter algo em comum. É esse algo em comum (certas “propriedades”, certas qualidades) que constitui uma “classe” no sentido lógico do termo.

Toda a questão é saber, então, o que é esse “algo”. A mesma quantidade de poder, de riqueza, de prestígio ou de status? Os mesmos valores, a mesma situação no mercado, a mesma renda? O mesmo tipo de propriedade, a mesma ocupação ou o mesmo estilo de vida?

O debate entre os sociólogos (exceto entre aqueles que não “acreditam” na existência de classes sociais) gira exatamente em torno do melhor critério para diferenciar os agentes sociais e do melhor método para medir essa diferença .

Nessa altura já podemos afirmar três coisas:

I. A “classe social” (o conceito) é um artifício teórico, é um recorte que o sociólogo faz no mundo social de modo a simplificar e exprimir a realidade: “classe” é, em primeiro lugar, um modo de classificação.

II. Ainda que as classes sejam abstrações que o cientista social constrói, elas descrevem fatos reais. Não se trata de simples fantasias que não têm relação alguma com o mundo social. De fato, as pessoas não são só diferentes, mas ocupam lugares – “posições” – diferentes na sociedade: “classe” é assim um modo de classificação específico que percebe e descreve distâncias reais no espaço social.

III. As distâncias entre as classes representam não só as posições diferentes dos indivíduos no espaço social, mas indicam a existência de hierarquias entre essas posições. Isso porque, como se intui, alguns lugares são socialmente mais valorizados do que outros. Ou seja, alguns “grupos” ocupam uma região do mundo social mais vantajosa. E isso tem efeitos de todos os tipos: material (são mais “ricos”), simbólico (têm mais prestígio), político (reúnem mais poder, mandam mais) etc.

“Classe” (o conceito) é, portanto, um modo de classificação que percebe distâncias sociais reais e é capaz de traduzi-las em relações de dominação/subordinação.

Para sistematizar, nós podemos dizer que o primeiro sentido do conceito de classe é puramente teórico, ou seja, é um recurso intelectual que ordena e distribui os indivíduos em categorias mais ou menos fixas. O segundo sentido é descritivo, já que pretende representar de maneira sistemática e abrangente a estrutura social. E o terceiro é interpretativo, uma vez que permite não só ler e exprimir a realidade social, mas entender sua dinâmica – isto é, o comportamento dos agentes sociais.
[...]
continua

para comprar e ler o texto completo no livro diferenças, igualdades, da editora Berlendis & Vertecchia, clique aqui
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26 de maio de 2009

pérolas de sabedoria social


[Arkansas Furniture, 1951.
Silk & Stackpole. Life]


“A classe social tende a aflorar na teoria pós-moderna como um item da tríade classe, raça e gênero, uma fórmula que rapidamente assumiu para a esquerda o tipo de autoridade que a Santíssima Trindade costuma exercer para a direita. A lógica desse encadeamento triplo é por certo evidente: o racismo é ruim, o sexismo idem, e por isso também o é algo chamado ‘classismo’. ‘Classismo’, nessa analogia, parece representar o pecado de estereotipar as pessoas com base em sua classe social, que, levado ao pé da letra, significaria que é politicamente incorreto definir Donald Trump como sendo um capitalista”.

Terry Eagleton, As ilusões do pós-modernismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 61-62.






ver mais:
uma apresentaçao ao autor [aqui]
uma biografia [aqui]
entrevista ao The Observer, 16 December 2007 [aqui]
The Limits of Liberalism, uma aula em Yale [aqui]
a conclusão de seu livro Ideologia:

uma introdução (UNESP: Editora Boitempo, 1997) [aqui]
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19 de maio de 2009

a sociologia histórico-comparada de Reinhard Bendix


[Brandenburg Gate from East Berlin side.
East Berlin, Germany, 1954.
Thomas D. Mcavoy. Life]


*por Pedro Leonardo Medeiros (NUSP/UFPR)

A sociologia histórico-comparada de Reinhard Bendix é representada principalmente por três obras: Work and Authority in Industry, publicado em 1956; Nation-Building and Citizenship, de 1964; e Kings or People, este de 1978. Conforme têm salientado mais de um analista, esses três trabalhos podem ser analisados como um continuum, em que “a ênfase na singularidade das experiências históricas se acentua em detrimento de uma preocupação com as generalizações” (REIS, 1996, p. 18).

Em Work and Authority in Industry (comprar aqui), o objeto de estudo são os discursos de legitimação da disciplina fabril, na Rússia, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos. O objetivo de Bendix, nessa obra, é o de encarar as ideologias empresarias da industrialização como “respostas variáveis ao problema funcional da necessidade de disciplinar o trabalho” ou, de maneira mais ampla, “ao problema mais básico da legitimação da autoridade pública ou privada, da burocratização do trabalho e, no limite, do equacionamento do problema da liberdade” (ibidem, p. 18).

Construção nacional e cidadania (Nation-Building and Citizenship comprar), a segunda obra dessa “trilogia” de sociologia histórico-comparada, parte do mesmo princípio de Work and Authority: estabelecer uma questão universal (ou, pelo menos, uma questão que se impõe a diversas sociedades) para, daí, descobrir as respostas particulares que os diferentes agrupamentos humanos lhe deram (sempre em função, é claro, de suas especificidades culturais, de sua “tradição”). Confronta-se, para isso, pares de casos contrastantes: Europa ocidental e Rússia; Japão e Alemanha; além da Índia, como exemplo da singularidade e do peso das condições históricas na especificação de um processo geral ou universal.

O objetivo maior, nesse trabalho, é o de “apresentar uma alternativa mais satisfatória às versões francamente evolucionistas do processo de modernização”, salientando que “toda e qualquer sociedade combina de forma singular o tradicional e o moderno”, e forçando, assim, o conceito de “desenvolvimento” ou “modernização” a ser construído como um tipo ideal (ibidem, p. 20).

Em Kings or People (comprar aqui), os objetivos da comparação tornam-se ainda mais individualizadores: trata-se, seguindo o modelo weberiano nas análises sobre a singularidade ocidental, de saber “por que no Ocidente teve lugar originalmente a substituição da autoridade dinástica pela soberania popular” (ibidem, p. 21). A grande questão geral, como nos trabalhos anteriores, continua sendo a da legitimação da ordem social – neste caso, da autoridade pública –, enfocando a singularidade das sociedades ocidentais em relação às demais, no que diz respeito à resposta que deram àquela grande questão.

*Pedro Leonardo Medeiros é mestrando em Ciência Política na UFPR.

baixe e leia o paper completo aqui
livros de Reinhard Bendix na Amazon
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17 de maio de 2009

partidos e mandatos na América Latina: uma comparação


[Foreign delegates ordering a meal.
William Gropper, 1946]


Camila Tribess (NUSP/UFPR)

Analisando as Constituições Políticas de países da América do Sul e da América Central, incluindo o México, bem como suas leis eleitorais, regulamentos internos dos parlamentos e demais leis sobre partidos e eleições, foram coletados dados de 29 países da América Latina.

Foram excluídas desta pesquisa as ilhas que não são consideradas independentes politicamente ou que, sendo independentes, adotam ainda as Constituições e leis dos países que lhes colonizaram. Assim, se buscou encontrar leis que falem, diretamente ou não, da possibilidade do parlamentar perder seu mandato em caso de mudar de partido ou de infidelidade às diretrizes partidárias.

Todos os países analisados são, por suas Constituições Políticas, democracias pluripartidárias (com a exceção de Cuba, com partido único), com eleições regulares para os mandatos legislativos e executivos. Quase todos são bicamerais, e suas Constituições inspiradas no modelo dos Estados Unidos da América. Os deputados e senadores destes países não podem ser responsabilizados criminalmente por seus votos ou decisões políticas como parlamentares e têm foro privilegiado, não estão sujeitos à prisão sem que sejam julgados pelo próprio parlamento.

Na seqüência apresento as leis coletadas nas Constituições, nos regulamentos nas leis eleitorais de cada país, divididas em alguns grupos que podem facilitar uma visão mais ampla das leis nos países da América Latina.

para ler o trabalho, clique aqui

Este texto é uma parte de uma pesquisa realizada para Inter Parliamentary Union (IPU) e o trabalho foi financiado por este instituto.
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15 de maio de 2009

Cienciometria


[An image of Saturn captured
by the Cassini spacecraft.
NASA. July 08, 2004. Life]

O Campeonato Mundial da Ciência
RENATO DAGNINO

Folha de S. Paulo, 14 maio 2009

O NÚMERO de artigos de brasileiros que aparecem nas 10 mil melhores revistas que constituem a base considerada para o campeonato cresceu 56% no último ano.

O país agora ocupa a 13ª colocação no ranking. Sem querer estragar prazeres dos que festejam a notícia, vale recomendar moderação: o número de revistas brasileiras que integram a base passou de 63, em 2007, para 103, em 2008 (conforme o artigo "Inusitado aumento da produção científica", de Rogerio Meneghini, publicado neste espaço na última terça).

Os mais otimistas dizem que, com 30 mil artigos (2,12% do total mundial), estamos próximos da Coreia, um posto acima, com 35 mil. Um país que, por usar sua ciência para fazer tecnologia e desenvolver a economia, estaria nos mostrando o caminho que vai dos artigos ao bem-estar social.

Mas há setores da comunidade de pesquisa que questionam o significado disso que é visto como o Campeonato Mundial da Ciência, no qual os artigos publicados nas revistas em que se joga o jogo são os gols marcados pelos cientistas-jogadores. Quase todas essas revistas, aliás, em países desenvolvidos.

Os questionamentos podem ser entendidos como associados a outros quatro campeonatos.

O primeiro, interno ao "campo" da ciência, sugere que o Campeonato da Ciência Publicada é a "segunda divisão". A primeira seria o Campeonato da Ciência Citada. Nele, o gol não é o número de artigos publicados, mas o número de vezes que ele é citado.

Dizem os críticos: os artigos de brasileiros são citados bem abaixo da média mundial, e estimativas mostram que a superioridade coreana nesse campeonato é de quase 3 para 1.

O segundo questionamento avança para o Campeonato da Tecnologia. Os gols, aqui, são as patentes depositadas nos EUA. Os artilheiros, diferentemente do que ocorre lá, não são as empresas, mas as universidades. Apesar do seu paradoxal esforço, a superioridade coreana é de 30 para 1.

Os críticos dizem que o resultado desse campeonato não depende daquele da ciência e que o crescimento das publicações é simples consequência do aumento do número de mestres e doutores. Como as empresas não precisam fazer pesquisa, não os empregam e não patenteiam -e esse campeonato também está perdido.

O terceiro envolve o Campeonato da Produção, entendido pela comunidade de pesquisa como o penúltimo elo da cadeia linear de inovação que ela usa como modelo para elaborar a política de ciência e tecnologia. Nele, o gol é a participação dos produtos "high-tech" nas exportações do país.
Aqui, a superioridade do país tomado como modelo (Coreia) é de 3 para 1.

Como no Campeonato da Tecnologia, os críticos estão mais interessados no jogo que ocorre no "campo" da empresa, da produção. Eles têm mostrado aos que elaboram a política de C&T, e que só jogam no "campo" da ciência, que seus campeonatos são de outros esportes. E que o sucesso no Campeonato da Ciência Publicada pode ser bom para quem dele participa, mas não para o que eles alegam ser os "interesses do país".

O quarto questionamento tem a ver com o Campeonato da Tecnologia Social. Nele, o "campo" não é o da empresa, mas o dos movimentos sociais. Aqui, fazer gol é aplicar diretamente nosso potencial de C&T para o desenvolvimento social sem esperar que ele ocorra por meio das empresas. É lutar para sair da "lanterna" nesse torneio.

Os críticos sabem que isso exige muita criatividade, originalidade e conhecimento. Não há receita de como desenvolver, com os empreendimentos solidários, soluções adequadas do ponto de vista social, técnico e ambiental. Isso que é imprescindível na nossa situação e nunca foi feito antes.
Nesse caso, o poder dos críticos é muito menor. Mas eles estão conseguindo mostrar a seus pares que querem um país mais justo e sustentável que seu campeonato é o mais importante. E que centenas de trabalhos científicos já mostraram que vencê-lo não é consequência linear de bons resultados nos campeonatos anteriores.

O fato de não sabermos produzir conhecimento científico e tecnológico compatível com valores morais (e ambientais) e interesses econômicos alternativos nem conceber mecanismos institucionais para fomentá-lo exige uma reorientação da política de C&T. É injustificável que nosso plano de C&T aloque menos de 2% de seus recursos para o seu quarto eixo, "C&T para o Desenvolvimento Social".

Depende da capacidade de mobilização e convencimento desses jogadores-críticos que estão entrando em campo para transformar o Campeonato da Ciência Publicada no Campeonato da Tecnologia Social, nossa chance de construir um país melhor.

RENATO DAGNINO, 59, mestre em economia do desenvolvimento e doutor em ciências humanas, é professor titular de política científica e tecnológica da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
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14 de maio de 2009

o estudo da ideologia (como conceito) e das ideologias (como práticas)


[Artemide Dioscuri Tavolo.

http://www.traumambiente.de]

Abaixo uma mensagem do colega Fernando Leite, do NUSP e do Mestrado em Sociologia da UFPR, a propósito dos problemas implicados na definição e no estudo da ideologia (como conceito) e das ideologias (como práticas).

Adriano Codato.


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O grande problema de tratar dessa questão (definição e explicação do que é "ideologia" e das principais doutrinas da era moderna) começa com o fato de os próprios termos serem parte do fenômeno político.

É como se nós, cientistas (ou pretendentes a tal), utilizássemos as palavras e os significados de nosso objeto de estudo para estudá-lo.

A especificidade da política (do campo político), a meu ver, agrava o problema: "ideologia", talvez a palavra mais espinhosa da política e da ciência social, atrai todos os interesses; é objeto de todo o interesse político e um dos principais alvos da ação política. O mesmo ocorre com os tipos específicos de doutrinas; na verdade o problema se agrava nesse caso, porque aí somam-se os projetos políticos que trazem consigo a marca de circunstâncias históricas muito singulares.

Inúmeros problemas derivam disso. Podemos tentar olhar para a realidade concreta e extrair dali (da observação das práticas e dos fenômenos políticos em geral) uma definição.

Isso já não é fácil pela própria complexidade histórica do problema, mas o "político" complica especialmente a empreitada, porque as aparências enganam. É preciso muito conhecimento e método p/ não cometer deslizes. Podemos tentar definir "características gerais", mas isso é muito arriscado, porque corre-se o risco de produzir um constructo teórico tão geral e abstrato que não descreve nenhum fato real.

Não adianta dizer "liberalismo possui X, Y e Z características", porque houve inúmeros liberalismos na história: e quem disse que eles eram liberalismos? Corremos o sério risco de hipostasiar conceitos ou de reificar as mitologias de nosso objeto de estudo.

Uma definição adequada precisaria considerar essa especificidade do objeto de estudo, e deve ser histórica, não anistórica ou estática, traduzindo para os conceitos teóricos e para o texto científico a lógica que opera na realidade.

Fernando Leite.
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12 de maio de 2009

does public opinion drive electoral reform? Pippa Norris

[Foscarini Supernova Sospensione.
http://www.traumambiente.de]


Why do electoral systems change?

A new Harvard research paper, to be discussed in mid-April in the Lisbon ECPR workshops, provides fresh insights into this issue.

Cultural accounts, based on many case studies, suggest that political legitimacy plays a critical role. During the early 1990s, for example, Italian electoral reform was widely regarded as a reaction to the Tangentopoli scandal, while public anger about government corruption was also seen as one of the main triggers for Japanese reforms. Where the public sees the regime as legitimate, this provides little pressure for change to the status quo. Where citizens are dissatisfied, especially when performance is evaluated against democratic aspirations, this heightens demands for institutional reform on the policy agenda.

Although many scholars have often suggested this connection, systematic cross-national evidence establishing this relationship has not been examined. Moreover this assumption is challenged by rational choice accounts which regard electoral reform as an elite-level issue, where the public plays only a marginal role. These accounts have emphasized the paramount importance of the calculation of partisan interests in a two-stage game, where parties have preferences for alternative institutions based on expectations about the payoffs these rules will have for them in future.

leia o texto de Pippa Norris
Understanding the policy cycle model of electoral reform

aqui

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ainda a relação entre idéias, instituições e práticas


[Cristiano Mascaro, São Paulo, 1990.
Coleção Pirelli/MASP de Fotografia]


No trabalho que escrevi para o congresso da Anpuh deste ano procurei tematizar empiricamente a relação causal entre idéias/ideologias, instituições estatais e práticas políticas. Tomei como o caso a ser considerado o Estado Novo e seus aparelhos de administração das relações interelites. Para tanto, propus um diálogo crítico com meu colega e amigo Tiago Losso que havia escrito uma tese de doutorado exatamente sobre este assunto. Nos e-mails que trocamos a respeito, solicitei que ele me dissesse quais tinham sido suas referências teóricas para sustentar a relação de causalidade que ele postula. Abaixo o e-mail que ele me enviou e que publico com sua autorização.

Vou tentar responder a sua questão, mas antes um aviso.
Eu não acho que exista um movimento linear entre idéias - práticas - instituições políticas, no sentido que a determinação e/ou causalidade possa ser perfeitamente indicada na sequencia acima citada. De qualquer forma, concordo que minha tese de doutorado {clique aqui para baixar o trabalho: Tiago Bahia Losso, Estado Novo: discurso, instituições e práticas administrativas. Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Universidade Estadual de Campinas. Campinas (SP), 2006} possa indicar isso e, inclusive, se for o caso, devo ser criticado (espero que o faças).

Bom, meu "referencial teórico". No caso específico da minha tese, acho que John Pocock é uma grande inspiração, principalmente o livro que cito, "Linguagens do pensamento político". Aponto o autor como uma referência no sentido que ele está preocupado em compreender as "limitações" impostas pelo linguajar político, tanto no que toca à formulação de idéias quanto (e talvez seja já uma leitura minha) de práticas políticas (incluindo-se aqui instituições). Assim, defendo que cada época produz idéias e práticas políticas "limitadas" pelos conceitos disponíves no momento, acessado pelos atores e autores, quando interessados em resolver algum problema. No caso do nosso tema de estudo, uma ideologia autoritária (ou de elogio ao poder do Estado) foi o manancial conceitual onde, acredito eu, foram procuradas soluções para lidar com as vicissitudes políticas do período. Ou seja, a saída encontrada pelos dirigentes do Estado Novo para lidar (por exemplo) com o "engessamento" das correias de transmissão de prerrogativas foi de caráter autoritário ou, de forma mais clara, de um caráter que mesclava elogio ao conhecimento técnico e alheiamento às disputas políticas. Jonh Pocock, portanto, pode ser tomado como uma referência da minha tese. Eu ainda deveria citar Quentin Skinner como meu inspirador, quando o autor está preocupado em identificar a maneira como nossas palavras podem "fortalecer ou enfraquecer a construção do nosso mundo social" (Visões da Política, Introdução). Acho que estas duas citações indicam bem o que, acredito eu, inspirou teoricamente minhas impressões.

Agora, um voo alem...
Brincando, o mundo está entre o chão e o céu. Além de uma platitude, a idéia pode ser uma "resolução" das questões entre idéias e práticas, espírito e realização, imaginação e realidade, ideal e material. Para efeito de nosso ofício, tanto nossas idéias quanto nossa realidade são elementos de um mesmo contexto, que é seu produto e as significa, sendo que suas relações baseiam-se em constantes interferências, num fluxo onde o que se pensa "delimita" o que podemos fazer e, no mesmo movimento, o que podemos (ou queremos) fazer delimtia nosso pensar. Assim, acho que se estamos interessados no significado da ação social, e nossa tarefa é hermeneutica. Aqui, claro, minha inspiração é Clifford Geertz, onde encontro aquele que me parece o melhor conceito de cultura que temos na nossa tradição, e simultameamente um conjunto de dicas de como proceder à uma interpretação. O "descrição densa" é emblemático neste sentido, e está publicado no livro "A interpretação das culturas", e os ensaios publicados recentemente sob o título "Nova luz sobre a antropologia" dão mostras da vitalidade do trabalho substantivo do antropólogo.

No fim, num e-mail digno da disposição do G. Lacerda, acho que temos que empreender pesquisas substantivas e, circunscrito ao evento que isolamos, identificar de maneira objetiva quais os movimentos e interferências entre idéias e ações (ou instituições ou práticas).
Espero ter escrito algo dentro das suas expectativas.
Vamos nos falando.

Abraço

Tiago Losso
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10 de maio de 2009

O voto obrigatório como benefício coletivo

[Artemide Mercury Soffitto.
http://www.traumambiente.de]




Luiz Domingos Costa


A defesa do voto voluntário ou facultativo pode apresentar uma gama variada de argumentos. Entretanto, cabe destacar os seguintes como forma de sintetizar boa parte do corpo de idéias embutidas nesta plataforma de certos grupos e eleitores:

1. Trata-se de excessiva interferência do Estado na vida individual, já que o voto, sendo um direito de cada cidadão, deve ser abdicado por aqueles que não estejam com disposição em de exercê-lo. Não deve ser, por esta visão, uma obrigação formal perante a lei.

2. Quanto mais voluntária a decisão de votar, melhor a qualidade do voto: candidatos e partidos devem convencer os eleitores a comparecer às seções eleitorais.

3. O voto facultativo diminui o número de eleitores desinteressados, diminuindo o voto orientado pelo escárnio, repulsa ou por motivações mesquinhas (como a busca de dinheiro ou bens materiais de toda ordem).

4. A maioria dos países desenvolvidos e com democracia consolidada adotam o voto facultativo. Ou, numa versão negativa desta: regimes autoritários que forçaram o voto tiveram alto comparecimento eleitoral e nem por isto se caracterizavam como democráticos.

A ordem dos argumentos não é casual, pois entendo que a qualidade dos argumentos decresce na medida em que se avança na lista. Ou seja, o argumento mais importante é o primeiro e aquele que parece mais infeliz, o quarto e último.

Aqui me aterei apenas aos dois primeiros, por considerá-los suficientes para ensejar o raciocínio a favor do voto obrigatório no Brasil.

leia o post completo no blog do Grupo de Análise de Conjuntura Política do
Núcleo de Pesquisa
em Sociologia Política Brasileira da UFPR clicando aqui
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6 de maio de 2009

Idéias, práticas e instituições: qual a direção da causalidade?


[Modern parachute cord chair.
Yale Joel, US, March 1953. Life]



Adriano Codato

paper a ser apresentado no
XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA - ANPUH 2009.

O discurso oficial do Estado Novo inspirou a concepção e a criação das Interventorias Federais e dos Departamentos Administrativos dos estados. Esses aparelhos, e em especial os Departamentos Administrativos, foram uma manifestação eloqüente da ideologia autoritária e da sua forma de conceber e exercer a política. Por outro lado, eles são também o canal privilegiado por onde a ideologia de Estado se manifesta. Esse aspecto, que a relação linear postulada entre discurso, instituições e práticas administrativas negligencia, é inclusive mais importante para entender o sucesso do autoritarismo no Brasil. A comunicação apresenta alguns elementos empíricos para entender porque os Departamentos Administrativos podem ser, nesse contexto, o meio eficiente de integração entre as oligarquias tradicionais e as idéias do regime estadonovista.

para ler o trabalho completo, clique aqui.
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